Crítica do filme “Walk in the Woods”

Filmes hollywoodianos que colocam algum percurso de trekking como parte de uma história, tendem a não agradar muito o público. Os fatores são muitos: excesso de liberdades criativas, falta de realidade, ausência de carisma dos personagens e, sobretudo, um roteiro que seja convincente. Algumas produções que buscaram a temática outdoor tiveram relativo sucesso como “Na Natureza Selvagem” e “Livre”. Mas, infelizmente, esta são exceções a uma regra que parece assombrar os produtores de Hollywood.

Este tipo de maldição, que faz com que diretores e atores realizem projetos horrorosos (fracasso de público e crítica), pode ser vista em verdadeiras galhofas como no recente “Caçadores de Emoção“, “Cliffhanger“, “Limite Vertical” e “O Rio Selvagem”. A lista de adaptações sobre o universo outdoor é imensa. Mesmo assim de tempos em tempos alguém se anima a quebrar a maldição e emplacar alguma obra que figure entre as exceções descritas acima.

Com esta motivação, de fazer parte da exceção, o diretor Ken Kwapis se juntou a Robert Redford, para abordar um dos trekkings mais tradicionais dos EUA, a Appalachian Trail (conhecido também como Caminho dos Apalaches). Conhecida popularmente como A.T., é uma trilha totalmente sinalizada no Leste dos Estados Unidos e fica entre os estados americanos da Georgia (saindo da Springer Mountain) e termina no Maine (no Mount Katahdin). Com 3.500 km de extensão, atravessando 14 estados americanos, é considerada como quase obrigatória por praticantes de trekking e hiking do país.

A base do filme foi exatamente no livro “Walk in the Woods” sobre a Appalachian Trail escrito por Bill Bryson. Utilizando uma tática até conhecida em Hollywood, que é fazer um casting de peso, escalou atores como Nick Nolte e Emma Thompson em uma história, que ao menos no livro, era interessante. A produção conta a historia de Bill Bryson, que após viver muito tempo na Inglaterra, retorna aos EUA após a morte e uma pessoa próxima a ele. O falecimento, assim como o retorno ao país de origem, acaba impactando sua perspectiva a respeito do mundo e das coisas que escolheu não fazer por algum motivo.

Durante uma caminhada, observa placas de sinalização da Appalachian Trail, e fica curioso a respeito da trilha. Após rápida pesquisa na internet, as fotos e relatos desperta um desejo enorme de fazer a trilha. Na sua pesquisa, dados de ataque de ursos e outros animais silvestres e congelamento no camping, assusta sua esposa (interpretada por Emma Thompson) que o obriga a fazer com outra pessoa. O protagonista aceita a condição e começa a ligar para todos seus amigos próximos, quando todos respondem ser uma maluquice fazer a trilha. Quando estava pensando em desistir da idéia, um antigo companheiro de juventude responde a seu convite. Era Stephen Katz (interpretado por Nick Nolte).

A partir disso compram os equipamentos, em um merchan pesado da REI nos mesmos moldes dos que faz o jornalista Milton Neves, e encara a trilha, mesmo sem nenhuma preparação física. No caminho, Bryson e Katz cruzam com personagens típicos de um trekking longos e que são encontrados facilmente em qualquer lugar do mundo. Grande parte fazem comentários a respeito dos equipamentos e performance durante a trilha. Durante a caminhada há conversa entre os dois, além de várias relevações a respeito das escolhas da vida e, claro, a inevitável realidade de que uma caminhada destas transforma quem a enfrenta. Para o bem ou para o mal.

Apesar de muito bem cuidado, “Walk in the Woods” não empolga e em vários momentos é difícil se identificar com os personagens. Tanto Redford quanto Nolte parecem estar com o piloto automático e interpretando caricaturas de personagens já vividos em outras produções. Algumas omissões da direção como marcar, ao menos graficamente, onde estão cada um dos personagens e que tipo de clima enfrenta, dificulta bastante entender o que é a Appalachian Trail. Mesmo os diálogos, às vezes tão expositivos que parecem ter saído de um roteirista de novela das Globo, são tão fora da realidade do que seria duas pessoas de meia idade realizando um trekking que afasta a atenção na história.

Muitas vezes, “Walk in the Woods” parece ter sido feito para o espectador o ver utilizando uma segunda tela, pesquisando sobre o trekking e veracidade de perigos e meteorologia do caminho. Muitos personagens encontrados na trilha são caricatos e, muitas vezes, odiosos.

Mas nem tudo são defeitos na produção. A abordagem sobre a Appalachian Trail, mesmo não sendo empolgante, não possui exageros nem ares de “transformadora”. A direção de fotografia se não enche os olhos, também não decepciona. Há várias cenas que a paisagem impacta os personagens, emocionando-os e despertando a vontade de quem assiste de percorrer o caminho. este talvez seja a maior qualidade do filme.

Talvez aí esteja a maior qualidade de um filme que tem cara de “Sessão da Tarde”, ajudar a passar o tempo sem exigir muito do expectador em termos de história ou sentimentos. Um bom entretenimento, mas, infelizmente, esquecível.

Nota Blog de Escalada:

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