Escalada e cerveja artesanal – Quem são os montanhistas que estão investindo no mercado

O ato de escalar uma via longa, ou até mesmo realizar uma travessia fisicamente sacrificante, parece pedir uma boa cerveja que brinde todo o esforço realizado.

Cenas com várias pessoas que acabaram de sair do mato sentadas em uma mesa de bar erguendo copos americanos com o líquido dourado é muito mais comum do que se pensa.

Um dos rituais mais comuns que acontece ao final de cada dia de escalada, não importando a modalidade (boulder, esportiva, tradicional …), ou de trekking é a reunião de todos em algum lugar para apreciar uma cerveja.

Paralelamente a este ritual, é perceptível que no Brasil está havendo um crescente interesse de cada pessoa em produzir a própria cerveja, e estes interessados procuraram criar estilos e marcas diferenciados e que resgatam antigas receitas.

Foto: http://www.brewtrail.com/

Foto: http://www.brewtrail.com/

Nomes de estilos antes desconhecidos do público como APA, IPA , ALE, Pilsner e Lager hoje já são muito mais populares do que a alguns anos, sendo até mesmo comum discussões a respeito de qual é o melhor paladar e o porque.

Mas uma coisa é importante ser avisada : produzir cerveja é uma atividade trabalhosa, e é necessário registrar o seu produto no Ministério da Agricultura (por conta de ser bebida) para ser comercializado além de requerer muitos trâmites e requisitos burocráticos.

Por isso há grande diferença entre cerveja artesanal e uma cerveja caseira, pois a primeira para ser vendida há uma pesada carga de impostos.

Por isso apesar de ser uma atividade que possa ser realizada por poucas pessoas, não é qualquer um que está habilitado a vendê-la.

É recomendavel que quem estiver interessado em tornar-se cervejeiro realize um curso sobre o assunto, e que se associe a alguém que possua um mínimo de conhecimento com o negócio.

Produzir, e vender, cervejas vai muito além do que preencher planilhas e ter contatos para distribuição.

O interesse dos escaladores

Ainda não existe uma definição exata dos motivos que fizeram crescer exponencialmente o interesse em cervejas artesanais no Brasil, assim como nos lugares especializados que as vendem.

Foto: Allisson Ismael

Foto: Allisson Ismael

O que se sabe com certeza é que com o crescente interesse das pessoas por fabricar uma cerveja “para chamar de sua”, novas possibilidades de negócio também se abriram, tanto para quem desejava produzir sua própria cerveja, quanto para quem queria um estabelecimento que comercializasse um produto diferenciado.

Não demorou muito para a febre também contagiar a comunidade de escaladores e montanhistas que mergulharam de cabeça na onda de cervejas artesanais.

Seja para produzir, seja para comercializar junto com comidas gourmet.

Como não poderia deixar de ser, cada produtor montanhista de cerveja procurou dar uma identidade diferenciada tanto a rótulos, quanto aos nomes de seus produtos como lugares icônicos como a Pedra do Baú, Serra do Cipó, Dedo de Deus, Três Picos, entre muitos outros.

Alguns anunciam como diferencial o uso da água do local, o que cria uma identidade própria com o produto final e o público.

Rio de Janeiro

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Um dos pioneiros neste tipo de atividade entre os escaladores, o carioca Sergio Tartari possui a sua cerveja”Três Picos” , uma linha que inclui os estilos Weiss, Stout e Red Ale.

A sua distribuição é feita em pequena escala, por isso não é encontrada em supermercados ou bistrôs especializados em cervejas artesanais fora da região de Nova Friburgo-RJ, onde Tartari a produz.

Para quem fica em seu refúgio de montanha tem a oportunidade ainda de consumir o produto com preço diferenciado, além de poder desfrutar histórias de Tartari.

Para saber mais: http://refugiodasaguas.blogspot.com.br/

São Paulo

Inspirado por uma ideia de sua esposa, o renomado escalador Eliseu Frechou resolveu também apostar na produção de cervejas.

A ideia de realizar o negócio já existia em sua cabeça, especialmente depois de suas escaladas nos EUA quando viu a quantidade de “microbreweries” (micro cervejarias artesanais americanas) existentes por lá.

Junto com a esposa Ana Fujita realizaram um planejamento minucioso que passou desde o design do rótulo, escolha dos estilos até a distribuição na região do produto final.

Foto: Acervo Pessoal Eliseu Frechou

Foto: Acervo Pessoal Eliseu Frechou

Eliseu, entretanto, quando fala do assunto aproveita para alertar que produzir o produto não é simples, e que possui uma pesada carga de impostos, além de uma boa dose burocracia para que obtenha uma licença para a venda pelo Ministério da Agricultura.

