Conheça Caynã o brasileiro mais jovem a escalar altas montanhas

Caynã nasceu numa região conhecida como Terras Altas da Mantiqueira onde cresceu acampando e subindo montanhas.

Aos 3 anos de idade começou a treinar escalada indoor e aos 7 já havia escalado a maioria dos picos do Parque Nacional do Itatiaia (Agulhas Negras, Prateleiras, Altar, Couto, Asa de Hermes e outros).

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

No ano de 2014, quando Caynã tinha 8 anos, fiz uma expedição ao Cerro Mercedario nos Andes Centrais.

O fato despertou nele o interesse pela altitude e pela neve — o universo alta montanha brilhava seus olhos.

A curiosidade virou vontade e agora era um projeto: 40 dias de expedição de carro à Argentina para conhecer a cultura, os lugares, escalar em rocha e tentar o cume do Cerro Plata a 5.943 m de altitude.

Preparação

Ao longo de 2014 Caynã repetiu vários cumes que já havia feito, fez trekkings e uma mini expedição à pedra do Picu em Itamonte-MG, onde ele carregou todos os seus pertences numa trilha exigente até a base da Pedra onde acampamos.

No dia seguinte escalamos os 120 da Pedra, comemoramos seu aniversário no cume, fizemos a sequência de rapéis, desmontamos acampamento e descemos a trilha de volta pra casa à noite.

Ao final Caynã estava super bem física e emocionalmente! Pronto, Caynã estava preparado para ir aos Andes!

A expedição

No dia 27 de dezembro de 2014 pegamos um voo para Cascavel-PR, onde encontramos uma amiga para seguirmos mais de 2.000 km de estradas até a região de Mendoza.

Arenales

Dois dias de preparação em Mendoza e partirmos para uma área de escalada chamada Cajón de Los Arenales, famosa pelas escaladas de aventura nas agulhas de granito alaranjado.

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

O objetivo aqui era rustificar o Caynã: 11 dias acampado em ambiente de montanha a 2800m, escalando agulhas duras com acesso difícil nuns dias e descansando em outros.

Assim Caynã se acostumou com a rotina e já fez um primeiro ciclo de aclimatação com as escaladas e caminhadas, tendo chegado a 4.000m.

É importante, sobretudo para menores de 13 anos, fazer uma boa aclimatação em altitude menores antes de ir para as maiores.

Nos últimos dias o pequeno já estava se arriscando a guiar e fazer segurança de cima para outro escalador.

Cordón del Plata

Após alguns dias fazendo compras, lavando roupas, visitando amigos e descansando no conforto de Mendoza, estávamos prontos para o próximo desafio.

O Cordón del Plata é considerado uma escola de andinismo pela didatica das rotas e foi justamente por esta razão que escolhemos o Cerro Plata para esta primeira experiência do Caynã em alta atitude.

Deixamos o carro no refúgio e subimos para o primeiro acampamento (Veguitas 3.200 m) de onde atacamos o Cerro San Bernardo (4.150 m) para aclimatar.

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Após duas noites no Veguitas, avançamos para o acampamento Piedra Grande (3.600 m), onde ficamos submersos nas nuvens por apenas uma noite e já partimos para o acampamento El Salto de Água (4.400m).

O Salto é um dos lugares mais surreais onde já acampei, o lugar é um platô incrustado no meio de duas montanhas, deste platô desce uma cachoeira linda (o salto de água), o silêncio ali, apesar de tantas outras pessoas espremendo suas barracas no pequeno platô é uma coisa que chama a atenção.

Muitas pessoas já atacam diversos picos, incluindo o Plata desde o Salto, mas nós optamos por subir mais um acampamento, cada km que pudéssemos economizar no dia de ataque ao cume era importante.

Após duas noites no El Salto e um porteio, avançamos para o acampamento La Hoyada a 4.700 m. As pessoas dizem que o vento castiga e destrói barracas ali, razão pela qual o acampamento é evitado pela maioria dos andinistas.

Nós estávamos com uma barraca nova e muito boa então resolvemos arriscar, de outra forma nossa chance de fazer cume seria muito reduzida.

