Por despertar muito interesse de todo o tipo de público, expedições a lugares inóspitos são uma boa motivação para a realização de um filme.
Apostando neste tipo de proposta o produtor Alaister Lee idealizou a produção “Autana” e convidou dois escaladores experientes neste tipo de “roubada”: Leo Holding e Sean Leary.
O filme é , em linhas gerais, muito bem realizado tecnicamente e retrata desde a ansiedade dos participantes da expedição até a tentativa de realizar do objetivo que é escalar o Cerro Autana na Venezuela.
“Autana” entretanto derrapa, e muito, na tentativa de transformar um filme outdoor em artístico adicinando elementos que desarmonizam ao longo de sua exibição.
O Cerro Autana é um Tepui venezuelano que foi declarado monumento natural do país em 1978.
Mostrando nos mínimos detalhes todos os detalhes da viagem dos aventureiros, o filme passa a impressão de lentidão, dada a preocupação com cada detalhe de cada local e integrante do filme.
Porém a partir de certo instante, com crueza de detalhes, começam a aparecer os imprevistos de uma típica expedição: trilhas sob floresta densa, nuvens de mosquitos na cabeça de todos, calor e umidade fortes e impiedosos e “pequenos” machucados.
As aspas se justificam por conta de uma bicheira adquirida por Holding e que foi se agravando no decorrer de toda a trilha de aproximação ao Tepuy.
No desejo de mostrar o quão difícil é uma expedição, praticamente 2/3 do filme passa sem que o objetivo principal seja a escalada em si.
Porém esta escolha parece agradar mais a quem deseja ver mais detalhes de como é inóspito um lugar como este do que quem espera ver algo de escalada.
Para a escalada, fica reservado mais “surpresas” aos personagens como: chuva, pedras caindo, animais peçonhentos na parede além da natural dificuldade da escalada.
Tudo isso com destaque pequeno.
Fosse apenas pontuado com as imagens da escalada, timelapses do céu estrelado e conversas que lembram levemente diálogos de filmes de Tarantino, o filme poderia ser considerado excelente: sua edição, e fotografia são primorosas.
Porém, por um motivo não explicado durante todo o filme, a inserção de efeitos especiais 3D semelhantes aos videoclipes de Peter Gabriel na década de 80 parece destoar da qualidade técnica do filme.
Momentos em que a tensão de imagens prendia a atenção do público são quebrados por efeitos especiais e músicas que são a antítese de filmes de aventura.
Além de efeitos especiais e animações gráficas bizarras, o objetivo principal que era a escalada em si, teve pouco destaque, assim como não houve descritivo da viagem de volta à civilização.
Por ter investido tanto nos detalhes de ida dos integrantes, era natural esperar que fosse mostrada a volta dos mesmos.
Com esta decisão a sensação de que não houve um final, ou mesmo uma conclusão satisfatória, é grande.
O filme “Autana” apesar de grandes qualidades técnicas decepciona em que deveria ser seu principal atrativo, que era mostrar uma escalada nos Tepuys venezuelanos.
A produção pecou por não cuidar com esmero seu roteiro como teve em sua captação de imagem e fotografia.
Nota do Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.