Como podemos confiar no corpo e diminuir a interferência mental na escalada

A escalada consiste em ficar entre posições de descanso e movimento. Assim temos de focar a mente nos pontos de parada, e confiar que o corpo se mexa quando escalar estes dois pontos. Um dos movimentos mais difíceis de manter a concentração durante a escalada é quanto temos de confiar no corpo. Como podemos confiar no corpo e diminuir a interferência mental? Sejamos intencionais com a forma de escolher onde focar nossa atenção.

Comecemos por compreender a importância de trocar a atenção à mente e ao corpo. Utilizamos a atenção de maneira diferente quando pensamos com a mente, diferentemente de quando tomamos medidas com o corpo. Portanto ao prestar atenção no que pensar, e no que fazer, sendo a mente ou corpo, é importante não dividir o foco entre ambos.

Foto: http://ob15.dsbeta.com/

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Por exemplo, aprendemos um grupo de exercícios para desenvolver a confiança no corpo e a consciência das interferências à mente. A intensão destes exercícios é aproveitar o conhecimento inato do corpo de mover-se. Se a mente estiver pensando quando nos movemos, irá interferir nos movimentos naturais do corpo.

Portanto a atenção se dividirá entre a mente e o corpo, diminuindo o compromisso do corpo com a atenção.

O primeiro exercício de movimento se chama “seguindo os olhos”. Nossos olhos se movem para cima e para baixo de forma automática à medida que escalamos, procurando onde agarrar e pisar. Instruímos os estudantes a agarrar a primeira agarra que aparece aos olhos, em vez de de “procurar” outras agarras. A primeira agarra que vem aos seus olhos indica a primeira que o corpo quer utilizar. A segunda, terceira, e assim por diante, agarras que os olhos captem indica o desejo da mente de uma sujeição maior.

Temos participantes que fazem o exercício em “top-rope” para eliminar a consequência de uma queda. Isso diminui o medo de cair e os ajuda a comprometer-se a fazer a atividade como prevista.

Entretanto, as mentes dos participantes ainda interferem na intenção do exercício. Apesar de recomendarmos agarrar, ou pisar, na primeira agarra, eles ainda tendem a procurar outras agarras maiores caso o primeiro seja pequeno.

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Foto: Jake Stanley | http://www.stuff.co.nz/

Esta tendência de “procurar” ocorre principalmente para boas agarras de mão, e não tanto em pontos de apoio dos pés. Inicialmente os participantes acreditam que a intenção do exercício é utilizar a primeira agarra grande que vem aos seus olhos, somente se os ajudar a escalar e não cair. Para eles não tem sentido esperar quando está mais perto de uma agarra maior.

Como instruções, deixamos claro a intenção aos participantes : não é escalar e não cair, é desenvolver a consciência de como a mente interfere no corpo.

Os participantes aprendem a forma de esclarecer a intenção de várias maneiras.

  1. Esclarecer a motivação
  2. Desviar a atenção
  3. Conhecimento experimental.

Em primeiro lugar esperamos que os participantes comecem com uma tendência de desejar uma melhora imediata. Mudamos sua motivação para valorizar o seu aprendizado, à medida que avançamos através dos quatro exercícios de movimento.

Esta mudança somente pode ser feita intelectualmente, mas sem ter que incluir a experiência de fazer os exercícios.

Por exemplo, podemos começar a fazer esta mudança no que foi colocado em comum no primeiro exercício de movimento: “Siga os olhos”. A proposta em comum inclui a compreensão intelectual que os participantes antes do exercício teriam. A experiência de fazer o exercício, e a síntese dos dois, como observadores e perguntas.

Os participantes se dão conta de como o corpo lhes indicou onde agarrar e as ações que realmente executaram. Se agarraram ou usaram a primeira agarra? Afinal, de fato estavam em “top rope” sem consequências de uma possível queda? O corpo viu a primeira agarra por uma razão muito específica.

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Foto: Brudder Productions RJ Sauer | http://www.gettyimages.com/

Esta razão é a necessidade inata do corpo se manter em equilíbrio. Tomar consciência de como o corpo nos conduz e , assim, ajuda a confiar nele.

Em segundo lugar, a mente distrai a atenção do momento presente. Por exemplo, quando os participantes vêem que a primeira agarra é pequena, a mente julga. A hesitação se encontra ainda no futuro antes que a mão agarre. A conexão entre mão e agarra se produz no momento presente, quando a mão aperta a agarra e a utiliza.

Quando executam a ação de apertar a agarra, no geral sentem que não caem. O corpo se ajusta automaticamente ao equilíbrio para a agarra que utiliza. O uso da menor agarra amplia o conhecimento experimental existente na mente quando se depara com outras possibilidades. Os participantes perdem oportunidades de aprendizagem ao permitir que a mente distraia sua atenção.

Em terceiro lugar sabemos algo quando experimentamos, nunca antes. Os participantes aprendem a importância do conhecimento experimental, no lugar de simplesmente a intelectualização do que é possível. Temos conhecimento intelectual através de realizar uma conexão com uma agarra.

Apertando a agarra é a experiência. A retenção será eficaz se nos permitir escalar, o não será se cairmos. Conhecemos a eficácia das agarras na base da experiência, não do pensamento intelectual.

Foto: http://www.thecenterfocus.com/

Esclarecer a motivação, a tomada de consciência da atenção, e o valor do conhecimento experimental nos da uma base sólida para trabalhar com a mente. Estes são descobrimentos, e conhecimentos, sobre a relação adequada com a mente, sabendo que nos da informação incompleta antes de experimentar um evento. Este conhecimento ajuda a desprendermos das formas limitantes da mente, no lugar de acreditar em tudo o que ela nos diz.

A atenção é de grande alcance. Se define como “concentrar a atenção na direção de uma escolha”. Escolhemos focar nossa atenção com a confiança no nosso corpo quando nos movemos. Ao tomar consciência da interferência da mente, melhoramos a capacidade de confiar no corpo.

Não deixando que a mente interfira com a forma de escolhermos para focar nossa atenção, aprendemos a focar a atenção por completo ao corpo quando nos movemos.

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