Entrevista com Davi Fantino da Silva

Para quem ainda enxerga o Distrito Federal como um lugar onde apenas existem pessoas que pensam e trabalham somente na política brasileira necessita rever este paradigma. Brasília é hoje a cidade brasileira com mais academias de escalada no Brasil, tendo nelas uma mentalidade progressista, e de vanguarda, com relação a metodologia de treinamentos que não existe nos grandes centros urbanos com academias de escalada. Ainda com poucos atletas de destaque, quando se fala em escalada de competição, a cidade possui uma forte cultura de boulder.

Junto com Belo Horizonte e Curitiba, outras duas cidades brasileiras com mentalidade mais progressista em termos de escalada de competição, Brasília é território fértil para quem deseja trabalhar com o esporte e lapidar jovens talentos. Um destes treinadores que investe pesadamente em conhecimento e compartilhamento é o jovem Davi Fantino da Silva.

Foto: Pino Stein

Foto: Pino Stein

Davi Fantino tem se dedicado intensamente a tornar-se referência nacional quando se pensa em treinamento de escalada e, buscando ampliar seus horizontes, já realizou cursos sobre o assunto no exterior. Lá aprendeu com nada menos que Eva López, referência mundial em treinamento físico para escalada e uma das maiores autoridades do assunto.

A Revista Blog de Escalada teve o privilégio de conseguir uma entrevista com Davi para saber mais sobre o que pensa sobre o esporte, agora promovido a esporte de exibição, além de procurar conhecer mais sobre este que está por ser considerado o melhor treinador do Brasil. Pela lucidez e conhecimento demonstrado em cada resposta este reconhecimento está por acontecer a qualquer momento.

Davi, recentemente você teve a oportunidade de treinar com Eva Lopez. Como foi esta experiência?

Esse na verdade foi meu segundo encontro para treinamento com a Eva. Em 2014, nós nos reunimos, fizemos uma avaliação e trabalhamos por 2 meses. Eu sempre externei minha vontade de voltar a treinar com ela, mas por um período mais longo. Mantivemos contato, mas devido ao desencontro de agendas apenas esse ano conseguimos organizar um novo trabalho.

Durante o interlúdio entre o primeiro e segundo encontro, o qual durou dois anos (2014-2016), mesmo adepto a abordagem que havia recebido de Eva, eu aproveitei para conhecer outras linhas de treinamento. Passei 8 meses na Alemanha e tive a oportunidade de treinar com os Gimme Kraft Coaches, Dicki and Patrick. Também treinei e pude aprender com Alex Megos, além de ter contato com outros escaladores profissionais como Shauna Coxsey, Jorg Verhoeven e Ben Moon.

Foto: Acervo Pessoal Davi Fantino

Foto: Acervo Pessoal Davi Fantino

Também me aprofundei na minha paixão por treinamento. Voltei a visitar Eva em outras duas ocasiões para participar de seus cursos de treinamento: um relacionado a Coaching de atletas e outro referente às diferenças nos fatores de rendimentos entre homens e mulheres. Também fiz curso com Patxi Usobiaga e conheci outras filosofias de desempenho esportivo e como elas poderiam ser aplicados a escalada (como o Método Bertazzo e o movimento Ido Portal).

Esse ano eu e Eva conseguimos alinhar nossas agendas e fui aceito como seu pupilo. Fizemos uma avaliação de aproximadamente 10 dias, e foi uma experiência muito gratificante. Após conhece-la, minha percepção sobre treinamento e desempenho na escalada mudou abruptamente. Sai daquele vício analítico que enfatiza apenas o aspecto físico no desempenho esportivo, e passei a observar o impacto que outros aspectos tem no desempenho. O peso dos aspectos técnicos e psicológicos, o papel do meio social na performance, a definição de estratégias e táticas para lidar com adversidades são apenas alguns dos exemplos de como uma alta performance está ligada a diversos fatores.

O treinamento em si está previsto para começar em agosto.

Você mora em Brasília onde as academias estão começando a oferecer treinos de CrossFit aos alunos. Você acredita que em médio prazo isso fará a cidade tornar-se uma formadora de fortes escaladores em nível mundial?

Foto: Lucas Castor | http://www.lucascastor.com

Foto: Lucas Castor | http://www.lucascastor.com

Acredito que Brasília sempre será um centro formador de bons escaladores, mas não credito ao CrossFit tal condição.

