Crítica do filme “Meru”

meru-posterCreditada ao escritor Pablo Neruda, a frase “a vida é muito curta para ser pequena” é a que resume o sentimento de cada personagem do filme “Meru”, que tem direção e produção de Jimmy Chin. Chin é conhecido da comunidade de montanha pela sua qualidade como fotógrafo e produtor de filmes outdoor, sendo reconhecido em grande parte por suas produções feitas para a revista National Geographic.

Não seria exagero nenhum afirmar que Jimmy é um cara roots de verdade e que, além de ótimo escalador, também possui uma relação quase de religião com a escalada e o montanhismo. Motivado por esta paixão quase visceral juntou por vários anos, imagens e declarações captadas de seus companheiros Conrad Anker e Renan Ozturk para seu filme “Meru”.

“Meru” documenta a saga de cada integrante da expedição para realizar uma das escaladas mais difíceis do mundo, a via “Shark´s Fin” no Monte Meru, montanha localizada no Himalaia, mais precisamente na região da Índia, com 6.660 metros acima do nível do mar. A escalada desta via é considerada muito técnica e das mais difíceis do mundo, e até então nunca tinha sido finalizada. Os motivos eram muitos: mau tempo, avalanches, desprendimento de rochas e etc.

Iniciando com imagens desde 2007, a produção procura além de contar a história da escalada em si, também contar detalhes biográficos de cada integrante, utilizando declarações de familiares e cônjuges de cada um, além de várias fotos de infância.

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Grande parte do filme já tinha sido realizada em “Sharks Fin” de 2013, no qual pode ser visto como um resumo no que foi apresentado em “Meru“, porém sem muita captação de imagens e sim com muitas fotos. Logo ao início do filme nada de novo do que o próprio diretor já demonstrou em seu portfólio é disponibilizado, e até a primeira parte da produção parece algo que já foi mostrado em vários vídeos disponibilizados pela patrocinadora de Chin.

Algumas tomadas, inclusive, utilizam em demasia imagens que fazem propaganda das marcas que patrocinam a produção de cada um dos integrantes. Mas após à desistência do grupo durante a primeira tentativa de ascensão ao cume à via, o filme se transforma e envolve o expectador por completo.

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Descrições, e filmagens, de cada acidente pessoal com cada um dos integrantes causa, sem dúvida, uma compaixão intensa e uma intensa empatia com o espectador. Mesmo tento um inevitável tom dramático tanto nas narrações, quanto nas situações, ou superações, “Meru” procura se afastar do óbvio e não flerta com o formato “jornada herói”.

Muito pelo contrário, o diretor mostra que na vida a cada caída temos de levantar como se nada tivesse acontecido, e seguir em frente superando os obstáculos que surgiram com a queda. Especialmente na passagem sobre a superação espetacular de Ozturk, é documentada com sobriedade e com a realidade que deve ser, mostrando nas declarações a maturidade de seus companheiros de escalada, além da companheira do escalador.

Pela objetividade do roteiro muito bem construído, especialmente em dramas reais, em nenhum minuto a lucidez e veracidade da produção é perdida.

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Procurando focar sempre na busca do sonho de realização, e não no sofrimento físico de cada um, seja nos acidentes ou nas dificuldades de escalada, “Meru” sem dúvida é ao mesmo tempo uma ode aos sonhos de todos montanhistas e uma apresentação de gala a quem não pratica o esporte. Durante toda a produção há algumas escolhas que podem ser consideradas como escorregões, como as declarações de Jon Krakauer, que fala com propriedade e entonação dramática, por vezes até mesmo desnecessária, de partes da via de escalada sendo que ele mesmo nunca foi até lá.

Desconsiderando o tropeço de utilizar Krakauer no filme, “Meru” é uma produção impecável, e que deve encantar toda a comunidade de filmes outdoor por muitos anos, podendo ser, inclusive, colocada no pedestal de “melhor filme de montanhismo”. A qualidade de captação de imagens, grande qualidade de Renan e Jimmy pode ser apreciada em todas as passagens do filme, mostrando porque a dupla é considerada das mais competentes da atualidade na categoria de filmes outdoor.

Jimmy Chin não realizou somente um ótimo filme que documenta o montanhismo, mas também uma obra de arte que pode, e deve, ser vista por todos.

Nota Revista Blog de Escalada:

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