Checagem do parceiro: Relatos de acidentes de escalada que poderiam ter sido evitados

A checagem de parceiros (partner check em inglês) é um hábito que poderia salvar a sua vida.

Sobram exemplos de acidentes na escalada por falta de uma checagem da parceria, passando desde os que tiveram consequências fatais, lamentavelmente, até aos que apenas passaram um susto. Mas o que devemos entender é que os acidentes não fazem distinção nenhuma de gênero, nível de experiência ou nacionalidade. Por isso, o mais grave é que sempre aparece logo ali na esquina.

Foto: Eric Hengesbaugh | http://www.rockandice.com/

No ano de 1989 a escaladora Lynn Hill, uma das maiores lendas de todos os tempos, sobreviveu a uma queda de 20 metros de altura na qual, quase que por milagre, somente teve um tornozelo quebrado e um cotovelo deslocado (entre muitos outros hematomas e arranhões). A causa: não ter realizado uma rápida checagem de seu equipamento, na qual poderia comprovar que seu nó estava corretamente finalizado.

Existem casos mais recentes de acidentes que, sem dúvida nenhuma também dramáticos, como a escaladora norueguesa Rannveig Ammodt em Abril de 2012, ou do francês Mike Fuselier em 2015. Ambos acontecidos na Turquia. Na escalada nem sempre há uma segunda oportunidade.

No México (de onde escrevo) também há casos de acidentes que poderiam ser evitados, mas a combinação de diversos fatores deram resultado situações lamentáveis. Visto que na maioria dos casos, os acidentes nada tiveram a ver com o nível de experiência e menos ainda com os equipamentos de escalada.

Ilustração: Koran Shadmi | http://www.sierraclub.org/

Recentemente soubemos de um caso de uma jovem e talentosa escaladora que durante uma sessão de treinamento caiu vários metros no solo. Neste caso ninguém percebeu que a corda não tinha extensão indicada para a via e, claro, tampouco executaram o nó da outra extremidade da corda.

Um caso semelhante, mas com consequências mais sérias, aconteceu a um casa de escaladores, ambos com muitos anos de experiência, que tiveram de passar pelo que talvez tenha se convertido em uma das lesões mais sérias da vida de ambos. Lesões que ainda deixaram sequelas. O escalador mexicano experiente sofreu uma queda de 18 metros enquanto realizava um rapel de rotina, mas que novamente a ausência de nós nas extremidades da corda propiciaram o acidente.

Foto: http://www.freeman.com.mx/

Estes casos citados somente são alguns dos inúmeros exemplos do que tem acontecido e que, por falta de atenção e checagem cuidadosa, poderiam ter sido evitados. Mesmo que digam que um não sabe o que está passando na cabeça da outra pessoa, este é um dos ensinamentos que definitivamente ninguém quer sentir na própria pele.

Por isso agradecemos profundamente a Arantza, Óscar e Juan José por compartilhar algumas palavras e nos ajudar a evitar os mesmos erros e, com isso, aproveitar de uma escalada mais segura.

Relatos de acidentes

  • Arantza

Subi sem dificuldades a uma via enquanto treinava, mas na decida sofri uma queda ao chão aproximadamente desde a segunda ou terceira proteção. Caí sentado e foi um golpe seco. O problema foi que a corda não tinha o tamanho correto para a via a qual escalava. Não tínhamos percebido e, por isso, não colocamos o nó de segurança no outro extremo da corda. Foi uma experiência de muito aprendizado.

Até hoje sigo com problemas na cervical. Muito mais além da parte física, também ficam as consequências psicológicas.

  • Oscar

Meu acidente ocorreu faz mais de um ano em Los Dinamos (local de escalada do México). O problema foi que não me atentar que, diferentemente da via ao lado, minha corda não alcançava o tamanho da via. A via que existia ao lado era 6 metros maior.

As consequências físicas de meu acidente foi: duas costelas quebradas, escápula fraturada e um pulmão perfurado. Isso tudo somado a uma longa hospitalização e uma dura, e muito lenta, recuperação.

  • Juan José

A via, com 45 metros de altura, era imponente e ficava em Ocote (região de escalada do México) na região de Aguascalientes. Chamava-se “Inframundo”, uma via graduada em 9b (5.13 americano) que, curiosamente, depois de muitas tentativas consegui encadenar minutos antes de acontecer o acidente. A data era 9 de junho de 2012. A causa: falta de atenção, pois era uma via nova e de duas enfiadas e a primeira do lugar neste estilo. A emoção da cadena fez minha cabeça viajar e imediatamente comecei a pensar no meu próximo projeto. Assim que comecei a descer, sem considerar toda a rotina de segurança que as vias aí requeria.

Desta maneira a corda simplesmente acabou. Não realizei a manobra de passar na primeira parada e nem mesmo havia colocado um nó na ponta como backup. Por sorte minha corda era de 70 metros e isso ajudou a que somente caísse algo em torno de 18 metros.

Por milagre aterrizei no único metros quadrado que existia que permitiria sobreviver à queda. Fraturei o fêmur e o o pescoço. Por muita sorte estas lesões não deixaram nenhuma sequela.

Como fazer a checagem do parceiro

As instruções abaixo devem ser absorvidas por todo e qualquer praticante de escaladas.

Portanto leia com atenção e, se possível, exija que nos guias de escalada dos principais locais de escalada, tenham estas mesmas instruções que devem ser realizadas SEMPRE antes de uma escalada.

1 – Para toda e qualquer escalada, não importa o grau, realize uma checagem do seu parceiro (escalador e segurador). para os procedimentos que realizar sozinho, como rapel e desmontagem de vias, revise tudo mais de uma vez.

2 – Verifique a instalação do sistema de segurança e certifique-se que esteja correto. A corda deve estar passando no sentido indicado pelo sistema de freio (grigri ou ATC), o mosquetão travado e passando no loop da cadeirinha. Nunca passar o mosquetão pelas alças de encordamento da cadeirinha.

3 – Esteja seguro que a cadeirinha esteja devidamente colocada e ajustada. Revise a cada escalada todas as presilhas que a cadeirinha possua.

4 – Coloque o nó na parte correta da cadeirinha (passando pelas alças de encordamento da cintura e pernas). Assegure que o nó esteja feito do início ao fim, bem ajustado e executado. Um nó bem executado facilita a inspeção.

5 – Coloque um nó de backup no extremo final da corda. Estes nós devem ser efetuados também para manobras de descida de rapel.

Tradução autorizada de: http://www.freeman.com.mx

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