O uso de atividades externas a escalada é, de fato, uma excelente estratégia para desenvolver habilidades novas, sanar fraquezas, evitar lesões. Um treinamento deve contemplar o uso de argolas, TRX, halteres e pesos em geral, dentre outros. Tais ferramentas permitem gerar estabilização articular, trabalhar os antagonistas, aumentar o repertório motor. Enfim, temos diversos aspectos interessantes a serem trabalhados com ferramentas externas a escalada.

No entanto, deve-se ter ponderação e cuidado ao se incluir atividades externas.

O CrossFit se utiliza de diversas habilidades técnicas e motoras interessantes. O levantamento de pesos, agachamentos, puxadas em barras. Também utiliza a premissa de desenvolver os três sistemas metabólicos, conforme bem explicado no artigo do blog.

O perigo, no entanto, é confundirmos a ferramenta com a finalidade, darmos mais atenção ao auxiliar que ao principal.

Uma sessão de CrossFit é extremamente extenuante. O praticante que se prontifica a fazer a atividade 2 ou 3 vezes por semana corre o risco de exaurir e estressar seu sistema neural e sua musculatura de uma forma não específica. Tal exaustão pode levar a uma redução na capacidade esportiva da atividade principal que, no caso, é a escalada. Nesse cenário, teríamos um atleta que perderia a habilidade de desenvolver um trabalho físico e psicológico mais específico para escalada, já que estaria constantemente com seu corpo e mente em recuperação das extenuantes rotinas a que se submeteu.

Podemos pensar em utilizar apenas alguns dos exercícios e rotinas existentes no CrossFit, como o levantamento de peso (LPO). Novamente, é importante não substituirmos o exercício com a finalidade.

Pondera-se o nível de desgaste e tempo de aprendizagem necessário para permitir que um praticante se desenvolva na atividade a ponto de poder realizar os movimentos de LPO de forma segura. Também deve-se ponderar se, de fato, o escalador está deficiente na habilidades físicas demandadas pelo LPO. Por fim, se ao desenvolver os aspectos físicos necessários para o LPO, qual o grau de transferência que tal habilidade terá para o desempenho do escalador.

Me parece claro que ao incluir qualquer atividade extra na rotina de treinamento do escalador, deve-se ponderar algumas questões, para citar algumas: Qual o grau de transferência ou qual o grau de especificidade? De fato estou trabalhando uma fraqueza do escalador? Vale a pena o tempo e energia despendido nessa atividade, frente ao ganho no desempenho do atleta? Essa é a melhor opção de atividade auxiliar?

Embora possam existir benefícios no treinamento de CrossFit para a escalada, deve-se entender que o mesmo é auxiliar e que deve ser aplicado na medida que não prejudica a atividade principal.

Acredito que Brasília crescerá como um centro formador de bons escaladores, mas acredito que isso esteja ligado a outros fatores como o crescimento da estrutura dos centros de treinamento, a constante busca por qualificação pelos profissionais que atuam na região e a qualidade dos locais de escalada em rocha nos arredores.

A escalada tornou-se esporte olímpico de exibição para Tóquio 2020. Como você visualiza a atual preparação de atletas para esta modalidade?

É difícil generalizar já que não é comum os atletas divulgarem planos de treinamento completos. O que mais me chama a atenção, no entanto, é talvez uma desconexão entre o treinamento e o objetivo que se queira atingir.

Explico.

Um aspecto fundamental do treino é adequar o corpo ao tipo de atividade que ele desempenhará. Quanto mais específico for, melhor. Portanto, treinar para boulder é diferente de treinar para vias. Treinar para boulders curtos é diferente de treinar para boulders longos. boulders de campeonato são diferentes de boulders de pedra.

Foto: Gabriel Oliveira

Foto: Gabriel Oliveira

Obviamente que as atividades são complementares, e em muitos casos treinar para dois objetivos – campeonato e pedra – pode ser benéfico (não apenas pelo ganho físico, mas também pelo fortalecimento da confiança, aumento da motivação, melhora do repertório técnico e motor, etc).

Sendo assim, meu treinamento deve ter em mente o objetivo.

Então, se estou treinando para escalar na rocha, o tipo de escalada deve ser diferenciado: pés ruins, movimentação complexa, agarras pequenas. Se estou treinando para um campeonato, talvez deva enfatizar outras habilidades: mais dinâmicos, movimentos coordenados, mais acrobacias do tipo “parkour”.

