Crítica do filme “Evereste”

Evereste-cartazUmas das técnicas mais usadas por jornalistas, e que foi criada por Joseph Goebbels, é a de repetir uma mentira mil vezes até que ela acaber aceita como verdade.

Este tipo de estratégia é sempre usada quando todo e qualquer jornalista, geralmente leigo em montanhismo, necessita fazer alarde de que o Monte Everest é a montanha mais mortal do planeta, o que de fato não é.

Qualquer pessoa que realizar uma pesquisa rápida na internet saberá que esta afirmação é mais uma das grandes lendas que todas as pessoas repetem sem saber que na verdade não é necessariamente verdade.

O filme “Evereste”, que é baseado em fatos reais e se inspira em dois livros que tratam sobre o mesmo assunto, também procura reforçar este mito, além de revisitar uma vez mais a fatalidade que vitimou oito pessoas em 1996.

A história do filme se situa em 1996, época do início de todo o circo comercial que virou a escalada do Everest e rotas turísticas.

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É evidenciado também no filme a maneira que veículos de comunicação aproveitam esta “facilidade” para enviar repórteres sem experiência de montanha para que lendas sejam propagadas, e obtenham mais audiência.

Todo o enredo de “Evereste” foi baseado em dois livros “No Ar Rarefeito” do jornalista Jon Krakauer e “A Escalada” do montanhista Anatoli Boukreev, nos quais os autores trocaram acusações sobre a fatalidade.

Ambos os livros tratam da morte dos oito montanhistas durante uma tentativa de ataque ao cume, e foi considerado por muito tempo (por jornalistas americanos, claro) como a maior tragédia do Monte Everest.

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A produção chamou atores de renome como Jason ClarkeJosh BrolinJohn HawkesRobin WrightEmily WatsonKeira KnightleyJake Gyllenhaal para que tivesse uma repercussão proporcional à fama que os artistas possuem.

O diretor Baltasar Kormákur desde o início procura dar cores reais tanto a procedimentos, localizações e vivência e convivência de escaladores. Esta procura por uma história com ambiente mais real irá agradar ao público praticante.

Há, entretanto, erros pontuais de uso de equipamentos e procedimentos, mas nada que não possa ser encarado como liberdade artística, e não tira a credibilidade da história.

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O início “Evereste” parece ter o roteiro influenciado pelos patrocinadores do filme, pois cria logo de cara uma importância inexistente de uma revista americana, além de colocar o jornalista Jon Krakauer, interpretado por Michael Kelly, como personalidade conhecida e reconhecida no meio montanhístico, sendo que somente se tornou celebridade de fato após a fatalidade.

Na apresentação de cada personagem, o próprio Krakauer é retratado como uma espécie de Ernest Hemingway (o que está longe de ser), sendo que na realidade o jornalista está muito mais para um versão Pedro Bial dos EUA.

Porém alguns pontos polêmicos não foram esquecidos e são tocados levemente, e que de tempos em tempos vem à tona na produção: a extrema comercialização da escalada ao Everest e questionamentos se pessoas não montanhistas estão preparadas para ir ao topo da montanha.

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O desconforto do personagem Rob Halll, interpretado por Jason Clarke, com a quantidade de pessoas que, assim como ele, estão explorando o turismo no Monte Everest é visível porém pouco explorado pelo diretor.

Pouco explorado também o fato de que mesmo que se envie alguém a fazer o Everest, isso não faz dele necessariamente montanhista, nem mesmo motivador corporativo.

Esta realidade, inclusive, é dita pelo interessante personagem Scott Fisher, interpretado por Jake Gyllenhaal, na qual contesta ao mérito de pessoas, como o próprio Krakauer de estarem ali.

Paralelo a isso tudo, atitudes que mostram o tamanho do ego de cada personagem também é colocada de maneira sutil, seja na linguagem seja nas atitudes, mas bastante perceptível. O personagem Beck Weathers , interpretado por Josh Brolin, é o que mais faz uso de argumentos “eu estou pagando, então eu posso”.

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O filme caminha bem, com cenas muito bem captadas e com efeitos especiais de qualidade e em algumas tomadas lembram muito o clássico “Um Corpo que Cai”, até que o diretor resolve colocar drama em excesso próximo ao final, quando é possível ver muitas lágrimas e reações passionais das pessoas.

Algumas cenas com Keira Knightley são totalmente dispensáveis, e Robin Wright está ligada no piloto automático.

Parte do filme deixa a entender que se uma pessoa tem dinheiro, ela consegue se salvar até mesmo da tragédia do Everest, e isso pode ser computado como um outro ponto negativo da produção, pois algumas cenas de uma esposa exigindo um helicóptero para resgatar (como se fosse algo barato) soa americano demais.

Kormákur tem ainda a sábia escolha de não querer tornar o filme maniqueísta, nem classificar ninguém como herói ou vilão da tragédia.

Entretanto, somando todos os fatores, “Evereste” é um bom filme de montanhismo, e talvez dos melhores feitos por estúdios hollywoodianos há tempos, e que cairá no gosto do público em geral.

Está longe, entretanto, de ser uma produção que fará todos correrem para escolas de escalada e haver uma revolução no interesse pelo esporte. Mas fica o evidente esforço e interesse dos estúdios de Hollywood em realizar um produto que retrate o montanhismo com qualidade e respeito, e “Evereste” faz isso.

Nota Revista Blog de Escalada:

Exibido em sessão especial para a imprensa e convidados, Evereste possui estréia no Brasil prevista para 24 de Setembro de 2015.

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There are 3 comments

    1. Luciano Fernandes

      Oi Neto

      Algumas de minhas experiências de mochilão, tanto na Europa quanto pela América do Sul, escrevi sim. Mas não fiz muitas. Até porque minhas experiências de mochileiro acho desinteressante pois sempre sou mais “low profile” e procuro ser bem econômico. O que as pessoas não gostam.

      Os conhecimentos técnicos eu coloco no site.

      Abs

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