Poucas pessoas sabem, mas ser merecedor de reconhecimento pelo seu mérito é algo que muitos atletas correm atrás, mas poucos conseguem.
Obviamente que no meio de tantos “reconhecimentos” há prêmios simbólicos e vazios, que se baseiam somente na amizade e em pesquisas sem muito critério pela internet, mas mesmo assim os ganhadores ficam envaidecidos, tanto que há um ditado antigo que afirma que “todos gostam de um elogio, mesmo o que ele seja falso”, o que se aplica neste caso.
Mas seguramente os escaladores Tommy Caldwell e Alex Honnold se sentiram honrados por serem merecedores de ganhar o prêmio do Piolet D’or, considerado dos prêmios mais prestigiados do montanhismo do mundo.
A premiação veio reconhecer a conquista soberba da dupla quando finalizou a “The Fitz Roy Traverse”, graduada em 5.11d (7c Brasileiro) de 5.000 m, no qual escalaram por cinco dias seguidos, em condições climáticas ruins, usando sapatilhas e botas na escalada realizada em fevereiro de 2014 todos os picos do maciço Fitz Roy.
Não há nada que tire o mérito da dupla, pois somente os escaladores mais preparados conseguem engolir o choro em escaladas no Fitz Roy e fazer o que a dupla incontestavelmente fez.
Para completar a celebração, a produtora Sender Films procurou enaltecer mais ainda o feito de Caldwell e Honnold, realizando o filme “A Line Across The Sky”.
O feito, entretanto, já tinha sido promovido pela patrocinadora de Caldwell em formato um vídeo de 7 minutos disponibilizado na internet.
Porém a produtora Sender Films, a qual é conhecida por produções da qualidade como, por exemplo, o soberbo “First Ascent”, o ultra-premiado “Alone in The Wall”, e o polêmico “High Tension”, tomou as rédeas de fazer um filme que deixasse a todos sem fôlego com a “The Fitz Roy Traverse”.
Desta iniciativa da produtora nasceu “A Line Across The Sky”, uma extensão do curta apresentado na internet, agora com 35 min de duração.
No filme há detalhamento de toda a preparação, tanto de Caldwell quanto de Honnold, para a realização do desafio, além de toda a logística de todos para tanto filmar quanto para a escalada em si.
Com muitas cenas realizadas pela própria dupla, o filme pode ser encarado como um video-relato da ascensão, e para familiarizar os interessados em como é uma escalada ao Fitz Roy.
Visivelmente desde o início, “A Line Across The Sky” possui o estilo padrão adotado pela Sender Films, e que vai acumulando ao longo dos filmes produzidos: edição dinâmica, bastante imagens de timelapse e, desde a última produção, animações com fotos e legendas.
Pela dinamicidade e uso de efeitos especiais, além de adotar um ritmo acelerado desde o início, o filme lembra bastante as reportagens feitas pela quase extinta MTV, quando eu seu auge no início dos anos 90 utilizava os mesmos recursos.
Porém quando a escalada inicia, o que se vê é uma quebra abrupta tanto de velocidade no roteiro, quanto de uso de gráficos para que o expectador se localize durante as filmagens.
Toda a parte da escalada marca a queda de ritmo do filme, e a certo ponto parece muito um vídeo feito para os próprios amigos, com visíveis piadas internas entre a dupla, e menos uma produção com roteiro definido e que em seu início parecia se levar a sério.
Algumas partes que abrilhantariam a produção, deixa evidente desconhecimento com a própria geografia, como o que é de fato a Patagônia, onde se localiza no globo esta imensa região, e nela onde se encontra o Fitz Roy.
As cenas da premiação de Tommy Caldwell e Alex Honnold duram pouco mais que 3 segundos, sem ao menos ter uma explicação do que significa o prêmio e o que achou cada um da dupla de o ter conquistado.
“A Line Across The Sky” marca mais um filme mediado na Sender Films, que parece mais preocupada em fazer auto-referências de seus astros, e de duas produções, do que, efetivamente, realizar grandes obras como fez no passado.
A produção, entretanto, não é ruim, mas também está abaixo da capacidade e da qualidade que a produtora apresentou outrora.
Nota Revista Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.