O fato é que tivemos o acampamento só para nós por duas ou três noites e o menor problema com o clima.

Desde o acampamento La Hoyada atacamos o Cerro Vallecitos – 5.500 m e fizemos cume. A rota para o Vallecitos é a mesma do Plata até o col a 5.000 m de altitude, o que já nos deu uma ideia do que nos aguardava no ataque ao Plata, inclusive era possível avistar boa parte da rota que era bem mais longa e nada animadora de assistir ali do Vallecitos.

Cerro Plata

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Às 4:00h o despertador nos tirava dos sacos de dormir quentinhos. Após um rápido café da manhã estávamos do lado de fora da barraca rumo ao Cerro Plata, de longe víamos umas lanternas chegando ao col que divide as rotas do Vallecitos e do Plata. Subimos no escuro, um vento frio e forte dificultava nossa progressão.

A certa altura, ainda antes de amanhecer minha amiga não aguentou mais o frio e abortou a missão, combinamos uma comunicação de lanternas para saber se ela tinha chegado segura de volta ao acampamento e seguimos montanha acima.

Pouco metros antes de alcançarmos o col o sol começava a despontar no horizonte quando encontramos o trio que tínhamos avistado do acampamento.

Eles tinham subido do refúgio para o El Salto num dia, bivacaram ali e agora estavam tentando fazer Vallecitos e Plata no mesmo dia, estavam congelando e sofrendo muito os efeitos da altitude, não era bonito de ver, um deles estava realmente mal, foi a primeira vez que o Caynã viu na prática tudo aquilo que falamos sobre aclimatação.

Eles aceitaram um pouco do nosso chocolate quente e do mate, disseram que estavam bem para descer o amigo cambaleante e que não precisavam de ajuda.

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Agora éramos somente Caynã, eu e a montanha, a essa hora tínhamos certeza de que ninguém mais iria tentar o Plata nesse dia. Com o sol batendo forte no col a temperatura era de -5 e ventava muito forte. Buscamos abrigo atrás de uma pirca (murinho de pedras) e nos encordamos.

Eu temia que o vento derrubasse o Caynã e queria ajuda-lo um pouco nas subidas mais fortes para que ele tivesse energia suficiente para fazer cume e voltar ao acampamento. A subida não foi nada fácil, a temperatura se manteve negativa e o vento só aumentou, próximo dos 5.600 m Caynã começou a sentir sintomas de MAM (Mal Agudo de Montanha).

Havíamos conversado bastante sobre essa questão e ele estava muito bem instruído a não omitir qualquer sintoma. A partir daí fizemos muitas paradas e começamos a tomar mais água. O cume nunca chegava, com pendentes convexas, sempre tínhamos a sensação de estarmos chegando, isso nos desgastava mais.

Finalmente alcançamos um helicóptero caído na montanha, sabíamos que dali estávamos bem próximos do cume. O mesmo helicóptero que matou dois resgatistas no acidente em 1996 nos trouxe a motivação que faltava para acabar de chegar ao cume, e assim o fizemos. As 13:00h estávamos a 5.943 m de altitude no cume do Cerro Plata.

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

De volta ao acampamento entrei na barraca e não saí mais, mas o Caynã ainda teve energia para brincar de escorregar no glaciar. Se fui eu quem inspirou o Caynã a gostar de montanha, hoje é ele que me inspira a buscar desafios cada vez maiores nas montanhas.

Com este feito, Caynã tornou-se o brasileiro mais jovem a escalar nestas altitudes, e o fez em grande estilo: uma expedição auto-suficiente onde ele carregou todos os seus pertences, um pouco da comida e parte da barraca.

Provavelmente o Caynã também foi a pessoa mais jovem a escalar o Plata e o Vallecitos. Vale ressaltar que não escalamos em busca de recordes e sim pela diversão e desafio pessoal.

Para saber mais sobre Caynã e seus projetos

Não temos nenhum apoiador/patrocinador e estamos procurando um para a próxima empreitada.

Para saber mais acesse: https://www.facebook.com/caynadelasmontanas

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

Foto: Arquivo Pessoal Vinícius Maltauro

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