Muitos escaladores sonham em ir morar em um lugar que seja o paraíso da escalada.
Destinos não faltam: Bariloche ou Mendoza na Argentina, Rodellar ou Siurana na Espanha, Kalymnos na Grécia e assim por diante.
Morar no exterior não é uma tarefa nem simples, muito menos fácil.
O curitibano Ricardo Schen, que já foi um dos principais Route Setters do Brasil, resolveu arriscar viver na Espanha para escalar mais e melhor.
Para saber mais de como é viver e escalar em outro país a Revista Blog de Escalada procurou Ricardo Schen para uma entrevista, na qual pôde falar sobre como vê a escalada brasileira desde longe.
Schen, após tanto tempo morando na Espanha, você sente falta do Brasil? Por que?
Sim, muito… Sinto muita falta da família e dos amigos. Apesar de estar aqui a 7 anos, ainda não me acostumei com a cultura.
Aqui é difícil de juntar uma galera e sair de trip.
Aqui normalmente você escala com o seu parceiro e se aparece um terceiro o cara já acha ruim porque em 3 demora muito…
Mais na verdade o que eu mais sinto falta é o doce de leite do cipó… hehehe…
Durante muito tempo você se dedicou a ser route setter no Brasil. Porque decidiu parar com a atividade?
O que parou foram as competições de escalada no Brasil.
O primeiro campeonato que participei como atleta foi em Taquara no RS em 1993.
Não me lembro muito bem, mas acredito ter uns 50 atletas no mínimo.
De 1993 ate 2001 participei de mais o menos uns 40 campeonatos,e me lembro muito bem de um brasileiro na Casa de Pedra com mais de 80 atletas.
Como route setter comecei em 1995 com um campeonato gaúcho em Porto Alegre.
De 1995 ate 2007 trabalhei como route setter em 59 campeonatos por todo o Brasil.
Vou resumir rápido umas anotações que eu tenho.
Em 2000 trabalhei em 7 campeonatos, 2001 – 9, 2002 – 9, 2003 – 10, 2004 – 9, 2005 – 6, 2006 – 5, 2007 – 1.
Foram 56 campeonatos em 7 anos.
Nos últimos 7 anos não tenho ideia de quantos campeonatos tiveram mas acho que não chega nem perto desse número.
Após muito tempo, as competições de escalada voltaram a acontecer no Brasil. Qual a sua opinião a respeito das competições de escalada?
Fico muito feliz de ver que voltaram as competições no Brasil.
Acho fundamental para o crescimento do esporte.
As marcas de escalada e as academias deviam se preocupar muito mais no meu ponto de vista.
Uma competição bem organizada e com bons prêmios podem fazer com que os escaladores se motivem muito mais em treinar nas academias e consumir material técnico.
Triste é ver que com tão poucas academias no Brasil com estrutura para realizar um ranking brasileiro, algumas não querem participar argumentando que “não ganham nada”.
Mas na verdade se uma academia não fomenta o mercado que futuro ela pode ter?
Para a técnica e força na escalada, morar na Espanha fez diferença?
Morar na Espanha ajuda muito para a evolução na escalada sem duvida, a quantidade de setores e números de vias são muito maiores que em muitos países.
O que faz a diferença é treinar e viajar muito para escalar.
Se fosse para você apontar quais as principais diferenças entre os escaladores espanhóis e brasileiros, quais você destacaria?
O fanatismo espanhol seria a principal diferença.
Para escaladores espanhóis o fato de ter tanta rocha em tão poucos quilômetros e muito mais fácil manter a motivação e seguir escalando por muitos anos.
Aqui é normal cruzar com escaladores que escalam a mais de 40 anos e estão mais motivados que nunca.
No Brasil as distâncias entre setores faz isso ficar mais difícil.
Muito se fala que os escaladores são unidos. Você concorda com esta afirmação? Por que?
Concordo um pouco.
O que eu acho que falta no Brasil e organização.
Com a quantidade de escaladores que existe hoje no Brasil é difícil de entender como ainda não existe uma entidade capaz de unir todas as associações e usar essa força em conjunto.
Não tenho ideia de quanto custa estar filiado a uma associação, mas sei que uma única associação de um estado no Brasil tem entre 60 a 80 sócios.
Se multiplicamos por todas as outras associações do Brasil poderia chegar a um numero bem alto de escaladores que em conjunto com as empresas poderiam organizar um ranking brasileiro com mais etapas e muito mais retorno para o próprio escalador.
Na escalada , especialmente no Brasil, a questão do patrocínio é muito delicada. Na sua opinião porque há tão poucos escaladores e montanhistas patrocinados no Brasil?
Acredito que pela falta de mercado, as marcas não vendem tanto a ponto de patrocinar muita gente.
Também não vejo que se preocupam muito em aumentar o número de praticantes.
Muitos atletas ainda confundem na escalada patrocínio com apoio. Porque você acha que ainda acontece isso?
Mesma coisa da pergunta de antes.
Sem mercado, fica muito mais fácil dar um apoio que patrocinar um atleta de verdade.
Só acho bem difícil que com uma sapatilha , uma camiseta e uma bermuda por ano, um atleta consiga se manter motivado por todo ano e assim conseguir bons resultados tento um retorno para a empresa e ele mesmo.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.