Crítica do filme “O Caminho”

Pergunte a grande parte dos peregrinos que estão no Caminho de Santiago qual o motivo de percorrê-lo. Grande parte das respostas envolverão motivos ligados à espiritualidade e estado psicológico. Apesar de ser criado com o objetivo religioso, o Caminho de Santiago pode funcionar como uma espécie de tratamento psicológico, para quem necessita repensar alguns aspectos da própria vida e existência.

Não à toa grande parte da literatura a respeito da peregrinação, aborda os aspectos de transformações, reflexões e superações. Isso é abordado, evidentemente, por realmente acontecer em grande parte dos peregrinos. Apesar de muito popular entre todos os níveis sociais, o Caminho de Santiago não é tema recorrente de filmes dramáticos. Há entretanto, vários documentários, com várias visões, a respeito de aspectos que nem sempre estão relacionados com particularidades de um protagonista.

A ideia de exorcizar os demônios internos em uma caminhada, mas não por abordagens científicas, interessou ao ator Emilio Estevez, que escreveu, roteirizou e dirigiu o filme “O Caminho” (The Way, 2011). O próprio Estevez se sentiu inspirado a escrever sobre o Caminho de Santiago, após seu filho ter percorrido os mais de 700 km pela rota francesa. No caminho ouviu varias histórias de superação, redenção e reinvenção foram relatadas a ele, que repassou ao pai e avô.

De maneira apaixonada Emilio Estevez desenvolveu um roteiro que pudesse abordar todas as histórias que achou interessante e, para surpresa até mesmo de seu pai (que protagoniza o filme), insistiu que fosse artístico e não um documentário. No filme, o personagem principal é o oftalmologista Thomas Avery (Martin Sheen), o qual é chamado às pressas para ir à França em decorrência da morte de seu filho.

Afastado de seu filho por muito tempo por divergências de ideias, Avery ao entrar em contato com seus pertences, resolve realizar o Caminho de Santiago para honrar sua memória. No percurso o protagonista conhece vários personagens típicos da peregrinação. Cada qual com seu trauma e uma maneira particular de vivenciar e encarar os desafios do Caminho de Santiago.

O roteiro do filme tenta introduzir situações corriqueiras do Caminho de Santiago, e fazer com que cada personagem, protagonista ou coadjuvante, vá contando fragmentos de seus traumas e feridas na alma. Muitos deles fazem promessas, que nunca são cumpridas, e esquivam-se a todo tempo de sair da zona de conforto. A história, apesar de ser entretenida, acaba sendo bastante óbvia,  chegando a um final já previsto desde a sua metade.

A direção de fotografia, que é o ponto alto de todos os filmes sobre o Caminho de Santiago, na produção “O Caminho” também não empolga. Porém é evidente, por isso, que o foco são nos personagens e situações tragicômicas, vividas pelo protagonista interpertado por Sheen. Porém a excessiva preocupação de documentar sua transformação psicológica, junto com a despedida e aceitação da perda do filho, o desenvolvimento de outros personagens ficaram reduzidos a clichês comportamentais.

Algumas passagens por lugares icônicos, os quais também podem ser encarados como catarses existentes no Caminho de Santiago, como a Cruz de Hiero, foram habilmente mostrados no ápice de drama na produção. “O Caminho” está longe de ser das melhores produções sobre o Caminho de Santiago, mas é um entretenimento garantido para quem já fez a peregrinação. É inevitável, ao longo do filme, não se emocionar com lugares e situações corriqueiras vividas pelo protagonista. Igrejas, trilhas, albergues e outros lugares estão ali de maneira simples, sem muito romantismo, mas na medida certa. O que, para a felicidade do expectador, é a grande qualidade da produção.

Mesmo sem empolgar, a produção consegue uma das coisas mais importantes a alguém que tem vontade de fazer o caminho de santiago: sentir vontade de fazê-lo. E é exatamente nesta característica é que a torna interessante.

Mas no conjunto da obra, analisando todos os aspectos, que um filme deveria ter para ser elogiável, “O Caminho” derrapa em vários aspectos. Próximo ao seu final a qualidade (que já não era muito alta) é ladeira abaixo. Os diálogos apelam muito a clichês óbvios, além de parecer ser escrito por roteiristas de novelas. As interpretações em vários momentos estão no piloto automático de cada ator. O protagonista, por exemplo, é extremamente bidimensional, o que dificulta bastante identificar-se com ele.

Algumas passagens parecem feitas apenas para estender o filme, sendo completamente dispensáveis. Infelizmente até mesmo os coadjuvantes, que pareciam interessantes e com histórias mais profundas, em um certo momento são deixados de lado e sequer tem suas histórias desenvolvidas.

Como forma de divulgar o “Caminho de Santiago” a produção é interessante, assim como para lembrar a quem já visitou. Porém como produção artística se assemelha a um telefilme de um canal de baixo orçamento.

Nota Revista Blog de Escalada: 

There are 5 comments

  1. José Gonçalves

    Olá Luciano Fernandes, vejo que é um homem muito viajado, já fez os caminhos de Santiago, tem um nome de origem Portuguesa e no entanto constato que não conhece Portugal e sendo assim nunca fez os caminhos de Santiago desde Portugal, sendo dos mais conhecidos e mais antigos.

  2. Esiopoeta

    Puxa vida.. eu aqui novamente.. fiz o Caminho pela terceira vez em 2018, em 2020 voltarei ao mesmo, para tentar entender direito esse caminho que apesar de longo para quem o vê de fora, é um tirinho de espingarda para quem o faz, pois 32 dias na ampulheta do tempo, voam rápido, muito rápido.
    Qto ao Filme, a mesma opinião: fraco. para quem não fez o caminho, é empolgante em algumas partes. A mim que já fiz poir 3 vezes, passável,. vale poir alguns lugares, ja que as cenas são irreais. Prefiro ficar vendo meus vídeos feitos com o celular e outros filmes feitos por peregrinos, que são mais atraentes. Só procurar aqui no google e vai achar alguns bons filmes amadores feitos por verdadeiros peregrinos…. [email protected]

  3. esio pezzato

    Assisti ao filme a primeira vez dentro do avião, indo para a Espanha, onde dia seguinte tomaria um taxi par SJPP e iniciaria meu Camino pela primeira vez. A ansiedade não e deixou ver o filme direito. Qdo retornnei ao Brasil nao vi o filme. Fiz novamente o Camino em 2015 aí fui ver o The Way… ou faça do seu jeito.. o Camino.
    Achei alguma coisa interessante… mas a atriz fazendo o caminho e calça jeans… nao mesmo. foge a tudo.. ficaria todinha assada… outras partes importantes do camino ficaram de fora… outras nem tao importantes, foram focadas… de um a dez a nota que sou é seis… passável… para entreter… na minha modesta opiniao de caminheiro e poeta. só isso. abraços. [email protected]

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