Canal americano produz série cômica sobre universo outdoor

Toda e qualquer comunidade considerada nicho por publicitários, e produtores de séries e filmes, quando se populariza rapidamente é explorada como forma de entretenimento. Se ele é de qualidade ou não é uma análise mais profunda e que nem será feita neste artigo. O que está sendo procurado no momento pelas produtoras de conteúdo televisivo é, entre as coisas de sempre, o conflito de gerações entre os denominados millennials (também conhecida como a geração da internet) e a geração X (concebida na transição para o novo mundo tecnológico).

the-great-indoors-2De maneira prática a geração X é aquela que nasceu nas décadas 1980 e 1990, e os millennials é a que nasceu já no século XXI. Com implementações tecnológicas muito distantes e, de certa maneira, promovendo disrupturas em culturas e status quoo choque de gerações parece mais intenso que o normal. Sempre houve, e sempre haverá, choque cultural entre gerações por qualquer se seja o motivo.

As comédias televisivas procuram, por meio do humor, tornar estes conflitos mais amenos e, às vezes, fazer uma crítica à alguma cultura ou parcela da sociedade. No meio dessa necessidade o canal americano CBS buscou produzir uma série cômica a respeito deste choque de gerações e, por algum motivo, o universo das revistas outdoor e das pessoas que praticam atividades “offline”.

Balizada de “The Great Indoors” a série foi criada por Mike Gibbons, produtor de TV que tem em seu currículo criações como o badalado “The Late Late Show with James Corden” (se não conhece procure por carpool Adele), e logo de cara coloca o dedo na ferida que muitas pessoas procuram fingir que não existe: O fim das revistas impressas. Junto deste cenário está ainda fato de que alguns veículos são mantidos por pessoas que sequer são praticantes de esportes outdoor, e frequentemente optam por criar artigos vazios de “Itens essenciais para um apocalipse zumbi” e como “escapar de uma ataque de urso”.

Pode parecer absurdo o retrato que a série enxerga, mas esta é a real, e nem um pouco exagerada, rotina que revistas impressas dedicadas a cobrir o mundo outdoor fazem a todo tempo, especialmente em terras brasileiras. Esta explícita e crônica falta de identidade com o público alvo já não é segredo para ninguém e, infelizmente, fazem com que as atividades outdoor sejam vistas da maneira mais pasteurizada possível. O descolamento da realidade é tão grande que, entre outras coisas, investem em conteúdo raso e superficial com idéias estapafúrdias como, por exemplo, enviar pessoas de seu staff, que nunca acamparam na vida, fazer montanhismo na Bolívia ou promover camping na região metropolitana da cidade de São Paulo com malas de rodinhas. Para escrever sobre uma atividade tão complexa, mas apaixonante, é necessário ser outdoor de verdade e, como todos sabem, grande maioria destas pessoas que trabalham nestas revistas não são (nem nunca foram).

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A série “The Great Indoors” procura misturar todos estes elementos (millenials, aventureiros, fim das revistas) em uma comédia apoiada no carisma e talento de atores como Joel McHale (conhecido pelo seu trabalho em Community) e Stephen Fry (V de Vingança). Como toda comédia televisiva (especialmente em TV aberta) nesta há um grande desfile de esteriótipos que, pelas imagens disponibilizadas no piloto (veja o vídeo no topo do artigo) parece ter muita preocupação em ser a sucessora da popular “The Big Bang Theory”, a qual tambem é baseada na exploração de esteriótipos.

Recepção da crítica

A série, que estreou na última quinta 27 de outubro, rendeu críticas divididas pela imprensa americana. Os números da audiência (que é o que mantêm uma série no ar) não foram divulgados ainda, mas parece que não decepcionou os diretores do canal CBS.

O prestigiado jornal “The New York Times” em seu texto, além de dar uma alfinetada no iminente fechamento de revistas ocas, elogiou várias piadas mas questionou até quando a fonte delas irá durar. Isso porque, afirma o autor do texto, em um dado momento o “aventureiro” irá aprender a usar a internet.

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Já o site IndieWire, especializado em conteúdo independente e o maior site dos EUA neste segmento, criticou bastante o fato de um canal ainda utilizar claque (as risadas por trás das falas) e abusarem de esteriótipos.

inglês “The Guardian” não poupou críticas e decretou ser “uma série totalmente sem graça”, e o jornal “US Today” afirmou que “apenas apoia-se em desgastadas piadas sobre clichês”.

No site de crítica de cinema e televisiva Metacritic obteve 51% de aprovação dos críticos e 32% do público em geral.

O piloto

A Revista Blog de Escalada teve acesso ao primeiro episódio da série (também conhecido como piloto) e após 22 minutos de várias gags clichês, algumas boas outras nem tanto, concluiu que “The Great Outdoors” é uma óbvia tentativa de repetir o sucesso de “The Big Bang Theory“, que chega à sua 10º temporada.

“The Great Outdoors” aposta muito de seu roteiro não no fato do protagonista ser outdoor de verdade e seus subordinados não, mas no conflito de uma geração tida como mimada e excessivamente dependente de redes sociais e engajamento nelas do que, propriamente, ser ou não ser outdoor. O objetivo da série claramente é refletir sobre a nova geração e não necessariamente de aproveitar a natureza.

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O fato da revista abandonar o formato impresso (que ninguém mais lê e sustenta-se no Brasil por meio dos BV publicitários e seus proprietários endinheirados) e entrar no ambiente web mostra uma tendência do mercado jornalístico. A ironia de que pessoas por trás de um veículo que nada tem a ver com o conteúdo agrada bastante pela ousadia e acidez. Mas por ser apenas o episódio piloto, é necessário ver como será o desenrolar dos primeiros episódios para uma análise mais profunda dos tipos de reflexões a revista quer levantar.

As referências à várias marcas, e até mesmo ao estilo outdoor dos proprietários da revista, pode ser uma boa propaganda para que os esportes de natureza precisem para pararem de ser considerados de nicho. No próprio episódio piloto há uma brincadeira/crítica a que Patagonia é na verdade um lugar, não uma loja a três quadras de distância. Este tipo de crítica pode fazer com que muitos esteriótipos possam ser desconstruídos.

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Mas para que todos estes benefícios indiretos aconteça, será necessário a série emplacar no gosto do público e quem acompanha séries televisivas sabe que isso depende de muitos fatores, sendo algum deles de probabilidade próxima a um eventual alinhamento de planetas.

Como este é apenas o piloto, muitos aspectos da série tendem a mudar e serem ajustados de acordo com o que a audiência exigir. Há, claro, a expectativa de que “The Great Indoors” amadureça e popularize o universo outdoor assim como fez como “The Big Gang Theory” fez com o universo nerd.

Para saber mais sobre a série, e assistir ao episódio piloto acesse: http://www.cbs.com

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