Novamente, as atividades possuem grande taxa de transferência entre si. Portanto, mesmo para um escalador de boulder, treinar a famosa “resista” é importante para estimular outras vias energéticas as quais ajudam na performance do atleta. As sessões de boulder são fundamentais para que o escalador de via supere o crux. E o repertório motor de um escalador de campeonato é deveras interessante para os escaladores de pedra.

Outra questão é a demasiada ênfase a alguns instrumentos de treinamento, como o Campus Board e o Fingerboard. Você acaba por desenvolver escaladores com grande força e explosão de puxada, e muitas vezes com diferenciada força de mão. No entanto, carecem de habilidades técnicas que exijam coordenação, manejo do equilíbrio, trabalho em pés ruins; isso sem mencionar habilidades mentais como memória, atenção, controle da ansiedade, etc.

No que tange a campeonatos, as habilidades mentais são fundamentais para performance. Desempenhar com data e hora marcada é bem diferente de ter o dia todo para malhar meu projeto. Escalar com um público de estranhos a te observar, com 4 minutos e 3 ou 4 tentativas para solucionar um problema, é bem diferente daqueles longos dias de escalada, com entradas espaçadas, descansos longos, paz da natureza.

Foto: Lucas Castor | http://www.lucascastor.com/

Foto: Lucas Castor | http://www.lucascastor.com/

Mas a infraestrutura também é fundamental para esse treinamento. Os campeonatos mundiais se utilizam muito de volumes e grandes agarras, com “leitura” complicada. É como um quebra cabeça, com movimentos de certo modo “estranhos” para um escalador de rocha.

Um exemplo dessa diferença de modalidade e os treinamentos é visto nos desempenhos do atletas estrangeiros. Shauna Coxsey e Sean Mccoll, por exemplo, praticamente abdicaram de escalar na rocha tendo em vista seu foco em competições. Rustam Gelmanov é figura rara nos picos de escalada. Fazem uma rotina recheada de saltos, pulos, dinâmicos. Participam de competições constantemente para se habituarem a rotina a que se submeterão, enfrentar suas ansiedades, controlar seus medos.

No Brasil nós temos duas Associações que organizam campeonatos brasileiros. Eu diria que é fundamental o papel que tais Associações terão na organização e preparação dos atletas brasileiros. Ainda temos tempo, e sem dúvida temos atletas talentosos. Mas precisamos treinar inteligente.

Hoje no Brasil não há reconhecimento de grandes treinadores de escalada. Na sua opinião porque existe esta limitação?

Existem vários motivos para isso, mas tentarei elencar os que considero mais relevantes.

Atualmente nós lidamos não apenas com a desinformação, mas também com a “má informação”. Ao buscar por informação sobre treinamento para escalada é muito comum nos depararmos com vídeos empíricos feitos por escaladores profissionais os quais sugestionam varias incoerências. Somos levados a crer que um circuito de core, recheado de pranchas e abdominais, ou mesmo um excesso de exercícios no Campus Board e no Fingerboard são o bastante para gerar escaladores de V15 ou de 12a.

Também podemos citar a influência que os escaladores mais experientes tem sobre os iniciantes. É comum que os novos escaladores busquem orientações sobre treinamento com atletas mais experimentados, o que muitas vezes são orientações empíricas e individuais; informações que muitas vezes não podem ser generalizadas e nem aplicadas a terceiros.

Foto: Lucas Castor | http://www.lucascastor.com/

Foto: Lucas Castor | http://www.lucascastor.com/

Outro fator interessante a se analisar é a ênfase que damos ao aspecto físico da escalada. Utilizamos termos como “ele é muito forte” para nos referir a bons escaladores, e poucas vezes atentamos para a capacidade técnica do mesmo. A qualidade de movimentação, o manejo do equilíbrio, a precisão dos movimentos; todos aspectos com grande influência.

Essa má qualidade da informação e a falha na análise dos fatores que, de fato, produzem um bom escalador, levam ao imaginário que um treinador de escalada é dispensável. Uma safra promissora de atletas se aventuram no auto treinamento, lesionando-se ou atingindo platôs de estagnação, levando a desmotivação e desistência. Alguns atletas buscam auxilio em profissionais de educação física, sem nenhum conhecimento em escalada. Acabam por se tornar pessoas mais fortes, mas escaladores piores.

