Crítica do filme “High and Hallowed”

High-and-Hallowed-posterNo montanhismo, assim como nos esportes outdoor em geral, há muitos feitos que são supervalorizados em demasia mas na realidade não significam muito.

Em contrapartida há outros pouco divulgados, muito disso por conta da dificuldade de serem concretizados, e possuem pouco frisson em torno deles.

Algo como valorizar aquilo que parece difícil, porque parece com o difícil.

A escalada no monte Everest, por exemplo, na qual pelo lado comercial pessoas sem nenhuma ligação com o montanhismo usam a fama da montanha para se auto-promoverem e alavancarem carreira de palestrantes e motivadores.

Neste estilo de auto-promoção baseada em feitos artificiais exemplos não faltam: sites de credibilidade inexistente, apresentadores de TV que viram palestrantes, celebridades que querem repensar seu status, agências de turismo de qualidade duvidosa, e assim por diante.

Todos sempre utilizando um esporte pouco difundido para dizer que faz algo, que na verdade não fez, utilizando da retórica para justificar aquilo que nem existe ou não foi realizado de fato e de direito.

Este tipo de realização faz a festa de publicitários que esqueceram a ética guardada no baú em casa.

Porém o que poucas pessoas divulgam na escalada à montanha mais alta do mundo é que há de fato rota difícil no Everest e que realmente oferece um desafio muito maior que somente ter dinheiro pagar sherpas para carregarem montanha acima.

Procurando reconstituir a história destes montanhistas conquistadores o filme “High and Hallowed” reconstitui um pouco da história do montanismo americano.

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Narrado pelo escritor Jon Krakauer, “High and Hallowed” possui imagens inéditas e declarações dos próprios montanhistas que fizeram parte da expedição até então a um dos lugares mais inóspitos do mundo.

Na produção toda a história de conquistas no Everest é contada de forma sóbria, sem muito estrelismo ou criação de mitos e heróis. Já por este fato o filme se diferencia de produções do gênero, que são carregadas de adjetivos superlativos como se o roteiro fosse escrito pelo narrador Galvão Bueno.

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O roteiro mais humanizado, e mais próximo à realidade, pode ser observado em dados de logística, equipamentos e arrecadação de fundos para a expedição. Não há ali nenhuma menção ao sentimento ufanista americano.

Paralelo à narração da história, alguns questionamentos a respeito da grande “farofa montanhista” que se tornou a escalada no Monte Everest são citados levemente. Criticas e observações a respeito da total exploração indevida da montanha é falada abertamente e sem medo de desagradar patrocinadores.

Como o foco do filme era somente lembrar da conquista e não somente questionar o montanhismo de turismo que é na realidade um grande teatro de pseudo-montanhistas que tornou-se a montanha ao longo do tempo, o filme reserva pouco espaço à estas reflexões.High-and-Hallowed-3

Com edição elegante, as imagens da época, muito bem tratadas e recuperadas, “High and Hallowed” possui bom ritmo, e somente parece se repetir próximo ao seu final.

Alguns efeitos gráficos são usados em demasia, mas não chega a comprometer a qualidade narrativa da história.

As explicações a respeito de estatística, e o porque o feito dos americanos é de fato impressionante, são deixadas para o final, e poderiam ser mais aproveitadas pelo público ao início do filme.

Durante o filme é também curioso também o fato de que é citado apoio político sem mencionar federações, associações ou institutos de montanhismo, dando a entender que à época não havia muita organização do esporte no país.

“High and Hallowed” é das poucas obras que pode-se chamar de documento histórico e não somente um filme apenas para homenagear.

A produção está longe, entretanto, de tornar-se um clássico obrigatório para admiradores do gênero, mas seguramente é entretenimento para praticantes e não praticantes do gênero.

O filme serve também de um estridente, além de merecido, tapa com luva de película para todo pseudo-montanhista que constantemente vai ao Everest. Para as pessoas que bradam orgulhosamente de ter ido à montanha mais alta do mundo pela via turística, ao final do filme seguramente sentirão vergonha de si mesmas.

Nota Revista Blog de Escalada:

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