Cachorros nos locais de escalada: Pode ou não?

A discussão sobre a presença de cães nos lugares de escalada é antiga, e muitas vezes encosta no purismo excessivo de escaladores considerados de “extrema direita” com relação a alguns antigos paradigmas de escalada.

Os cachorros são, sem dúvida, companheiros fiéis de muitos escaladores e para quem possui um, o amor sentido por eles é tão similar quanto de um filho.

Entretanto os cães podem ser um problemas para muitas pessoas que visitam locais de escalada e isso não é culpa do cachorro, e sim do dono.

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Ilustração: Janio Garcia

Um cachorro malcriado seguramente brigará com outros cachorros, roubará comida, latirá de maneira incômoda e contínua além de, inclusive, agredir outras pessoas.

Todas estas atitudes caninas são 100% culpa do dono, que não soube educar boas maneiras ao animal e, portanto, é contra ele que devemos atribuir a culpas de seu comportamento.

Desde este ponto de vista, se deseja levar um cachorro para um local de escalada, pergunte a si mesmo o quão bem criado,e domesticado, tem de ser um cão para que ele não incomode aos demais.

O mito da “enfermidade”

Muitas pessoas alegam que cachorros podem levar enfermidades caninas a locais de natureza preservada, porém devemos contextualizar melhor esta informação.

É muito fácil generalizar e ser um ecologista extremo (e qualquer extremismo já demonstra ignorância) e não estar ciente de que sempre existe um “depende”.

As enfermidades que possam ter um cachorro, também são 100% culpa do dono, o qual deve deve ter sob sua responsabilidade as vacinas periódicas.

Desde este ponto de vista um cachorro bem cuidado é um cão saudavel, e que não andará transmitindo enfermidades.

O tipo de raciocínio genérico (de que cachorro transmite enfermidades) é colocar todos os cães do mundo no mesmo saco, e eximir seus donos de qualquer culpa.

Foto: RV Project | http://rvproj.com

Foto: RV Project | http://rvproj.com

Lembremos que muitos dos lugares de escalada estão dentro de fazendas, e mesmo as APA (Áreas de Proteção Ambiental) estão próximas a propriedades privadas, sendo visitadas pelos cachorros da vizinhança regularmente, além de, às vezes, gado de leite e corte.

Entretanto existem parques com grande fragilidade ecológica, que até mesmo não é permitido a prática de escalada, e sim muitas atividades de trekking c om baixo fluxo de público.

Esta particularidade não é o caso dos locais de escalada.

Querer ser “máximo protetor da natureza” proibindo cachorros em locais de escalada sem levar em consideração que cada escalador faz um impacto infinitamente superior ao local (se comparado ao cachorro) é uma farsa.

Por isso, para “proteger ao máximo a natureza” haveria necessariamente de proibir a entrada de escaladores, o que já foi feito em alguns lugares do Brasil e Europa.

Casos de proibição estapafúrdia

Exemplos não faltam como Arrayan (local de escalada na Espanha) onde “alguns” advogam a proibição de cachorros pelo “impacto ambiental” que estes podem produzir.

Pois bem, primeiramente o que haveria de perguntar é se os cães locais estavam com suas vacinas e vermífugos em dia. Fazer um cadastro da população de raposas e realizar um estudo de impacto ambiental dos próprios escaladores.

Pois seguramente que os cães que visitam ocasionalmente o lugar não seriam o principal problema.

Se não houver dados concretos, e livres de manipulação,  acabaremos nos comportando como os ecologistas extremos (conhecidos no Brasil de eco-chatos) e proibir a entrada de escaladores.

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Não entenda mal, pois todo entorno da natureza deve ser vem cuidado (não deixar lixo, não deixar papel higiênico usados, não fazer trilhas desnecessárias…), mas quando se opta pela exploração do local para a escalada há de saber muito bem que impacto ambiental maior haverá por parte dos escaladores e, a partir disso, planejarmos para levar o mínimo desse impacto ambiental.

Mas a solução adotada em 90% dos casos não é com a proibição de cachorros.

Conclusão

Após todas as ponderações expostas aqui, é que o que deve ser proibido são os maus donos de cachorros, os quais são os culpados.

Como não há como diferenciar um bom, ou mau, dono de cão, é recomendavel que opte por pedir às pessoas que evitem de levar cães aos locais de escalada.

Tradução autorizada de: http://soloboulder.com/

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There are 6 comments

  1. João Batista Rosa

    Boa noite Luciano.

    Adoro cachorros, e existe fatos e estudos científicos sobre o porque de não levar cães e outros animais domésticos, basicamente, cães e gatos, para ambientes outdoor, este assunto é muito passional, paixão pelo animal. Vou localizar alguns documentos e envio para você.

  2. Roberto

    Esse é um questionamento que sempre me faço quando vou aos meus trekkings, pois além de ser apegado ao meu cão, sair de viagem requer de minha parte um planejamento de com quem vou deixa-lo etc…Além disso sei que ele amaria mais que todos fazer as caminhadas comigo e meus amigos, mas normalmente os parques não toleram animais domésticos. Por um lado sou contra, pois poderia me resposabilizar por isso, por outro penso que se todos levassem seus cães para os parques seria meio caótico caso houvesse brigas e tal..é uma questão complicada mesmo. .mas acho que os cães também tem o direito de visitar parques desde que seus donos assinassem termos de responsabilidade. ..

    1. Luciano Fernandes

      Oi Roberto

      Obrigado pelo seu comentário.

      A questão de cães em trilhas e lugares de escalada é antiga, e passa por vários detalhes. Por exemplo quando visitamos a Espanha, Holanda, Alemanha e Itália, os cachorros dividiam espaço com pessoas não somente nos lugares de escalada, como também em lugares públicos.

      A questão de utilizar o argumento de que “todo mundo” levar seria o caos, acho fora da realidade. Pois não são todas as pessoas que possuem cães, e mesmo que as pessoas que possuem cães nem sequer se animam a leva-los aos lugares.

      O grande problema é em como o dono dos animais disciplinam seus pets. Um cão mal educado, em qualquer lugar ele irá se comportar mal. No Parque Ibirapuera na cidade de São Paulo há um espaço conhecido como Praça dos Cães, onde todos estão soltos para correr e socializar a vontade. Muito raramente há um problema de brigas, e mais raro ainda de um cão atacar uma pessoa.

      O argumento de impacto ambiental é facilmente quebrado quando verificamos que nos mesmo lugares de escalada há vacas e cavalos, animais muito maiores e com um potencial de doenças enorme.

      A ojeriza a cães parece muito mais um purismo de pessoas que muito provavelmente carregam outro tipo de preconceito do que embasado em fatos científicos.

      Abraços

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