Há um ditado popular que afirma que “as coisas mais importantes da vida não são as coisas”, pregando o minimalismo e o desapego a posses e que o que deve ser valorizado são as pessoas.
Fosse necessário definir o filme “Zé do Pedal” , em apenas uma frase, esta afirmação resumiria a mensagem existente na produção de Abbas Filmes.
Realizada com recursos obtidos em crowdfunding, “Zé do Pedal” documenta a história do personagem que batiza o filme e tem como hábito utilizar um veículo rústico movido a pedaladas e com o objetivo de percorrer longas distâncias para mesclar turismo e peregrinação.
Procurando focar uma parte de sua viagem em 2010 é mostrada a filosofia de vida simplista do protagonista e como é a ralidade solitária de um personagem único.
No próprio decorrer do filme é explicado quais são seus apoiadores e como elabora os planos de viagem, sem necessariamente ter a aparência de uma propaganda forçada.
No filme “Zé do Pedal” o protagonista realizava uma viagem na qual saiu da França, aos pés da Torre Eiffel, até chegar ao estádio da abertura da copa do mundo de 2010 na África Do Sul.
O itinerário incluiu a travessia de quase 14 países dentre os quais Portugal, Espanha, Marrocos, Catar entre outros.
Somente pela descrição do filme é notável o feito de José, e a natural curiosidade de saber mais de uma figura tão singular.
O diretor Bruno Lima soube aproveitar este interesse mantendo o foco em apenas documentar a personalidade de José, não o feito ou a periculosidade do trajeto.
Neste aspecto é perceptível a sensibilidade dos produtores em realizar uma obra que não somente cobre as aventuras do protagonista, mas sim evidenciar o aspecto da simplicidade de um ser humano em busca de um sonho.
Sem procurar inovar, nem reinventar a roda, muito menos utilizar pirotecnia tecnológica, o roteiro do filme constrói um personagem simples como ele mesmo é, além de emocionar o espectador ao final.
Optando por não ter um final catártico, nem exagero na construção do personagem, o filme “Zé do pedal” segue a mesma filosofia do protagonista: simplicidade e sem complicações.
Características sempre presentes em filmes outdoor como fotografia exuberante, trilha sonora impactante e panorâmicas contemplativas não estão presentes no filme, mas graças a um roteiro muito bem dirigido não afeta a qualidade do filme exibido.
A preocupação com detalhes e o desejo de produzir “Zé do Pedal” possui uma qualidade vista somente nas melhores produções internacionais, sendo forte candidato em todo e qualquer festival que participar dado a empatia que provoca com o público.
Alguns aspectos do filme entretanto não foram muito explicados, como, por exemplo, quem organizou toda a recepção de José ao chegar em Joanesburgo.
Pela volume e frisson esperado pelo protagonista passa uma impressão de que houve falta de informação sobre a divulgação sobre sua viagem.
Este pequeno deslize no roteiro não compromete o filme, pois a história do personagem permanece compreensível a quem já está imerso desde o início.
O filme “Zé do Pedal” consegue ainda levar a um degrau mais elevado a produção de filmes outdoor e já nasce um clássico e, ao mesmo tempo, torna-se uma referência de como deve ser feita uma produção simples mas com conteúdo.
Nota Revista Blog de Escalada:
O filme “Zé do Pedal” foi exibido no Rio Mountain Festival 2014
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.