Crítica do Filme “Chapaless”

chapalessO que não se pode mudar em uma pessoa?

É sabido que é possível mudar o nome, a aparência e até mesmo o sotaque.

Entretanto a paixão por algo não é possivel mudar.

Quem escala vias em móvel tem uma certeza: o estilo é uma grande paixão.

Este sentimento é tão grande que pode até mesmo ser “mal interpretado” por quem está acostumado a escalar com proteções fixas.

Importante abrir  parênteses a partir deste ponto para afirmar: cada estilo de escalada tem seu charme e particularidade, dificuldade e motivação.

Nada, mas absolutamente nada, torna um estilo de escalada melhor, ou mais importante, do que o outro.chapaless2

O que desperta a paixão de um escalador esportivo, raramente despertará em um escalador tradicional ou até mesmo um de alta montanha e assim por diante.

A escalada em fendas é um tipo de escalada que requer técnica apurada e diferenciada sendo que não muitos pratcantes de escalada se dispõem a  dedicar e aperfeiçoar.

Um dos melhores locais do Brasil para a prática de escalada em fendas com proteção móvel é o Parque Nacional do Itatiaia, localizado próximo à divisa dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo.

chapaless3O parque possui uma beleza que impressiona o mais cético dos visitantes e formação de rochas que apaixona qualquer escalador.

Por isso sempre foi considerado destino obrigatório a quem procura por fendas desafiadoras para seus equipamentos móveis.

Reza a lenda (não comprovada) que por lá não há nada equipado com proteções fixas.

Partindo deste princípio, os produtores do filme “Chapaless” tentaram apresentar todas as características do local com os estilos de escalada.

Procuraram colocar na produção toda paixão que sentem pelo local e pelo estilo de escalada.

Porém esta paixão acabou por não render o potencial que o filme poderia oferecer.chapaless4

“Chapaless” gerou a mesma sensação de alguém que esperou ansiosamente , por exemplo, pela produção cinematográfica “Na estrada”, baseado no livro de Jack Keruac.

A obra de Keruac é talvez um dos maiores símbolos de toda uma geração que descobriu a paixão por viagens sem rumo para descobrir lugares e até mesmo a si mesmo.

O livro “Na Estrada” é uma obrigação a quem deseja fazer mochilão algum dia, assim como o Parque Nacional do Itatiaia também é para quem deseja praticar escalada em móvel.

Fazer um filme sobre lugares “sagrados” como Parque Nacional do Itatiaia, Serra doCipó, ou Salinas é uma grande responsabilidade.

chapaless5Por isso há de se pensar em amarrar todos pontos filmados para apresentar um filme que seja da alturas dos lugares citados.

Tarefa simples mas é fácil.

Assim como um croqui para a escalada tradicional o roteiro pode transformar um filme em passeio ou roubada.

Por isso  “Chapaless” ao longo da produção que deixou a impressão de certo descuido com o produto final.

Especialmente por aparentar forte inconsistência de roteiro.

Por esta despreocupação em se levar a sério passa a sensação de que  foi um vídeo realizado, e editado, às pressas para pessoas de um determinado círculo de amizades.

Todas com  conhecimento prévio de tudo aquilo documentado em sua exibição.chapaless6

Com isso, logo de início um expectador que não tem  intimidade ,seja com o lugar, seja com os escaladores, fica a se perguntar “quem é quem”.

Alguém que não acompanha de perto a vida de cada personagem que não foi apresentado questionaria qual seria a motivação para estar aí.

Praticamente todos as pessoas documentadas no filme não são apresentados, em algumas partes sequer tem seus nomes citados.

Em um dos pontos mais interessantes o qual aborda sobre métodos de treinamento em fendas não houve preocupação em detalhar sobre a motivação daquilo, ou seja, se era para uma determinada via, ou se era algo corriqueiro.

chapaless7Durante a exibição ficou evidente também a predileção do autor pelo gênero de musica reagge, entretanto o ritmo de algumas músicas deixou novamente a impressão de descuido em harmonizar com imagens.

Esta desarmonia teve o efeito de desconforto a quem assistia às cenas de escalada, causando sensação de algo não estava combinando.

Mesmo com ótimas imagens captadas na escalada, a edição descompromissada a partir da metade dos 22 minutos do filme começa a se tornar lento não prendendo a atenção do espectador.

A captação de som nos diálogos também foi outro “tropeço” que apresentou narrações recheadas de ruídos e sons ambientes que tornaram inaudível alguns diálogos.

Tivesse uma abordagem um pouco mais preocupada em contar uma história, “Chapaless” seria um filme para se aplaudir de pé.

Infelizmente não é o que acontece.

Mesmo com imagens belíssimas, e ângulos criativos, o resultado final ficou devendo a um local com grande potencial de histórias a serem contadas.

Nota do Blog de Escalada:

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