Todo ser humano sente necessidade de ter um tempo para meditar sobre suas idéias, repensar conceitos e obter respostas de si mesmo quando se dispõe a realizar uma viagem solitária.
O ciclista Guilherme Cavallari possuía uma inquietude interna que o chamava para uma longa viagem de bicicleta pela Patagônia na qual, além do esforço físico, haveria certo isolamento da civilização.
Uma viagem que seguramente muda a vida de qualquer pessoa de decide realizá-la.
Cada pedaço da viagem feita por Cavallari com foi filmada pelo próprio personagem, lembrando muito uma outra produção que utilizou do mesmo estilo e recursos, o ótimo filme “Road to Karakol“.
Apesar de utilizar a mesma técnica, a temática e objetivos as produções são muito diferentes, já que “Transpatagônia” é uma viagem mais intimista que faz reflexões sobre a vida, e decisões que foram tomadas no decorrer dela.
O filme é muito mais que imagens bonitas de bela direção fotográfica, mas sim um relato visual de uma peregrinação que traz o espectador a ser testemunha do personagem.
Pelas limitações da câmera goPro, as imagens captadas estão longe de ser exuberantes mas possuem algo singular que faz toda a diferença: sensibilidade.
Todo o conjunto de imagens captadas pelo protagonista no decorrer da viagem tinha de ser organizado de uma maneira que não tornasse o filme maçante e menos atrativo para o público.
A tarefa de transformar tudo isso em uma produção, e um filme propriamente dito, com roteiro e uma história para contar, ficou por conta da Fábula Filmes.
A produtora procurou desenvolver um roteiro encorpado baseado em narrações e declarações de Cavallari, mas mesmo assim optou por não realizar um roteiro não linear, no qual mostra fatos acontecidos em ordem não cronológica.
Apostaram que o detalhe principal que marca a passagem do tempo era o tamanho da barba e cabelo do personagem, o que ajuda, e muito, a localizar-se na linha do tempo da história.
A escolha de não seguir a linha de humor, procurando uma postura de serenidade diante da peregrinação mostrou-se correta, até mesmo pela proposta declarada no início, proporcionando um ar mais introspectivo até mesmo para o espectador.
Procurando utilizar uma trilha sonora não convencional, e assim sair dos clichês de aventureiros heroicos, o filme “Transpatagônia” consegue envolver o espectador até próximo do seu final, pois cria uma atmosfera sensorial interessante utilizando imagens e sons.
Entretanto por sempre existir histórias recorrentes, cenas muito parecidas, além de situações semelhantes em alguns momentos, o filme parece se alongar mais que o necessário.
Esta sensação torna-se mais forte próximo ao terço final do filme, quando parece existir uma certa “barriga” na produção.
Este leve alongamento também faz com que o final seja levemente previsível, não atingindo a plenitude de clima catártico que a produção propõe a construir desde o início.
Mesmo assim “Transpatagônia” funciona como um convite às pessoas a viajarem para encontrar elas mesmas, e não somente para exercitar o lado perdulário que existe em todos nós.
A produção consegue, portanto, ao menos despertar aquele sentimento de “também quero fazer isso”, e isso já o grande mérito do filme.
Nota Revista Blog de Escalada:
O filme “Transpatagônia” foi exibido no Rio Mountain Festival 2014
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
Bruno, o Cavallari comenta a quebra da restrição alimentar no início do filme.
Se o autor era vegetariano, como comia presunto, atum e frango?! Esses produtos não são feitos de carne?