Curvas de treinamento: Análise de gráficos para evolução na escalada

Este é mais um artigo para responder, de maneira objetiva, e-mails a respeito de treinamento. O último que recebi dizia o seguinte:

Oi irmão, temos seguindo muitos de seus conselhos sobre treinamento para melhorar. Nos organizamos um pouco mais no treinamento e nos deu muitos bons resultados. Faz pouco mais de um mês evoluí muito, mas faz umas duas semanas que foi à rocha e tomei espanco. Sentia que não conseguia ter força. Fiquei com muita raiva até agora porque estava voando e agora parece que caí muito e me sinto fraco. Que pode ter passado? Me lesionei?

Vou começar citando Dave MacLeod que em seu livro afirmou: nove em cada dez escaladores cometem os mesmos erros”. Ou seja é necessário pensar em curvas e, por isso, aconselha que leia seu livro.

Quando começa a treinar, na maioria das vezes, há uma melhora inicial, a qual pode ser espetacular. Os escaladores concluem que o gráfico desta evolução será uma linha reta até o infinito e fazem seus próprios cálculos. Vou exemplificar: em um mês que passe do 6sup ao 7a, logo depois conclui que em nove meses estará escalando 9c. Não somente isso parece ridículo, como é absolutamente idiota pensar desta maneira.

As melhorias nunca são lineares, mas curvas e elas são ascendentes dependendo de dois fatores:

  • Sua própria capacidade de melhorar
  • Tipo de treinamento realizado

Se você é tocado por Deus, sua melhora será meteórica e, obviamente, há casos de chegar ao 9c em poucos meses. Mas mesmo neste caso são curvas imperceptíveis. Quando estes escaladores tocados por Deus chegam ao seu limite suas curvas de melhoria se assemelham muito a um escalador mediano.

Se você é um escalador dentro da média (ou seja, não é tocado por Deus) as curvas podem ser bem acentuadas. Ou seja: evoluções milagrosas são seguidas por quedas catastróficas. Em um final de semana que que arrebente nos 7c/8a depois de duas semanas sofre em um 7a. Sinto muito, mas faz parte de uma realidade biológica/fisiológica que, por ser muito extenso e complexo explicar, não será detalhada neste artigo.

O tipo de treinamento também é um ponto muito importante, pois ele determinará suas curvas ascendentes e descendentes. Mas me atrevo a dizer que a grande maioria dos escaladores treinam de uma maneira que produz muito mais curvas descendentes que ascendentes.

Existe uma crença falsa de que tem de escalar e treinar duro todo o tempo, mas já foi demonstrado que o progresso inicial não somente estanca, como piora o ganho se seguir com a mesma intensidade/volume.

Portanto uma planificação de cargas, baseada preferencialmente em ciclos, é a chave para que seu progresso mantenha mais curvas de ascensão e, obviamente, as de descenso sejam menos acentuadas e de menor tempo. Haverá momentos de retrocesso, mas por outro lado terá momentos de “debilidade” ao ir progredindo.

No seu caso, creio que somente está descrevendo uma curva de descenso e não me parece que esteja lesionado. Trate de rever seus métodos de treinamento para ver se são adequados à sua realidade.

Quanto tempo tem mantido cargas de intensidade e se realiza certo tempo de descanso. Lembre-se que um treinamento ruim produz curvas descendentes de evolução marcadas também por lesões. Com relação às lesões é pior, pois fará com que você fique um certo tempo sem escalar.

Para finalizar, uma curva mantida na descendente, ou mesmo curvas de ascensão nulas, pode ser sinônimos de “super-treinamento” (overtraining), mas isso é um tema para um outro artigo.

Boa sorte a você e não se desespera.

PS.: Não sou seu irmão.

Tradução autorizada de: http://rocanbolt.com

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