Crítica do Filme “Cicloativistas”

cicloativistasPara quem mora em grandes metrópoles o tema a ser discutido com intensidade (e às vezes até mesmo com passionalidade) é a mobilidade urbana.

Por mobilidade urbana entenda por existir a possibilidade de fácil deslocamento entre vários pontos da cidade em tempo hábil para a realização de tarefas diversas.

A discussão de que este deslocamento seja feito de maneira fácil e prática está incluido na qualidade de vida dos cidadãos das grandes metrópoles mundiais.

Neste tema muitas teorias aparecem, e a que mais parece viável a médio prazo é a do uso de bicicletas e a construção de ciclovias.

Se é uma boa solução, ou não, não cabe aqui discutir.

Para evidenciar os problemas e sugerir soluções para o tema de mobilidade por bicicletas foi produzido por Renata Ferraz e Eliza Capai o filme “Cicloativistas”, o qual inclusive foi adquirido pelo canal educativo da rede Globo de Televisão Futura.cicloativistas

A produção procurou abordar o tema através de comparações entre cidades do Brasil e da Europa, como Amsterdam e Londres, para informar sobre abissal diferença entre países sobre as soluções sobre mobilidade urbana.

Com comparações realizadas a todo tempo, o filme procura propor um maior reconhecimento da viabilidade do uso de bicicletas à cidade de São Paulo para o aumento da mobilidade e melhora da qualidade de vida dos cidadãos.

Uma iniciativa louvavél e que merece elogios por isso.

A produção entretanto parece ter esbarrado em algumas dificuldades técnicas, além de equívocos de abordagem e explanação como manipulação dos dados e transforma-los em informação através de um estudo mais profundo do tema e se empenhou excessivamente em realizar um tom panfletário.

cicloativistas2Grande parte destas comparações com dois pesos e duas medidas (e nenhuma embasada em estudos ou estatísticas mais detalhadas),  somente são captadas declarações dos integrantes do filme.

Excessivamente preocupada em repetir discursos inflamados (com razão) de cicloativistas após mortes no trânsito, do que trazer para a discussão do tema mobilidade, a produção se perde em seu objetivo durante a exibição.

Aprofundando superficialmente o tema faz comparações entre a Cidade de São Paulo e Amsterdam sem atentar-se a fatores como proporções de tamanho, cultura, topografia, sociedade e economia.

O filme ainda não abordou de maneira devida um dado curioso: de que há mais bicicletas do que habitantes na capital holandesa.

Foram deixado de lado também temas relevantes quando citado Amsterdam problemas como o grande volume de bicicletas abandonadas na cidade (maior que os de carros abandonados em cidades como a capital paulista diga-se), ciclistas que possuem prioridade sobre o pedrestre e assim por diante.

Foi deixado de lado pontos relevantes quanto às características de mobilidade na capital holandesa como a existência de um bilhete único de transporte público válido para o país inteiro, topografia extremamente plana (que facilita o uso de bicicletas) e uma educação de trânsito não baseada somente em multas.ciclo3

A produção peca ainda por não abordar a realidade de outras capitais também “bike friendly” como Viena na Áustria, Frankfurt na Alemanha, Berlin na Alemanha, Barcelona na Espanha, entre outras existentes na Europa.

As realizadoras do filme apenas citam ciclovias de Londres sem entrar nos mesmos detalhes que entraram sobre Amsterdam e que poderiam servir de base para um maior raciocínio do espectador.

O  filme adota ainda uma postura equivocada de tratar a cidade de São Paulo como uma cidade padrão brasileira  e que TODOS (não abrindo exceção) os motoristas como monstros possuídos e desnecessariamente (e perigosamente) generalizando quem usa automóveis.

Com tom exageradamente panfletário o filme acaba por esquecer o ponto principal a que propôs no início: a importância das bicicletas para a mobilidade.

Temas relevantes como popularização das bicicletas, impostos pertencentes ao transporte público e à venda de bicicletas, engajamento de políticos para com o transporte de bicicletas e, principalmente, a educação no trânsito realizada no Brasil foram deixados de lado em detrimento do discurso panfletário e repetitivo.

Com isso o filme “Cicloativistas” demonstrou ser uma ótima ideia (o que realmente é) mas por algum motivo técnico, e até mesmo filosófico,  resultou em uma produção excessivamente preocupada em fazer panfletagem para os “cicloentusiastas” da cidade de São Paulo (e somente para ela) do que realmente  chamar a atenção sobre o tema mobilidade.

O foco insistente na disputa cotidiana em uma cidade de 10 milhões de habitantes em detrimento de uma discussão interessante, e necessária, sobre o uso da bicicleta decepcionou quem aprecia debates maduros e embasados.

Nota do blog de escalada: 

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