Crítica do filme “Safety Third”

Pergunte a qualquer pessoa que aprecia assistir um filme o qual e o produtor considera ruim e de gosto duvidoso. Não é preciso muito esforço matemático para que, estatisticamente falando, que o comedidamente Adam Sandler irá ganhar boa porcentagem das respostas. Arrisco a dizer que ele pode até mesmo ser o líder desta lista de produtores de baixa qualidade.

Notoriamente o público do comediante são pessoas sem muito apreço a história e qualidade, somente buscando cenas de besteirol. Sandler consegue, ao mesmo tempo, desagradar tanto o seu público, que permaneceu fiel mesmo com produções indefensáveis como “Gente Grande” (“Grown Ups” – 2010), “Eu os Declaro Marido e… Larry” (“I Now Pronounce You Chuck and Larry” -2007), “Trocando os Pés” (“The Cobbler” – 2014) e “Os 6 Ridículos” (“The Ridiculous 6” – 2015), entre muitos outros filmes que faria parte de qualquer antologia sobre os mais horrorosos em termos de qualidade e respeito ao expectador. Por recusar a amadurecer como comediante e produtor, Sandler vêm perdendo os dois públicos: adolescente que aprecia de besteirol e a adulto que gostava de suas ironias.

Safety Third

O mesmo sentimento que Adam Sandler desperta, o americano Cedar Wright também faz o mesmo em produções de filmes outdoor. Wright parece se esforçar para ir piorando seu estilo a cada produção. Sua dedicação a isso, tornando-se de fato pior a cada produção, salta aos olhos de quem acompanhar seus trabalhos.

Se seu objetivo é sempre fazer algo pior que o anterior, o escalador americano conseguiu atingir o objetivo com seu mais recente filme “Safety Third”. Analisando mais com detalhes, a produção não é simplesmente de baixa qualidade, mas também ultrajante para os conceitos de escalada e montanhismo. Sem nenhum exagero, chega a ser doloroso assistir à “Safety Third”.

O grupo cômico “Porta dos Fundos” já eternizou o conhecido “tio do pavê” (aquele que sempre conta a piada de “é pavê ou para comê”), o qual muitos conhecem das festas de família. O “tio do pavê” é a caracterização da pessoa a qual o humor, além das coisas que lhe parece engraçada, ficou velho e obsoleto. Pois com “Safety Third” fica evidente que Cedar Wright é o “tio do pavê” da escalada americana e das produções outdoor. O americano parece tentar repetir as mesmas piadas que o já falecido comediante Costinha.

Safety Third

Durante várias passagens de um roteiro evidentemente escrito às pressas, a produção força a todo momento em fazer humor, que não tem a menor graça, e, desesperadamente, resgatar o espírito do programa televisivo “Jackass”. Nunca é demais lembrar que o programa da MTV durou apenas dois anos. No Brasil houve quem tivesse o desejo de copiar a mesma fórmula com o tupiniquim “Joselito, o sem noção“.

“Safety Third” narra a história do escalador americano Brad Gobright, um personagem da escalada americana e que, evidentemente, é muito amigo de Cedar Wright. O escalador possui o desejo de escalar em estilo solo uma determinada via nos EUA. Somente há um problema nisso tudo: Brad Gobright não possui nem o talento, muito menos a força e sequer tem o equilíbrio psicológico de escaladores como Alex Honnold. Inegavelmente possui talento para a escalada, mas não faz parte da elite, porém pensa que faz.

Fazendo um paralelo, seria como um centroavante de um time qualquer do Brasil se comparar à Cristiano Ronaldo apenas pelo número de passes certos. Não bastasse a diferença abismal de Gobright com a elite do esporte que pratica, o escalador é conhecido também por não se preocupar com a sua segurança.

O protagonista logo no início do filme sofre um acidente por sua pura e simples negligência com a própria segurança. Gobright tem de ser resgatado por bombeiros e ficar imobilizado no hospital. Apresentado como um escalador “dirtbag”, Brad logo aparece fazendo fisioterapia (que não é barato nos EUA) e se recuperando em uma casa de classe média. Ou seja, logo nos primeiros minutos do filme, a direção do filme já demonstra ser qualquer coisa, menos crível. A partir de então a qualidade do filme, que já era discutível, desce ladeira abaixo e em alta velocidade.

Outrora o Cedar Wright destacava-se por possuir apenas cenas que atraíam o espectador mais descerebrado, como é nítido nas cenas de escalada em seu fraquíssimo “Pra Caramba” (2012). Wright tenta repetir a fórmula com seu amigo Alex Honnold em “Sufferfest” (2014), sustentando um roteiro frouxo com uma ou outra cena de impacto. Mas o mesmo não acontece com “Safety Third”, pois o desinteresse em produzir algo de qualidade é latente. Ali está evidente a tentativa de criar um “Jackass” da escalada, quase 15 anos depois de a série ser cancelada na MTV.

O mais impressionante, além da total e infinita falta de talento de Cedar Wright para realizar uma produção com uma qualidade mínima, é verificar que o americano confunde de maneira pueril enfrentar riscos com fazer estupidezes. O mais triste é que quer convencer o público desta visão deturpada sobre a escalada. Para isso critica abertamente escaladores fortes de ginásios de escalada, mesmo admitindo que a escalada mudou muito nos últimos 12 anos, mas não consegue enxergar que ele não amadureceu sua visão do esporte.

Várias piadas internas, algumas até de gosto duvidoso, desfilam todo o tempo pela tela. O diretor, determinado a criar um produto cada vez pior que o anterior, resolve enaltecer a negligência de segurança e maturidade do protagonista. Quando “Safety Third” termina, não há nenhuma dúvida de que o esforço de criar um novo baixo nível foi atingido.

Entretanto, após o fim, o gosto amargo de presenciar que foi gasto tempo e dinheiro em uma produção ruim, que poderia ter sido mais bem elaborada, ou no mínimo possuir alguma maturidade, aparece. “Safety Third” parece que foi entregue a alguém que vive em uma eterna adolescência, vivendo no porão da casa dos pais aos 4o anos de idade e assistindo reprises de “Os três Patetas” e “Married with Children” intermitentemente.

Até mesmo este sentimento, de recusar-se a envelhecer, poderia ter sido explorado na produção, mas como não havia nenhum adulto por perto, o “crianção” Wright fez tudo de qualquer jeito, para que os amigos igualmente imaturos rissem das piadas internas. Mas e o público? O público, assim como o esporte, que se dane.

Nota Revista Blog de Escalada:

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