Dificuldade esta que não intimidou o veterano escalador que criou seu produto batizado de “Bauzera” o qual possui os estilos Witbier, Blonde Ale, Red Ale e Black IPA.

Todos estes estilos podem ser saboreados em seu próprio Bar todo estilizado com a marca, onde também funciona um refúgio de montanhistas. O local rapidamente se transformou no lugar referência entre os montanhistas que frequentam a cidade de São Bento do Sapucaí-SP.

Sua distribuição é feita na região de São Bento do Sapucaí-SP, Campos do Jordão-SP e Gonçalves-MG.

Para saber mais: http://www.bauzera.com.br/

Foto: Acervo Pessoal Eliseu Frechou

Foto: Acervo Pessoal Eliseu Frechou

Espírito Santo

Desde os tempos de escoteirismo tradicional, no qual esteve em muitas montanhas, o produtor Pedro Busato sempre teve um interesse maior por vinhos, quando visitou um produtor de cervejas artesanais para conhecer o processo.

A partir daí começou um processo intensivo de reunir informações até fazer um curso prático sobre produção de cerveja.

Foto: Acervo Pessoal

Foto: Acervo Pessoal Pedro Busato

Mesmo tendo se deparado com o preço salgado dos equipamentos, além de falta de experiência com fornecedores, não se intimidou e seguiu em frente.

Aproveitando barris de chopp usados para inicialmente confeccionar as primeiras cervejas nasceu a cerveja artesanal “Leopoldina”, uma marca conhecida no universo cervejeiro capixaba que faz a alegria de muitos escaladores, incluindo sua filha, a farmacêutica Maria Julia Busato.

Pedro Busato entretanto não se contentou em ter apenas uma marca de cerveja, e aproveitou a oportunidade de colocar a Pousada Suíça, de sua propriedade, para também ministrar periodicamente cursos de produção de cerveja artesanal.

Dentre os estilos produzidos em sua fábrica estão os American Pale Ale, Stout, Witbier e recentemente lançou Lager.

Para saber mais: http://pousadasuica.com.br/

Foto: Acervo Pessoal Pedro Busato

Foto: Acervo Pessoal Pedro Busato

Minas Gerais

A Serra do Cipó-MG experimentou um forte processo de urbanização nos últimos 5 anos, que transformou totalmente a sua maneira de ser.

O local é considerado o Maracanã dos escaladores em rocha brasileiros, além de atrair um bom público interessado em turismo ecológico e atividades de natureza.

O casal de escaladores Débora David Nasciutti e Allisson Ismael após uma visita de amigos, os quais tinham um comércio de cervejas artesanais na cidade de Uberlândia-MG, o Sexta Ceva, e vislumbraram a oportunidade de negócio que existia no lugar vendendo o produto.

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Com a ajuda, e parte do investimento, do amigo uberlandense, criaram o bar especializado em cervejas artesanais  “Artesanato da Cerveja” na Serra do Cipó-MG, sendo logo transformado em ícone do lugar.

Contando com o projeto de design visual de Peruzzo, o local chama a atenção pelo bom gosto e pelo ambiente aconchegante que os proprietários procuram dar ao estabelecimento para receber tanto turistas quanto os moradores locais.

Nasciutti e Ismael contam que uma das dificuldades que tiveram foi mudar hábito das pessoas locais, pois como é um lugar turístico, o movimento oscila muito, além de procurar vencer o preconceito existente  com os preços dos produtos, mais elevados do que as marcas comerciais.

Hoje o bar possui aproximadamente 100 rótulos à disposição dos clientes estilos como Pilsner, Weiss, Pale Ale, Bock, Red Ale, Brown Ale, IPA, Imperial IPA, APA, India Black Ale, Stout, Dubbel, Tripel, Quadrupel entre outras.

Para saber mais: https://www.facebook.com

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Foto: Allisson Ismael

Futuras marcas

Vislumbrando também a oportunidade de produzir uma cerveja com forte identidade com a Serra do Cipó-MG e região, o escalador Ricardo Maia, conhecido popularmente como Magrão, está prestes a conseguir lançar seu produto no mercado.

O desejo que nasceu após visita a amigos em Santa Catarina, voltou animado com a ideia e logo procurou um espaço adequado para a produção.

Ainda em fase de ajustes de estilo , e uniformidade, Maia tem ajuda de dois escaladores de Santa Catarina: os irmãos Kienen .

O desejo de Ricardo Maia é poder consolidar a marca na região da Serra do Cipó-MG, além de ter uma atrativo a mais para seu Refúgio de escaladores.

Magrão prefere não divulgar o nome da marca, nem a sua estratégia de marketing, na qual sua esposa já trabalhou no design do rótulo do produto.

Os estilos que irão ser comercializados são Pale Ale e Red Ale.

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