Mesmo que você, caro leitor, seja um escalador ou montanhista novato deve ter escutado ao menos uma vez alguma história sobre algum acidente por falta de atenção e displicência. A cada semana há a ocorrência de um óbito no montanhismo em todo o mundo. Não há uma estatística oficial do número de acidentes, mas basta acompanhar o número de e-mails do Google Alerts com a palavra “climbing”.
Segundo este raciocínio é fácil concluir que muito provavelmente nos últimos meses alguém soube de alguma história de algum acidente relacionado com a escalada. Algumas pessoas, por possuir falha de caráter e nanismo moral, optam por ocultar o fato de todos, da mesma maneira que os políticos acusados da Operação Lava jato. Outros, mais inteligentes e conscientes, escolher divulgar o acidente e fazer um post-mortem do ocorrido.
Os motivos são variados: falta de experiência, ausência de humildade e habilidade, excesso de confiança, falta de atenção, etc.
A ocorrência de acidentes não é característica de nenhum grupo em específico. Escaladores experientes, casais, amigos e etc estão dentro do espaço amostral de qualquer estatística de acidente.
O que é consciência?
A consciência na escalada, assim como em qualquer atividade de montanha, nada mais é do que a informação e estímulos recebidos do mundo exterior por meio de nossos sentidos e, consequentemente, percebida em nosso interior para, desta maneira, criar uma realidade. Esta mesma realidade irá se transformar à medida que adquirimos conhecimento a respeito das coisas. A consciência é, portanto, o sentimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar e compreender aspectos de seu mundo interior.
Por exemplo: Um escalador novato pode ver uma situação perigosa em uma via de escalada. Por outro lado um escalador mais experiente passará no mesmo ponto sem sentir a mesma sensação. Desta maneira um pode acabar por acidentar-se por conta da sensação de medo, enquanto o outro pensa que não. Porém o relaxamento em algum ponto perigoso, mesmo sendo fácil, também produz algum acidente pois o estado de consciência foi “desligado”.
Seguindo o mesmo raciocínio, pequemos o exemplo típico da escalada esportiva: escalar sem capacete. Pode parecer incômodo para alguns, que alegam o sentimento de liberdade cerceado. Como aparentemente não há nenhum perigo de vida porque, ao menos em teoria, as vias são seguras, repetem o costume relaxando-se. Este relaxamento faz com que a perda da consciência ao redor seja reduzida, conduzindo assim a um acidente.
O que é sagacidade?
Muito se fala sobre uma pessoa ser “sagaz” e possuir “sagacidade”. Mas o que seria isso na realidade? O conceito é relativamente simples: É a capacidade para depreender, aprender ou interpretar algo através de indicações simples. Utilizando outras palavras é saber reagir rápido a um estímulo do estado de consciência. Não é, entretanto, relacionado com a rapidez da resposta e sim com a eficácia dela.
Um montanhista sagaz é aquele que sabe que não está imune a algum acidente e procura estar atento todo o tempo na sua própria segurança. Sagacidade, portanto, seria uma pessoa decidida a voltar para casa inteiro no momento que sair dela. Não há, entretanto, nenhuma relação com medo nem de seu enfrentamento.
Um escalador sagaz sabe, por meio de sua consciência, o momento de ser ousado, prudente e de recuar diante de cada situação.
Perigos Objetivos na escalada
Escalar é um esporte de risco. No manual de qualquer equipamento, guia e site de escalada existe algum aviso sobre esta realidade.
Desta maneira há perigos existentes na prática da atividade. Os perigos objetivos são aqueles que podemos controlar como por exemplo:
- Utilizar sempre equipamento adequado
- Nunca esquecer de inspecionar previamente
- Evitar sempre improvisar qualquer equipamento de segurança
- Nunca esquecer de usar capacete em qualquer local de escalada
- Buscar sempre a informação correta em sites e livros de credibilidade
- Checar sempre as fontes de informação e o conhecimento de quem escreve
- Nunca tomar como verdade qualquer coisa lida na internet
- Reciclar sempre os conhecimentos técnicos de segurança
- Fazer sempre cursos de reciclagem e aprofundamento de técnicas de escalada
- Reler artigos e livros sobre um mesmo assunto que não domina
- Conhecimento do equipamento que possui
- Ler sempre o manual do usuário periodicamente
- Procurar utilizar o equipamento seguindo as instruções do fabricante, nunca do amigo ao lado
- Sempre inspecionar o parceiro antes de qualquer escalada
- Ter consciência que nunca se sabe tudo e sempre há algo novo a aprender
- Saber identificar perigos de acidente ao seu redor
- Estar atento a todos os procedimentos
- Ser humilde e não se achar o dono da verdade
- Escutar todas as opiniões, mesmo que não concorde
- Buscar sempre conversar, nunca discutir
- Deixar a postura de “xerifão” em casa e respeitar o conhecimento do próximo
- NUNCA achar que já sabe tudo
Perigos Subjetivos
Os perigos subjetivos são os mais difíceis de controlar, pois dependem muito do meio no qual estamos inseridos. Um exemplo clássico é a queda de pedras, animais peçonhentos, quebras de agarras de uma via de escalada, ataque de formigas ou marimbondos, etc.
Não há como prever um perigo subjetivo.
Contra este tipo de perigo há somente um remédio: aumentar nossa percepção exterior para tudo à nossa volta para, desta maneira, interpretar melhor o que está acontecendo e ter a sagacidade de agir.
- Fazem parte dos perigos subjetivos de qualquer escalada
- Queda de pedras, mesmo em locais muito frequentados
- Quebra de agarras de escalada, por qualquer que seja o motivo
- Queda de material de outro escalador como, por exemplo, uma costura, mosquetão, etc.
- Proteção (chapeleta ou grampo) mal instalada que acaba quebrando com o uso intenso
- Ataque de animais peçonhentos ou formigas
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.