Escalada do Nevado Raria na Cordilheira Blanca – Peru

O Nevado Raria (5576 m) é uma montanha quase desconhecida e pouco frequentada da Cordilheira Blanca, nos Andes peruanos. Foi escalado pela primeira vez em 1963 pelo italiano radicado no Brasil Domingos Giobbi, junto com os peruanos M. Ángeles e D. Solano. Giobbi foi o fundador do CAP – Clube Alpino Paulista, tendo realizado diversas expedições para a Cordilheira Blanca na década de 1960.

Muitos cumes da porção sul dessa cordilheira tiveram sua primeira ascensão nas expedições organizadas por Giobbi, o que constitui o maior envolvimento do montanhismo brasileiro de alta montanha na modalidade que chamamos de “montanhismo de exploração” (realização de primeiras ascensões e abertura de novas rotas em áreas de montanha pouco exploradas).

Foto: Acervo pessoal Marcelo Delvaux

Em julho desse ano eu e minha companheira, a guia argentina Julieta Ferreri, chegamos na Cordilheira Blanca com a intenção de percorrer e explorar suas áreas menos visitadas. Em uma consulta nas imagens do Google Earth nos chamou a atenção uma imponente montanha no sul da cordilheira, com grandes glaciares destacando-se entre as demais montanhas dessa zona: era o Nevado Raria. Em Huaraz não conseguimos nenhuma informação sobre a montanha, nenhum guia a conhecia ou sabia de alguém que já a havia subido e pudesse dar algum detalhe sobre suas rotas.

Perfeito! Munidos das poucas referências existentes no guia de John Biggar, The Andes: a guide for climbers, escolhemos entrar pela Quebrada Huayllaco, a mesma utilizada por Domingos Giobbi na expedição que realizou a primeira ascensão.

Foto: Acervo pessoal Marcelo Delvaux

Seguimos a mesma rota de Giobbi, que sobe pelo glaciar até o colo que separa o Nevado Huayllaco do Raria Sur. É uma rota extremamente longa, tendo sido aberta pelo grupo de Giobbi utilizando-se um acampamento avançado a 5150 m.

Nós optamos por partir diretamente do acampamento base, na laguna Verdecocha (4650 m). Foram mais de 17 horas de labuta, ida e volta da base ao cume! Depois de se chegar ao colo entre o Nevado Huayllaco e o Raria Sur (cume secundário), é preciso descer até outro colo, entre o Raria Sur e o Raria Norte (cume principal), para então superar mais de 400 m de desnível até o ponto mais alto do maciço, em meio a uma neve profunda e gretas ocultas.

Foto: Acervo pessoal Marcelo Delvaux

Provavelmente, faz tempo que ninguém fazia cume por lá. Segundo os moradores que vivem na entrada da Quebrada Huayllaco, a última lembrança que têm de alguém subindo por essa quebrada remonta a 2003!

É surpreendente como algumas montanhas que combinam beleza cênica e rotas de qualidade são, simplesmente, esquecidas, enquanto outros locais da Cordilheira Blanca estão abarrotados de escaladores e caminhantes, como nas quebradas Ishinca, Llanganuco e Santa Cruz. Estaria faltando “espírito de exploração” nas novas gerações de montanhistas?

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