Eu fui convidado a lecionar clinicas na Austrália, para um festival, alguns anos atrás. Um colega escalador americano, Timmy O’Neill, também foi convidado para dar uma palestra.
Nós dois estávamos lá porque “trabalhávamos com o que amamos”: a escalada. Timmy me disse que estávamos “vivendo o sonho”.
Eu me perguntei: “estou vivendo o sonho? ” Estava fazendo o que eu amava: escalar e ensinar treinamento mental. Porém, ainda me sentia ansioso e não estava em paz. Me parecia que “viver o sonho” seria mais agradavel e pacífico.
Se estamos infelizes e ansiosos, então “fazer o que amamos” não é muito melhor do que trabalhar com outra coisa. Percebi que “viver o sonho” tem mais a ver com “amar o que fazemos” do que com “fazer o que amamos”.
“Fazer o que amamos” não se refere ao processamento do estresse. Ele nos coloca em situações de trabalho que preferimos, mas isso é tudo. “Amar o que fazemos” foca nossa atenção no momento presente para que o estresse consiga ser processado.
Relaxamos no estresse porque amamos o “fazer” por si só. Isso torna cada momento mais proveitoso.
Eu me sentia ansioso e sem paz porque eu era vítima da tendência da mente de buscar conforto. Estava me apressando de uma zona de conforto para outra. Percebi que eu fazia o mesmo em minha escalada. Eu ficava tenso e meus movimentos se tornavam rígidos, quando eu escalava as partes mais difíceis.
É impressionante como a escalada é um reflexo verdadeiro de como agimos no resto de nossas vidas. Uma vez que eu percebi minha tendência de “apressar no estresse” na escalada, eu comecei a observá-la em minha vida. Por exemplo, quando volto de uma turnê de clinicas, há muito trabalho a ser feito. Há trabalho que eu não consegui fazer enquanto estava fora, mais o trabalho para resumir e analisar a turnê.
Com todo esse trabalho – estresse – eu me sinto ansioso até o trabalho estar terminado.
Perceber essas tendências de me apressar e ficar ansioso desenvolve a consciência. A seguir, tomamos ações deliberadas para ir além dessas tendências. Na escalada, focamos em relaxar e respirar enquanto escalamos as partes mais difíceis.
Na vida, focamos em uma tarefa de cada vez. Se estamos tomando café da manhã, então focamos em fazer apenas aquilo. Se estamos priorizando nossa lista de “tarefas”, então fazemos apenas isso. Na escalada e na vida, devemos perceber a mente querendo se apressar para acabar com o estresse. E então respiramos, relaxamos e focamos em aproveitar a tarefa atual.
A maioria de nós não está “fazendo o que ama”. E aqueles que estão, ainda fazem bastante trabalho que não é agradavel. “Viver o sonho” significa que queremos experimentar o estresse.
Queremos estar lá, no meio dele. Isso aponta na direção de um processo, um de “amar o que fazemos”. Se nós “amamos o que fazemos”, então o fazer por si só, não importa qual seja nosso emprego, se torna mais agradavel e nos completa mais.
“Viver o sonho” significa que estamos vivendo mais completamente no momento presente. Estamos presentes para nossas vidas independente das circunstâncias, sejam elas prazerosas e agradaveis, ou difíceis e desafiadoras. Esse sonho não precisa esperar que estejamos “fazendo o que amamos”.
É aqui, agora, fazendo o que quer que seja que constitui o momento presente.
Dica prática: Centre-se
Você experimentará bastante estresse na escalada e na vida. Perceba sua tendência de escapar o estresse ao apressar-se por ele. Então, centre-se.
Respire fundo, exale com força, e relaxe. Então, identifique a tarefa atual. Foque nela.
Diga para si mesmo: “Aproveite este momento”.
O livro “The Rock Warrior Way – Mental Training for Climbing” está à venda traduzido para a língua portuguesa no Brasil em: http://www.companhiadaescalada.com.br/
Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso
Arno Ilgner distinguiu-se como um escalador pioneiro nos anos 1970 e 80, quando as principais ascenções foram as primeiras fortes e perigosas. Essas façanhas pessoais são a base para Ilgner desenvolver o programa de treinamento físico e mental – Rock Warrior Way ®. Em 1995, após uma pesquisa aprofundada da literatura e prática de treinamento mental e as grandes tradições guerreiras, Ilgner formalizado seus métodos, fundou o Instituto Desiderata, e começou a ensinar seu programa de tempo integral. Desde então, ele tem ajudado centenas de estudantes aguçar a sua consciência, o foco de atenção, e entender seus desafios de atletismo (e de vida) dentro de uma filosofia coerente, baseada em aprendizado de tomada de risco inteligente. Ilgner considera a alegria e satisfação no esforço – a “viagem” – intimamente ligada à realização bem sucedida das metas.