A Revista Blog de Escalada possui 10 anos de estrada e constantemente se depara com textos longos e inflamados a respeito de comportamento inadequado de pessoas na montanha. Este tipo de reclamação não é privilégio de nenhuma região do Brasil, ou qualquer país do mundo. O volume de pessoas aumentou muito nos últimos anos e, inevitavelmente, a quantidade de pessoas que se interessam por atividades como escalada, trekking, canoagem, rafting, hiking, etc, aumenta anualmente. Não há um culpado pois se estamos reclamando de um lugar super povoado nós mesmos é que somos os culpados: os povoadores.
Os mais românticos irão dizer que está sendo perdida a essência da montanha com tantas pessoas buscando desfrutar das atividades de montanhismo. Cada qual à sua maneira e, por isso, há diferenças brutais de comportamento. Por isso é importante estabelecer limites éticos para que possamos continuar a desfrutar dos nossos espaços preferidos. Ainda não liberaram a prática de montanhismo em outros planetas para podermos desfrutar de lugares totalmente desertos. Por isso estabelecer o que é de fato “respeito”, “ética” e um código de contudo a seguir-se é bem importante para que a montanha esteja disponível a todos.
Além dos princípios de segurança de montanha, que frequentemente é aprofundado sempre que possível aqui na Revista Blog de Escalada, há o código de conduta na montanha. A União Internacional de Escalada e Montanhismo (UIAA) possui um texto aprofundado sobre o assunto que é completamente ignorado por muitas escolas de trekking e escalada.
Importante salientar que o UIAA não tem poder legal de impor leis e regras a uma atividade livre como é o montanhismo, mas como é uma entidade preocupada com a longevidade da prática possui pontos interessantes a se destacar.
Responsabilidade individual
Um praticante de esportes de montanha (não importa a modalidade) realiza sua atividade sob a sua própria responsabilidade. Não se terceiriza a responsabilidade a ninguém, nem mesmo ao guia (que recebe para cuidar de você, mas ele não é sua mãe ou babá).
Cada indivíduo na montanha é responsável pela própria segurança e das pessoas que encontrar no caminho durante a sua atividade. Se for necessário orientar, e até mesmo chamar a atenção, que o faça sem a menor cerimônia.
Na tomada de decisões devemos aprender que estar consciente do que está fazendo é um bom começo, eliminando sempre o fator de esperar que alguém faça aquilo que você é responsável.
Comunidade de montanhistas
Todas as pessoas que encontramos na montanha, independente de classe, credo, etnia, nacionalidade, devemos ter sempre gentileza e respeito. Não importando a situação a qual se encontre, ser cortês com quem encontrar na montanha é obrigação de qualquer montanhista.
Durante condições de isolamento, ou sob estresse psicológico e mental, deve-se seguir a regra: “tratar aos outros da mesma maneira que gostaríamos de ser tratado”.
Mesmo que se encontre um rival na montanha, lembrar que este não é um inimigo e tratá-lo com diplomacia e educação.
Guias de montanha
Um guia de montanha deve procurar ter todo o conhecimento possível sobre as disciplinas de montanhismo e, quando estiver exercendo sua atividade, entregar a melhor experiência positiva aos seus clientes. O valor da uma atividade guiada por um guia em nada tira a igualdade de relações humanas (uma guia não é seu empregado).
O trabalho do guia de montanha é orientar o cliente uma experiência de montanha e na natureza.
Porém nunca deve-se esperar que o cliente seja carregado, arrastado, obrigado, forçado ou qualquer outro tipo de coerção que tire o mérito do esforço próprio.
Primeiras atividades
A primeira atividade em montanha deve ser realizada somente de forma ética, adequada à realidade e compatível à regulamentação (legal e ética) local e, obviamente, não afeta de maneira alguma as demandas de outras pessoas.
Ser o primeiro a realizar uma atividade, como abrir uma via de escalda, rota de trekking, ou cume de montanha, deve ser reconhecido como reflexo do estilo particular desta pessoa (montanhista, espeleólogo, escalador, etc) e não deve ser alterada e obrigatoriamente respeitado seu direito autoral.
É livre a qualquer pessoa que não concorde com este estilo não praticá-lo, mas nunca, sob qualquer hipótese, modificar, alterar, desrespeitar e remover qualquer tipo de acesso previamente criado em uma atividade de montanhismo sem consentimento do autor ou da entidade que administra o local.
Meio ambiente
Os praticantes de esportes de montanha estão obrigados a praticar suas atividades da forma mais ecologicamente possível e adequada e, sempre que possível, ser pro-ativos na preservação da natureza onde quer que esteja praticando a sua atividade.
Inegavelmente há vários locais onde a natureza é frágil, com espécies de fauna e flora ameaçadas por algum motivo.
Por isso todo montanhista deve ser atento ás demandas ecológicas do local onde esteja.
Emergências
Se encontrarmos qualquer pessoa em perigo durante a nossa atividade de montanha, não importando se é amigo, conhecido, familiar, conterrâneo, etc, deve-se fazer todo o possível para que seja provido o apoio qualificado e necessário o mais rápido possível.
Por mais extrema que possa ser a situação, não há “local livre de moral” no montanhismo, e toda e qualquer vaidade pessoal deve ser deixada em casa.
Ao visitar outros lugares
Como hóspedes em algum lugar com outra cultura, sempre dirigir-se de maneira diplomática e sempre de maneira moderada e respeitosa com as pessoas locais e também com os anfitriões. Procure sempre promova relações interpessoais por onde quer que passe. Mesmo visitando um outro país, procure ser o principal agente de relações internacionais onde quer que esteja e procure ter um entendimento social, religioso e político de maneira a não ofender ninguém.
Todo contato com qualquer cultura em culturas diferentes da sua (dentro e fora de seu país) influencia no crescimento moral e intelectual dos esportistas de montanha de maneira significativa.
Praticar a empatia, além de demonstrar a melhor educação obtida em sua casa, é essencial para que o montanhismo seja respeitado como esporte e construidor de caráter.
Espírito de Equipe
Confiabilidade, motivação, entusiasmo em um objetivo comum, consideração por cada membro de sua equipe e interesse em promover seus próprios interesses são as chaves para o sucesso de trabalho em equipe. Trabalhar em equipe deve ser, antes de tudo (até mesmo sair para a montanha) uma experiência positiva.
Para que o egoísmo fique suprimido a níveis mínimos, deve-se ter consciência, simpatia, humildade, boa vontade, juízo, respeito e sempre fazer compromissos que harmonizem com os interesses, e habilidades, de todo o grupo.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.