Crítica do filme “Solo – Escalada a la vida”

solo-escalada-a-la-vida-1Em um curso de antropologia aprende-se que o que se considera realidade é, na verdade, a percepção de cada indivíduo a partir da interpretação  feita através do prisma sócio-cultural que ele possui. Portanto alguma para uma novidade que pareça diferente daquilo que socialmente está acostumado, existirá uma tendência natural de sermos críticos a este elemento o qual fomos apresentados.

A partir deste tipo de comportamento, natural do ser humano, é que surgem os preconceitos e outras espécies de teorias a respeito de algo novo quando este aparece. Por isso somente porque alguma coisa não faz parte da vida que vivemos, e da sociedade que estamos inseridos, não necessariamente quer dizer que é “certo” ou “errado”.

A maneira com a qual nos comportamos, com mais ou menos agressividade ou curiosidade a respeito de um fato, é que faz um grupo de pessoas ser mais civilizado. Julgar algum tipo de comportamento, expressão artística (como uma charge por exemplo….) e estilo de roupas com base somente na realidade a qual esta acostumados, deixando de lado todo o bom senso, e não nos colocando no lugar da outra pessoa, identifica uma atitude de animosidade característica de pessoas menos evoluídas.

Como colocar então este tipo de raciocínio (olhar a situação sob a realidade que outra pessoa enxerga) em um dos estilos de escalada mais polêmicos e, ao mesmo tempo, considerados dos mais puros: o estilo solo? O estilo é conhecido por ser altamente perigoso e é praticado por raríssimos escaladores em todo o mundo. Todos os praticantes de escalada solo exultam que a escalada em solo é a mais pura, e que a mente deve estar limpa e outros tantos clichês que se repetem frequentemente quando há uma conversa sobre o assunto.

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O escalador espanhol Jordi Salas, conhecido pelo apelido de “Pelón”, é um destes personagens que sempre povoam o universo da escalada em rocha. Com um jeito de “micróbio” (termo brasileiro para dirtbag), mas com uma profundidade de discurso filosófico impressionante que cativa e conquista quem o conhece. Para captar a essência de “Pelón” o diretor Jordi Varela produziu o documentário “Solo – Escalada a la vida”, para podermos imergir neste universo nebuloso que é a escalada em solo e os “malucões” que a praticam.

A produção tem a intensão de usar a escalada em solo como metáfora para, segundo as próprias palavras do diretor, “entender o processo pelo qual os conceitos de medo, morte e vida”. Todos os conceitos propostos por Varela são analisados pelo seu protagonista em suas longas, mas profundas, divagações. Com uma abordagem diferente das produções de escalada, “Solo” possui um ritmo muito mais lento que a maioria delas mas com tomadas panorâmicas bem filmadas em todas as cenas da escalada de “Pelón”. Paralelamente o diretor optou por agregar ao conteúdo de escalada várias reflexões a respeito de sociedade, trabalho capitalismo, escalada e, obviamente, medo.

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A escolha deixou a produção com uma pegada muito mais introspectiva e mostra ainda, mesmo que superficialmente, o que outros escaladores como Chris Sharma e Dani Andrada pensam do estilo. A dupla de pesos pesados falam abertamente o quanto aprovam, ou desaprovam, quem o realiza. Mas quando a discussão a respeito do perigo, e consequências dos erros em um tipo de escalada destas pode gerar, o diretor se esquiva e acaba por abafar qualquer aprofundamento no tema.

Mesmo saindo pela tangente de levantar qualquer discussão a respeito do estilo, a produção procura focar as história do protagonista e guarda para as cenas finais emoções bastante intensas, muito parecida com as de Alex Honnold em “Alone in the wall”. Sabiamente a escolha do diretor em somente deixar o som ambiente colaborou para a imersão do expectador e aumentou a angústia de uma eventual queda exponencialmente.

“Solo – Escalada a la vida” é um filme diferente do que muitas das produções que são exibidas nos últimos anos e exatamente neste detalhe que está o seu ponto forte. A vontade de ser ousado e introspectivo parece dar certo, principalmente com um personagem carismático como “Pelón”.

Nota Revista Blog de Escalada: 

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