Muito recentemente cresceu o interesse em mostrar como é a vida dos Sherpas e dos carregadores nepaleses e afegãos que trabalham junto aos montanhistas que tentam chegar ao cume do K2 e Everest.
Estas pessoas incógnitas que trabalham por quantia irrisória, e que realizam um trabalho que beira a escravidão, estão tendo suas realidades documentadas por produtores interessados em mostrar esta realidade.
Uma realidade que, diga-se, é sempre escondida de maneira canalha tanto por agências quanto por veículos de comunicação sem integridade.
O volume de mentiras checou ao cúmulo de até mesmo listagem de fatos mentirosos sobre estas pessoas que circularam na internet composta exatamente por quem não tem caráter e não sabe o significado da palavra dignidade e respeito.
Sem se intimidar com o que poderia fazer a banda podre que explora o turismo do Everest, a australiana Jennifer Peedom voltou as suas lentes para o sofrido povo Sherpa, e documentou com cores reais a sua realidade.
Seu filme “Sherpa – Trouble in Everest” vem sendo aclamado pela crítica e público, mostrando uma realidade que não era dita por ninguém até então.
Procurando mostrar compromisso com a dignidade humana, nós da Revista Blog de Escalada procuramos a produtora Jennifer Peedom para que pudesse falar sobre seu filme, e como foi toda a produção.
Mesmo atarefada com viagens a Londres e compromissos profissionais, Peedom nos brindou com palavras de sabedoria, simpatia e inteligência.
Foto no topo: http://www.jenpeedom.com/
Jennifer, seu filme “Sherpa – Trouble in Everest” mostrou uma visão diferente a respeito dos Sherpas. Você sofreu alguma pressão para realiza-lo? Se sofreu quem de quem foi?
Não, mas houve momentos depois da avalanche que questionamos se era certo ou errado continuar, mas nunca tivemos pressões para realiza-lo.
Algumas pessoas dizem que os Sherpas não são explorados no Everest. Você concorda com esta informação? Por que?
Eu nunca uso a palavra “exploração” quando se trata dos Sherpas com os quais eu trabalhei neste filme, mas eu sinto que os ombros dos Sherpas compartilham de um risco desproporcional levando estrangeiros para o cume e trazê-los de volta.
Eu tenho consciência que algumas situações onde explorações ocorrem, mas não com a expedição que eu trabalhei para realizar este filme.
Seu filme vem recebendo muitos elogios e premiações. Você acredita que as pessoas estão mais preocupadas com a maneira que os Sherpas são tratados no Everest?
Eu acho que uma das razões que as pessoas estão respondendo ao filme, é porque mostra um lado do Everest que nunca foi mostrado antes.
Toma uma perspectiva diferente.
Desde muito tempo os Sherpas foram cortados de filmes sobre o Everest (ou eliminados da história completamente), dado que não servia para a narrativa mostrar que alguém mais fez todo o trabalho pesado.
O Everest é uma metáfora para grandes obstáculos na vida, e talvez as pessoas sentem que enfraqueceria a conquista mostrar que alguém mais está carregando uma grande porção do risco e trabalhando para eles terem uma escalada bem sucedida.
Dizendo isso, há muitas pessoas que escalam o Everest e que demonstram grande apreciação aos time de Sherpas os quais os ajudam a escalar.
Eu acredito que outra razão para as pessoas gostarem do meu filme , é que se vê bem e escuta bem.
Isto porque o time de cinegrafistas (incluindo dois Sherpas cameraman) que tivemos em nossa equipe além do nosso grande diretor de som.
Tratamos o filme como uma grande produção de diversas maneiras, em vez de ser um simples documentário, portanto os valores da produção, incluindo edição e musica, são muito cinematográficos.
Na sua opinião, se alguém deseja ajudar a mudar a realidade dos Sherpas, o que ela realmente tem de fazer?
Eu acho que a melhor coisa que as pessoas possam fazer para mudar a realidade dos Sherpas é se informar.
Conhecer o time Sherpa. Visitar suas famílias, e manter contato após a expedição.
Perguntar sobre as dificuldades para o operador da expedição, como por exemplo remunerações, pesos, seguros para o time Sherpa.
Procurar saber como é tratado seu time de Sherpa é uma preocupação para você, e é sua decisão de qual operadora você vai escolher.
O governo do Nepal está tomado algumas ações para mudar a maneira que o Everest é escalada. Qual a sua opinião a respeito disso?
Eu acredito que qualquer coisa que fizer o Everest mais seguro para trabalhadores em alta altitude é importante.
Mas só acreditarei vendo, porque acho que colocando restrições sobre “exibicionistas” e escaladores inexperientes é uma coisa boa.
Após realizar o filme “Sherpa”, o que mudou dentro Jen Peedom?
Eu fiquei emocionada e inspirada pela resposta dos Sherpas com o filme.
Foi muito recompensador ter o seu apoio.
Eu aprendi muito fazendo este filme, e sinto-me agradecida pela oportunidade de colaborar com tanta gente talentosa e por conhecer a comunidade Sherpa de uma maneira profunda e mais significativa.
Seu filme foi praticamente somente exibido em Festivais. Mas praticamente não foi exibido na América do Sul. Quando o público do Brasil, e sul-americano, podem assistir a “Sherpa”?
Infelizmente a América do Sul terá de esperar até que o canal Discovery Channel international transmita em 16 de abril de 2016.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
[…] como “Sherpa” (2014) e “Mountain” (2017), ambas da diretora australiana Jennifer Peedom, são dois claros exemplos deste impacto e ampliação do público. Cada vez mais o gênero deixa […]