Crítica do filme “Sobreviventes”

filme-sobreviventes-1Sempre que um filme sobre atividades de natureza, especialmente trekking, é realizado em produções artísticas há um desfile de equívocos tão grande que acabam por tornarem-se grandes galhofas .

Nesta “liberdade artística” muito já foram realizados verdadeiras tragédias cinematográficas como “Caçadores de Emoção“, “Limite Vertical” e “Cliffhanger”.

Embora tenha ficado fora do circuito de exibição de filmes estrangeiros no Brasil, o filme “Sobreviventes” (Backcountry, 2014) é uma boa surpresa, além de inesperada, a qual agrada os praticantes de trekking e camping mais puristas.

“Sobreviventes” tem a ambição de ser um gênero de horror, e seu roteiro foi inspirado em fatos reais que aconteceram com os canadenses Jacqueline Perry (interpretada por Missy Peregrym) e Mark Jordan (interpretado por Jeff Roop) em Missinaibi Lake Provincial Park em 2005, quando sofreram um ataque de um urso negro durante um pernoite que realizavam.

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Mesmo sem muitas ambições de ser uma superprodução, ou se tornar um blockbuster, “Sobreviventes” sem dúvida consegue ser um filme com procedimentos, e acontecimentos, bem perto do real, além de contar uma história crível e ao mesmo tempo chocante.

Todas as vestimentas, equipamentos e problemas comuns de quem realiza uma trilha em algum parque são bem verossímeis e, aparentemente, não foram tomadas muitas liberdades poéticas neste aspecto.

As pequenas negligências, muito comum em quem acredita possuir experiência de anos, nas escolhas dos equipamentos são mostradas com discrição porém com precisão.

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Todo o desenrolar da história é bem filmado, desde as pequenas decisões que aparentemente não fazem diferença em um trekking até mesmo a discussão do casal em coisas banais é muito bem construído.

Porém até o acontecimento que de fato irá gerar o clima de horror que o filme se propõe, demora a acontecer e até a sua metade parece que não está chegando a lugar nenhum. Até este ponto a interpretação de ambos os atores parecem ligados no piloto automático.

Especialmente na passagem do encontro do casal com um guia local do parque é totalmente dispensável, além de não agregar nada à história. A maneira que retrata o personagem é igualmente descartável, e mostra em certos momentos amadorismo da direção.

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Porém quando a história consegue finalmente sair do lugar, já perto de seu final, as cenas realmente se aproximam dos gêneros de horror, e fazem com que o expectador se identifique com elas.

Quem espera por um terror no estilo gore pode se decepcionar, pois “Sobreviventes” trata-se de uma história de uma “roubada” gigantesca para campistas e muito próxima do que aconteceu de fato. Por isso não há, portanto, demônios aparecendo, muito menos alucinações de qualquer personagem possuído pelo demônio.

Mesmo sendo uma produção de orçamento baixo, as cenas de ação são bem filmadas e, até certo ponto, impactantes.

Somente a partir deste ponto é que sobressai o talento artístico da atriz canadense Missy Peregrym aparece, e ele se destaca na opção de não utilizar os manjados gritos estridentes de gênero de horror, e sim em sons sufocados de alguém em completo estado de choque.

Não há, diga-se, escapadas milagrosas, nem soluções mágicas fora da realidade, e sim uma crueza de imagens vindas da ação e reação de fatos que podem embrulhar o estômago de pessoas mais sensíveis.

Mas mesmo assim, os pequenos erros cometidos no início do filme pelos personagens são colocados de forma discreta, além de colocar questionamentos no expectador a respeito de como evitar incidentes com ursos negros.

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O filme “Sobreviventes” é um filme despretensioso, mas que ao seu final consegue surpreender além de ao mesmo tempo trazer à reflexão a respeito de vários aspectos de atividades outdoor.

Para quem pretende mostrar algo instrutivo a um grupo de trekkeiros, experientes ou iniciantes, é uma obra ideal.

Inevitavelmente qualquer pessoa irá se perguntar como seria a sua reação caso estivesse no lugar dos protagonistas.

Nota Revista Blog de Escalada:

O filme “Sobreviventes” está disponível no Netflix

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There are 8 comments

  1. Olavo Klotzs

    O filme é muito bom, em nenhum momento deixa de prender a atenção. A criticada aparição do “guia”, deixa uma pulga atrás da orelha do espectador: será que é do bem, será que é do mal? será que vai reaparecer para fazer alguma maldade?, talvez essa tenha sido a intenção do autor, caso ele realmente não faça parte da história real… Os efeitos utilizados quando o jovem estava sendo dilacerado pelo urso, não perdem muito para as grandes produções, é bem impactante… Um dos melhores filmes que já assisti sobre trekking!

  2. Allan

    O mais estranho é que na vida real quem morreu foi a mulher e o homem tentou salva-la dando facadas no Urso. O filme inverte essa situação para dar mais ênfase na mulher, o que se tornou normal nos dias de hoje em todas as grande mídias e produções cinematográficas, que é valorizarem as mulheres por motivos escusos e políticos. Interessante que o crítico em nenhum momento também informo o que realmente aconteceu na vida real…apesar de mencionar o ataque real.

  3. silon

    o filme é interessante mas achei estranho no final o guia que eles encontraram no meio do filme ter encontrado ela no final,fiquei com duvidas se ele era do bem ou não,se ele sabia que tinha urso lá poderia ter avisado já que era um guia ou talvez não sabia e a partir desse acontecimento os próximos que iriam para a trilha ficariam sabendo ou será que ele tentaria se livrar dela pois as pessoas sabendo não iriam mais para a trilha já que era uma fonte de dinheiro,ou eles caçariam o urso,enfim são vários questionamentos…

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