Também podemos apontar a carência de uma formação adequada para treinadores de escalada. Embora o curso de Educação Física pareça uma resposta adequada, ela só destaca o quanto entendemos erroneamente a Escalada como um esporte essencialmente físico e não técnico.

Importante salientar que esses problemas não são exclusivos do Brasil. Muitos atletas profissionais dispensam treinadores, propagando o imaginário que um treinador não se faz necessário. Felizmente, alguns outros tem dado destaque a importância que o treinador tem em seus desempenhos.

Nas escolas de educação física há ensinamento sobre esportes outdoor. Na sua opinião como os profissionais de educação física enxergam este tipo de modalidade

Eu entendo que a inclusão de esportes outdoor no currículo de Educação Física como um importante passo, mas que deve ser analisado com cuidado. Reconhecer a questão física que tal prática possui é fundamental para a formação dos futuros profissionais de Educação Física. No entanto, os fundamentos de tais esportes não são puramente físicos.

Explico.

Os esportes outdoor como “esporte”, com o desempenho físico e a performance atlética em foco, é apenas uma das vertentes dos mesmos. A maior parte deles são praticados apenas como lazer e alguns outros o enxergam como um estilo de vida. São os “peladeiros” de fim de semana, ou mesmos os entusiastas da qualidade de vida, da fuga da cidade, do contato com a natureza. Nessas situações, o aspecto físico e o desempenho atlético acaba por se tornar secundario, já que a viagem para lugares isolados e a socialização “na pedra” são itens mais importantes.

Foto: Lucas Castor | http://www.lucascastor.com

Foto: Lucas Castor | http://www.lucascastor.com

Mesmo no grupo dos esportistas: aqueles que levam a sério seu desempenho e sua evolução. É essencial entender o papel do Educador Físico no treinamento esportivo, e que o mesmo não se confunde e nem pode ser substituto do treinador. Os esportes outdoor, embora possuam aspectos físicos, não são regidos essencialmente por estes. A questão técnica é fundamental para a prática, e é vital reconhecer esse lado. É como substituir os técnicos de futebol por educadores físicos. É como utilizar apenas educadores físicos para treinar os lutadores de MMA.

Obviamente existe uma sinergia entre os dois profissionais. Mas me parece perigoso o tratamento que os Conselhos de Educação Física (CREF) tem dado aos esportes outdoor e, consequentemente, a escalada. Esse talvez seja outro motivo da inexistência de treinadores de escalada no país, conforme debatido na última pergunta.

Portanto, é interessante diferenciar o lado positivo que o estudo da escalada (e dos esportes outdoor) como modalidade esportiva proporciona, da controversa tendência dos profissionais de Educação Física (representados pelos CREF) de tentar fortalecer sua própria classe através da inclusão de mais modalidades sob seu controle e sob sua influência.

Ou seja, estudar os esportes outdoor de forma científica e atentando para os aspectos físicos envolvidos nela é uma evolução. Afinal, diversos esportes fazem parte do currículo de tal graduação, mesmo os não regulados pelo CREF (artes marciais, por exemplo). No entanto, a regulação de tais esportes condicionando-os a tal controle institucional somente deflagra a miopia quanto os fundamentos do esporte e o que ele representa para seus praticantes.

As marcas brasileiras de esportes outdoor ainda não patrocinam nenhum atleta e apenas apoiam uma quantidade restrita. O que você acredita que tenha de acontecer para reverter este quadro?

É importante atentar para o aspecto comercial inerente a um acordo de patrocínio. As companhias buscam visibilidade para suas marcas, e a utilização de atletas com desempenho de ponta serve esse propósito. A decisão de patrocinar um atleta deve se traduzir de alguma forma positiva para a empresa, seja por fortalecimento da marca frente a um determinado público consumidor, seja pela possibilidade de atingir novos clientes.

Nesse cenário, o atleta precisa entender seu papel como “porta voz” da empresa. A escalada está fortemente relacionada a estilo de vida, e isso pode gerar comportamentos e formas de agir que destoam da forma como as companhias querem expor suas marcas.

Foto: Jan Gruber

Foto: Jan Gruber

Eu vejo duas fragilidades.

