O formato dos Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020, desde que foi anunciado, gerou bastante discussão e polêmica desde o anúncio. Não faltaram críticas ao “formato olímpico”, que congratula o vencedor com os melhores resultados em três disciplinas: velocidade, boulder e via guiada. A pontuação é obtida através de uma média ponderada dos resultados. Tradicionalmente, os escaladores se dedicam às modalidades que possuem maior afinidade. Por isso, ao longo dos anos, atletas se dedicaram a treinarem somente para cada disciplina: velocidade, boulder e vias guiadas.
A obrigatoriedade de fazer com que atletas especialistas em somente uma disciplina em competir nas três, desagradou grande parte da comunidade de atletas. No campeonato Pan-americano realizado em novembro último, deixou evidente que muitos atletas dos EUA e Canadá, considerados dos mais fortes do continente, renunciaram a uma das disciplinas, fazendo que com o ranqueamento de pontuação de todas as disciplinas ficasse incompleto. No final da semana passada, a atleta norte-americana Alex Puccio, uma das maiores vencedoras em torneios de seu país na disciplina de boulder, anunciou que estava desistindo de participar das olimpíadas.
Estando totalmente focada em treino em academias nos últimos tempos, o que fez com que tivesse pouco tempo para escalada em rocha, a norte-americana concluiu que teria de voltar à estaca zero para conseguir competir em alto nível. Por este motivo, acabou não competindo nas competições nacionais. A competição é considerada o primeiro passo, e dos mais importantes, para todo e qualquer atleta que queira participar das olimpíadas.
Em seu anúncio, feito através de uma rede social, explicou os motivos de sua desistência, deixando o time norte-americano desfalcado de uma de suas maiores estrelas. Leia abaixo a carta aberta ao público de Alex Puccio.
Ao longo dos últimos 5 a 6 meses, eu tenho constantemente pensando sobre a direção que eu quero tomar na minha carreira de escaladora onde o meu coração de verdade vive. A decisão que eu tomei é não tentar ir para as Olimpíadas. Mentalmente está seno muito difícil para mim, com idas e vindas nos meus pensamentos. De primeira eu disse “SIM, eu quero tentar!”, MAS depois um tempo, senti que talvez não queria percorrer este caminho.
Comecei a perceber que queria ir para as Olimpíadas porque parecia bem legal e eu sempre estava competindo, então deveria tentar. Mas então comecei a escutar o meu coração e mente um pouco mais e percebi que não queria treinar para velocidade e vias guiadas. Eu ainda amo competir, MAS eu também AMO escalar na rocha! Eu verdadeiramente acredito que se eu tentasse ir para as Olimpíadas, começando agora eu não poderia ir escalar mais na rocha este ano. Talvez alguns dias aqui ou ali. Se você se classificar para a Equipe Olímpica, seria pelo menos 6 meses dedicado a isso. Isso é porque você deve treinar até cansar as três disciplinas.
Se o formato olímpico fosse para disciplinas individuais, eu então adoraria tentar!
Eu acredito fortemente que a principal razão que tomei com uma longa carreira de competições, é porque nos últimos 4 anos, eu prioritariamente escalei na rocha. Algumas semanas antes de uma competição eu ia a um ginásio para praticar alguns movimentos típicos de competições. Funcionou para mim fisicamente e, mais importante, PSICOLOGICAMENTE! :) Eu tenho 30 anos e não me sinto bem tendo de treinar outra disciplina, que é a velocidade, e desistir do meu AMOR pela escalada na rocha por muito tempo.
Claro que alguém me presentear com um ingresso para assistir às olimpíadas iria AMAR ir e me divertiria muito. Aposto que sim. Mas não é assim que funciona.
Ainda que pareça fantástico ir, honestamente não gostaria ou aproveitaria o processo de treinamento para chegar lá. Talvez se a escalada continuar na Olimpíada, com disciplinas individuais, eu vá tentar! Eu tenho certeza que não é apenas por medo de falhar. Isto é MUITO importante para mim!
Eu continuarei o que eu tenho feito e amado: rocha e competições!
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.