A pesquisa científica é importante para escalar melhor?

Ciência na escalada é um tema relativamente novo na escalada. É importante mencionar sua importância e atividade, que tem crescido exponencialmente nos últimos 10 anos. Desde os finais da década de 1980, a escalada esportiva, tanto em rocha como em competições, houve alguns escaladores que se perguntaram como funciona o corpo enquanto escalada e o que deveria fazer para melhorar. Antes de aprofundar neste assunto, devemos explicar alguns aspectos da ciência.

Ciência não é um dogma, nem uma disciplina infalível. Muito pelo contrário. Ciência tenta criar maneiras de explicar a realidade na qual vivemos, com explicações que sempre estão sendo confirmadas, melhoradas e, inclusive, refeitas. Uma explicação científica deve ser lógica e baseada em um universo de experimentação que possa ser repetido outras vezes. Repetição esta que, caso seja bem-sucedida, oferecendo os mesmos resultados, caso a explicação está mais perto de como funcionam as coisas.

Mas além disso, a ciência busca situações as quais possamos modificar a realidade ou “alguma coisa”, da maneira mais precisa possível. Um exemplo é ingerir remédios que curem alguma doença. Um analgésico, por exemplo, se é ingerido ameniza a dor, mas para isso houve anos de experiência. Com erros e acertos. Isso para chegar a “algo” que mudasse outra coisa, para o benefício de uma pessoa.

Foto: http://cienciasecognicao.org

Pois ciência na escalada é o mesmo processo.

Ciência na escalada é poder explicar o que passa quando alguém escala e, por outro lado, é usar o conhecimento adquirido para criar situações e treinamentos que melhorem ao máximo sua escalada. Por muitos anos, já mencionei em algumas aulas e palestras, que faça o que quer que seja, caso esteja em uma situação basal sua escalada irá melhorar. O problema reside no método que deve usar para que esta melhoria seja maximizada com a menor possibilidade de lesão possível. Utilizo novamente o exemplo dos analgésicos. Muitos analgésicos aliviam a dor, mas uma dose maior que o necessário causam efeitos adversos que podem, inclusive, colocar a vida de uma pessoa em perigo.

O campus board no início dos anos 1990 foi criado pelo lendário Wolfgang Güllich. esta ferramenta foi baseada em seu próprio conhecimento empírico, com algumas aproximações da ciência do esporte. Naquele dado momento produziu um benefício, mas com os anos tornou-se sinônimo de lesão e mal uso. Muitos de meus alunos me perguntam porque sou tão rígido com os tempos de repouso em sequências curtas. O motivo é que a ciência foi quem me deu as ferramentas para entender que método usar e não usar. Existem diferenças radicais entre descansar um minuto ou três minutos, dependendo do que está procurando. Quando colocar tudo isso nas suas fibras musculares, sistemas metabólicos e nervoso central, descobrirá um universo de possibilidades sobre o que é melhor e o que definitivamente é ruim.

Por muitos anos um amigo (o qual é escalador de 9°/10° brasileiro) treinava movimentos por até 30 minutos em um pequeno muro. No final dos anos 1990, este tipo de treinamento parecia “razoável” para todos, porque sempre era o cansaço que fazia cairmos de uma via de escalada. Se soubéssemos um mínimo de fibras musculares, e como elas se contraem em uma via de escalada, teríamos entendido que o que fazia meu amigo era o mais estúpido do mundo. Além disso era a real razão de que ele escalava 9°/10° e não 10°/11° brasileiro.

Ciência na escalada coloca à prova métodos “reconhecidos” por vários anos e em algumas ocasiões nos mostram que estes mesmos métodos podem passar para segundo plano ou até mesmo deixar de serem usados. Não basta saber apenas como se contrai a miofibrila, é necessário também saber como ela se comporta em distintos estímulos. COMPARAR o que foi foi o que definiu a ciência da escalada nos últimos anos.

Não quero soar muito técnico, mas por muitos anos estudos observacionais se tornaram a verdade nos anos 1990 e no princípio dos anos 2000, mas este avanço traiu dogmas em algumas ocasiões. Explico: em um estado basal, o que fizer produzirá mudanças. Portanto, o que tente, provavelmente fará com que a escalada e força melhorem. O problema é quando experimenta um método contra outro. E é aí onde a ciência tira a venda de seus olhos e evidencia que existem coisas que estão acontecendo, que poderiam ter melhorado. Mas se continuasse a usar o outro método, esta melhoria tivesse sido infinitamente maior. Voltemos ao exemplo de meu amigo. A princípio, seu método o levou a escalar graus elevados, mas foi o principal peso para tirar o melhor dele.

Ciência da escalada não é apenas uma frase “bonita”, ou um termo para parecer interessante. É a principal ferramenta para que muitos escaladores tirem a venda dos olhos e descubram que existem coisas que estão fazendo errado. Além disso, permite entender como fazer as coisas de maneira otimizada e com bons resultados. Ciência da escalada é um “perguntar sem parar”, buscar uma ou outra vez como explicar o que passar enquanto escala e, baseado nisso, como levar as pessoas a limites inimagináveis.

Este artigo tem o objetivo de conscientizar a escaladores que não fazem uso da ciência (achando que tudo o que é tosco ou empírico é o que dá certo), mas que se beneficiam 100% com o descobrimento de algumas poucas pessoas. Escaladores dedicados à ciência que querem “dissecar” incógnitas e criar um conhecimento útil e prático para muitos.

Tradução autorizada: http://rocanbolt.com

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