Existem pessoas que são movidas a desafio, e nunca estão satisfeitas com algo fácil, sentindo até mesmo pavor do cotidiano.
Para estas pessoas sair da zona de conforto é obrigação todos os dias, para que assim seja possível dormir com a sensação do dever cumprido.
Como existe “gente para tudo neste mundo”, há pessoas que procuram pelos desafios extremos, levando aos limites físico e mental a ponto nunca antes atingidos (e documentado).
Este é o caso dos australianos James Castrission e Justin Jones (conhecidos como “Cas” and “Jonesy”) que decidiram cruzar o círculo antártico e voltar.
Para “apimentar” esta aventura seria toda realizada sem equipe de apoio (somente de resgate em alguns pontos).
A partir desta premissa, foi realizado o filme “Crossing the Ice”, que documenta a jornada de Cas e Jonesy para tentar estabelecer uma façanha nunca antes realizada.
Tudo corria bem durante o planejamento, cheio de confetes e ufanismo nacionalista, que cerca toda expedição a lugares inóspitos, até que o norueguês Aleks Gamme também anuncia que irá realizar o mesmo desafio.
Gamme era considerado um “exterminador” de desafios, além de possuir como ponto forte suas habilidades com o ski.
Aleks possui força física, resistência e determinação consideradas lendarias.
A partir daí começa uma corrida contra o tempo (e resistência física) para determinar quem conclui a travessia primeiro para enfim ostentar os louros de concretizar o feito.
Documentado com uma apenas uma câmera, e somente manuseada pela dupla australiana quando na Antártida, mostra detalhes de toda expedição (alguns desnecessários como furar bolhas de caminhada) “Crossing the ice” é um filme que empolga todos os lados.
Retratando as angústias, desespero, os surtos, as alegrias e tentações pelas quais passam os dois australianos, o filme flui em sua exibição.
Com um roteiro bem escrito e apoiado por uma edição, que soube dar cores dramáticas a todo o desenrolar da exibição, empolga e inspira ao espectador.
Sabendo dosar na medida certa cenas dramáticas, que se alternam com cômicas, demonstra de maneira simples e eficiente que por mais limitados que sejam os recursos de captação de imagem, uma boa história é fundamental.
E neste aspecto o filme merece destaque.
Uma outra característica da produção é a ausência de uma trilha sonora de impacto em boa parte do filme que colaborou para que a tensão do espectador subisse a níveis altos, e fosse surpreendido por um final inesperado e pouco visto.
Final este, diga-se, pouco visto em produções outdoor.
“Crossing Ice” é um filme de aventura com “A” maiúsculo com todos os elementos e, seguramente, obrigatório a quem aprecia o gênero.
O filme ainda tem o mérito de não colocar ninguém no pedestal, todos ali são humanos com defeitos, vulnerabilidades e desejos.
Nisso está o segredo e a qualidade da produção, que documenta a aventura de duas pessoas humanas.
Nota do Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.