Entrevista com Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Ainda desconhecido de grande parte do público brasileiro, a escalada em Portugal possui muitas opções interessantes para quem procura fugir dos lugares comuns anunciados a todo tempo em sites e revistas.

Igualmente interessantes são os escaladores, e escaladoras, que fazem parte da cultura, história e cotidiano do esporte no país luso.

Uma destas figuras incríveis é a portuguesa Isabel Boavida.

Embora esteja afastada das escaladas no momento, ainda nutre grande paixão por suas histórias de um passado recente e possui uma inteligência e maturidades singulares.

Isabel Boavida é uma pessoa tão interessante, que facilmente passa-se várias horas do dia conversando com ela sem ver o tempo passar.

Isabel durante muito tempo você se dedicou à competições de escalada. O que levou você a se afastar deste estilo de vida?

 Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Sim, dediquei bastantes anos à competição. Nessa altura tinha muito mais tempo para me dedicar à escalada e podia treinar a sério e estar em forma.

Além disso, as competições em Portugal eram muito renhidas, as vias e os blocos muito bons e também era sempre um momento para encontrar os amigos e passar um bom momento.

Guardo muito boas recordações desse tempo, em que o coração palpita mais e com os nervos à flor da pele temos de dar o nosso melhor. Mas depois de tantos anos a competir comecei a ficar cansada da rotina.

Depois é muito desgastante e supõe muitos sacrifícios treinar a sério para estarmos sempre no topo de forma.

Cheguei a um ponto na minha vida em que queria fazer outras coisas e perdi a motivação para competir.

Hoje você se dedica a outros esportes. Qual é a sua relação com eles?

Uma das razões pelas quais eu me apaixonei pela escalada foi precisamente por ser um desporto ao ar livre em comunhão com a natureza e por isso, aos poucos, fui dedicando o meu tempo não só à escalada clássica e de vias de largos mas também a outros desportos que tivessem não só o lado físico mas também essa relação com a natureza.

Vivendo em Lisboa, uma cidade agraciada por mar e muitas ondas foi natural experimentar o surf num momento em que estava muito desmotivada com a escalada.

Hoje dedico o meu tempo à escalada e ao surf.

Claro que também faço outras actividades que estejam ligadas com essa paixão pela natureza, como seja a bicicleta, corrida, ski, caminhadas, entre outras.

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Na sua opinião como é visto o escalador por quem não pratica o esporte?

Foto: Keith Ladzinsky

Foto: Keith Ladzinsky

Acho que as pessoas sempre pensam que estamos praticando um desporto perigoso e que somos malucos.

Na verdade, eu própria já me encontrei em situações menos agradaveis, como quando tens de escalar de noite sem saber se vais conseguir sair dali, ou quando se te acaba o material de proteção e ainda não vês a reunião.

Apesar do que se possa pensar acho a escalada um desporto muito seguro.

Os esportes de natureza carregam o estigma de ser um esporte alternativo. Qual o motivo que você acredita desta distância da mídia tradicional com os esportes outdoor?

Há realmente pouca ligação dos media tradicionais com os desportos de outdoor.

Provavelmente porque têm muito menos adeptos, e isso talvez também se deva à própria dificuldade que as pessoas encontram em começar a praticar esse tipo de desportos, por exemplo.

Não é tão simples como se inscreverem num clube onde têm aulas todas as semanas.

Foto: Keith Ladzinsky

Foto: Keith Ladzinsky

Mesmo afastada da escalada, o que a escalada representa para você?

A escalada representa muito daquilo que eu sou hoje.

Apesar de não praticar com a mesma regularidade, sinto um prazer enorme a escalar.

Não só porque gosto do desporto em si, do nervoso miudinho, da adrenalina mas também dos lugares onde vou escalar.

E claro, todos os amigos que fazes ao longo da vida quando praticas uma atividade com tanta paixão, e que hoje fazem parte da tua vida.

Para escalar muitas vezes uma viagem longa é necessária. Quais foram as suas mais inesquecíveis?

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Pergunta difícil! Felizmente guardo imensas recordações inesquecíveis da escalada, sejam viagens, vias, momentos, lugares, pessoas, tanta coisa.

Talvez destaque as viagens que fiz para escalar e que me enriqueceram imenso.

A minha primeira grande viagem, que foi a Austrália logo depois que terminei a faculdade. Passámos 2 meses na costa Oeste.Estava num processo de descoberta e essa viagem foi muito rica para mim.

Outra que teve muita influência na forma como vejo a escalada foi o coast-to-coast nos estados unidos, onde escalámos em imensos sítios que eu conhecia só das revistas e que realmente abrem os teus horizontes.

Ou outra viagem que fiz aos Alpes em 2010. Comecei por ir sozinha à aventura e de repente juntou-se um grupo de amigos muito bons. Escalar as agulhas de granito de Chamonix é uma experiência única.

Mas há tantas outras, como escalar no Taghia em Marrocos, ou nas chorreiras de Kalymnos, ou na Sardenha, e tantas, tantas vezes em Espanha e França.

Claro que também não me esqueço da luta e do dia em que encadeei a minha via mais dura. Também foi uma grande viagem chegar a encadear um grau para mim completamente utópico.

E para terminar não posso deixar de destacar a grande aventura que passei no Douro Internacional quando abrimos em livre e no dia uma via de 300 metros. Escalámos noite dentro e passámos momentos bem difíceis.

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Para quem deseja se dedicar à preparação para campeonatos de escalada, qual seria o conselho que daria?

Para competir é preciso muita dedicação.

É bom termos muito tempo porque são precisas muitas horas de ginásio e treino indoor.

Eu aconselho que treinem bastante num muro indoor, planificando os ciclos de treino para que as competições se insiram nos momentos de topo de forma.

Acho bom ser altamente competitivo para que possamos dar o nosso melhor nos momentos chave. Ainda que isso seja algo inato de cada um, também se pode trabalhar.

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

Foto: Acervo pessoal Isabel Boavida

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