De um lado, me parece que as companhias de esportes outdoor carecem de organização suficiente para articular campanhas de marketing ou estratégias de publicidade que utilizem atletas profissionais. Investir no potencial atlético e na possibilidade de utilizar a imagem do atleta para fins comerciais. Talvez até a popularidade do esporte ainda não justifique a utilização de atletas e acordos de patrocínio.

Por outro lado, eu vejo uma atitude talvez demasiada passiva dos atletas. Espera-se a iniciativa de contato das empresas, com ofertas de acordos de patrocínio. Ou talvez o atleta, por falta de orientação (até mesmo porque esse não é o expertise do atleta), deixe de trabalhar uma imagem pública que gere uma base de interessados em seu trabalho esportivo grande o suficiente para possibilitar uma proposta a empresas. Demonstrar sua capacidade de atingir um público e reverter o patrocínio em retornos positivos para a empresa.

Nessa ótica, teríamos algumas sugestões para diminuir essa distância. Poderíamos incentivar os atletas a montar uma estrutura gerencial ao seu redor, permitindo que as empresas tenham uma visão mais tangível de seu potencial comercial. Uma associação esportiva teria papel nessa estrutura? Talvez.

O crescimento da escalada e a popularização de academias também desempenha papel importante. O aumento do público consumidor permite as empresas a buscar novas formas de influenciar seu público.

Enfim, acho interessante pensarmos se as associações teriam algum papel nisso. Ou talvez seja algo puramente particular, de cada atleta. Apenas algumas ideias.

Alguns locais de escalada, como a Pedra da Divisa em São Paulo, fecharam devido ao mau comportamento de escaladores. Na sua opinião, como é possível evitar que isso torne-se tão freqüente?

Eu, particularmente, sou um defensor do fortalecimento e aprimoramento das associações.

Ao falarmos de locais de escalada com acesso livre, o aspecto mais relevante e desafiador é a gestão do comportamento dos frequentadores. Temos ai um misto de vários motivos que podem levar um escalador a ter uma prática destoante com a ética local, como falta de conhecimento das regras, sensação de que não existe punição/controle, ou má fé.

Dos três, a sensação de impunidade e controle ou a sensação de que não há de haver ônus para suas ações me parece a mais comum e a mais danosa.

Estamos falando, portanto, da mudança de comportamento de um grupo. Estamos tentando aprimorar o senso moral de cada um, e isso é extremamente complexo e difícil.

Portanto, vejo nas associações um caminho para gerenciar localmente o grupo de escaladores de forma mais eficiente. Mas cabe ressaltar que para tal, o modelo de associação talvez tenha que se alterar.

Algumas ideias:

Primeiro fator é uma gestão profissional das associações, com participação de gestores remunerados e não apenas de trabalhadores voluntários. Um trabalho voluntário é importante e deve ainda existir, mas o nível de comprometimento e o tempo desprendido para gerir uma associação requer pessoas que possam se dedicar por mais horas, e que também possam ser responsabilizadas pela incompetência e improbidade gerencial. Criar uma estrutura que permita o gestor da associação a se dedicar mais profundamente é interessante para o gestor, para associação e para a comunidade.

Com um associação bem organizada e bem gerida, podemos partir para outros tipos de ações. Um relacionamento transparente com os donos das terras ou o governo responsável pelos parques onde se encontram os picos de modo a definir regras de conduta é um primeiro passo interessante para educar os membros da associação. Com um grupo de escaladores bem informados, podemos minimizar condutas inadequadas.

Mas educação e informação não é o suficiente.

Precisamos também controlar as ações e as (más) condutas. Estamos muito acostumados a pensar em sanções para as más condutas, mas podemos pensar em recompensar as boas condutas. Acredito que é mais eficiente recompensar a boa conduta ao invés de punir o infrator (acredito que um psicólogo possa passar argumentos mais precisos sobre o porquê essa estratégia é melhor).

Uma associação fortalecida permite ofertar benefícios para seus membros. O próprio acesso ao local de escalada pode ser um benefício para os escaladores associados. Afinal, se precisamos de uma estrutura de associação mais profissional, precisamos também sustentar esse modelo.

Mas repito: o tema é extremamente complexo. Ele envolve muitas pessoas, várias formas de encarar um local de escalada, vários poderes. As associações me parecem uma solução interessante, mas novamente temos que repensar o modelo que criamos para as mesmas.

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