No Budismo tibetano os monges ficam vários anos fazendo as mandalas, e quando chegam ao fim do trabalho, a desmancham simbolizando a impermanência das coisas da vida.
Este gesto tem muitos significados, e um deles pode ser interpretado como o ciclo da vida, que exige renovação todo o tempo.
Dentro de todas as modalidades esportivas, e nas mídias que fazem parte delas, a necessidade de renovação é necessária e indiscutível.
Por mais que grupos de conservadores forcem para que o ciclo da vida seja interrompido, e que nomes conhecidos fiquem permanentemente sendo cultuados, outros talentos despontam com outra linguagem e paradigma
Com muito talento dentro de si, e considerado um diamante bruto dentro dos filmes outdoor, o paulista Bruno Camargo vem conquistando a atenção do público com seu olhar único e singular a respeito dos esportes de ação.
Ainda desconhecido do público, vem conquistando destaque e reconhecimento por quem procura trabalhos de vanguarda e com linguagem mais jovem e moderna
Por todo este talento a Revista Blog de Escalada procurou Bruno para uma conversa franca para que pudéssemos saber mais sobre suas opiniões e desejos
Bruno, você parece estar cobrindo grandes eventos do esporte. Como foi sua trajetória até chegar neste ponto?
Me formei em comunicação social porém, sempre tive a fotografia e vídeo muito presentes assim como o esporte.
Eu estava trabalhando com marketing, e a cada passo que via meu irmão (Felipe Camargo) avançando, e vendo a variedade de coisas que podem ser feitas no meio esportivo, sentia cada vez mais vontade de juntar as duas coisas.
Tenho tentado aprender as particularidades de cada esporte e para isso procuro estar próximo aos melhores atletas, assim acredito que posso “puxar meu nível”.
Seguramente hoje a internet é a maior referência de informação a respeito de esportes de pouca popularidade. Você acredita na possibilidade de grandes empresas de mídia começarem a olhar para estes esportes?
Acredito que cada vez mais a internet será o canal de comunicação mais forte, rápido e direto, e as empresas já sabem disso.
O que é preciso é a compatibilidade de interesses, no momento que algo esta sendo muito “procurado” na internet isso tende a gerar expectativa em outros meios, que podem também começar abrir espaço para esportes diferentes.
No Brasil existem poucos festivais de filmes de montanha de expressão. Você acredita que há mercado para eventos deste tipo no Brasil? Porque?
O mercado de filmes alternativos já é pequeno no Brasil, ainda mais montanha. Mas acredito que o país já deu o primeiro passo. Ao menos temos um ou dois festivais “consolidados”.
É preciso que existam mais incentivos para viabilizar a produção de novos projetos para que possamos estar nestes festivais.
Tipo ver empresas apoiarem o evento, porque está bem localizado ou porque vai sair em x-mídia, mas nunca tem verba para apoiar a produção dos filmes.
Caso alguém esteja interessado em trabalhar na área de imagens de esportes, qual seriam seus conselhos a ela?
Eu estou começando então pediria conselhos e valorizaria cada troca de informações também, porém hoje posso falar que é preciso amar isso e faze-lo sem pensar sem pensar em ficar rico.
A qualidade de vida é muito mais valiosa para mim e cada vivência que o esporte/natureza tem me proporcionado me faz ter mais certeza de que tomei a escolha certa independente de onde isso vá me levar.
A escalada de competição no Brasil está vivendo um momento diferente de outros tempos, com duas organizações de campeonatos. Você acredita que os campeonatos de escalada são viáveis a serem transmitidos na grande mídia?
Como eu disse, acredito mais na força da internet, e por exemplo não tivemos nunca uma transmissão online ao vivo de nenhum campeonato escalada nacional.
Já seria um ótimo começo e ai sim quem sabe ao menos teríamos uma chamada em um noticiário em TVaberta a nível nacional.
Dai podem surgir novos patrocínios, apoios e fazer a maquina girar. É preciso olhar melhor para outros esportes e começar a adequar os lados positivos para ajudar divulgar a escalada.
Temos muito potencial e pouco incentivo.
O mercado de webséries no Brasil ainda está engatinhando. Porque você acredita que não há muitas pessoas investindo no formato?
A internet nos possibilita trabalhar com vários formatos, o que facilita a produção, porém é necessário investimento pois o retorno pode não ser imediato.
Um filmmaker pode fazer uma webserie sozinho se tiver tempo para produzir, ou pode trabalhar em conjunto com outros e fazer algo ainda melhor e fazer com que a “cena” cresça quase que literalmente.
Assim vamos ver surgir cada vez mais interesse nesse segmento. Tanto por parte das empresas, midia/patrocinadores, quanto dos produtores e atletas.
Do que você conhece do mercado de esportes de montanha, como você visualiza o mercado daqui a 10 anos?
Espero que o mercado de montanha ganhe cada vez mais adeptos, que mais pessoas passem a vivenciar a experiencia de estar na montanha.
Assim vamos quebrando paradigmas e disseminando o estilo de vida que a montanha “requer”, incluindo o espirito partilha, respeito e contemplação da natureza.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.