Brasileiro cria versão brasileira do shit tube e lança campanha de uso – Intenção é diminuir o impacto ambiental em trekking

Pergunte a qualquer praticante de trekking e escalada qual é a sua principal preocupação em relação ao esporte. Maioria das respostas cairão no lugar comum: a conservação de trilhas e locais de escalada. Constantemente praticantes destas modalidades reclamam em redes sociais sobre esta triste realidade.

Recentemente a trilha que dá acesso ao Pico dos Marins, um trekking bastante popular no interior de São Paulo, teve um incêndio ocorrido por imprudência e desrespeito de visitantes. No incêndio uma grande quantidade de pessoas teve de ser resgatada por terem ficado no cume.

Quem pratica constantemente atividades de montanha sabe que este exemplo é somente a ponta do Iceberg. Os motivos são inúmeros e quase todos passam por problemas culturais e sociais da América do Sul.

Foto: Leonardo Fernandes

Ciente desta realidade o montanhista Leonardo Fernandes, que administra a Araucaria Expedicoes, tomou a iniciativa de criar uma versão brasileira do que é conhecido como o shit tube. O equipamento consiste em um tubo de PVC com uma alça para que o praticante de trekking carregue sua própria sujeira.

Fernandes sugere que o shit tube seja usado por escaladores, montanhistas, espeleologistas, além de muitos outros, para armazenar e trazer de volta os excrementos produzidos em suas passagens por ambientes naturais.

Porque usar o shit tube

As montanhas geralmente, possuem um ecossistema relativamente frágil, por isso, dependendo da quantidade de pessoas na trilha ou num acampamento, o ecossistema não consegue absorver todos os dejetos. Não bastasse este motivo é extremamente desagradável encontrar fezes humanas e/ou papel higiênico espalhado pela montanha.

Exemplos da adoção do shit tube há em muitos parques, todos fora do Brasil, o extensivo uso do equipamento. Sendo em alguns deles sua obrigatoriedade é mandatória. No Brasil a prática vem ganhando força e tornando-se mais comum em montanhistas mais conscientes. A própria Revista Blog de Escalada já publicou artigo sobre os procedimentos de defecar nas montanhas, além de alertar sobre as atitudes de praticantes de trekking que prejudicam toda a comunidade.

Foto: Leonardo Fernandes

A situação de lixos e fezes nas trilhas na Serra da Mantiqueira, segundo informações extraoficiais, chegou a um nível alarmante por causa da superlotação e o excesso de pessoas. Já foi noticiado em vários veículos outdoor relevantes que em alguns finais de semana, durante a temporada, vários grupos gigantescos (com mais de 40 pessoas) vão em direção a seus cumes.

A consequência disso é a multiplicação de casos como os descritos abaixo:

  • “Campos minados” na montanha (fezes na trilha)
  • Papel higiênico usados voando pelos campos de altitude
  • Cheiro desagradável (como está no Pico dos 3 Estados)
  • A água das chuvas levando as fezes para as nascentes de rios e contaminando a água que antes era potável (assim como ocorre na Base dos Marins)

Campanha de conscientização

Leonardo Fernandes está criando uma campanha, feita por conta com o apoio de operadores turísticos (hostel, hotéis, pousadas, transfers e guias) da região da Serra da Mantiqueira. O montanhista destaca que esta adesão está sendo feita principalmente nas cidades de Passa Quatro-MG, Itanhandu-MG e Piquete-SP e Cruzeiro-SP.

Cada hostel, guia e pessoa que fizer transporte de montanhistas nessas cidades, irá carregar um cartaz explicando a importância do uso e como utiliza o shit tube. Nos estabelecimentos terão alguns modelos à venda para os turistas que se interessarem pela causa.

A ideia é vender o shit tube a preço de custo, pois o objetivo não é lucrar com isso, mas sim ajudar na preservação.

Foto: Leonardo Fernandes

Adesão

Leonardo Fernandes está nesta cruzada pessoal, e até certo ponto altruísta, conversando com cada operador turístico da montanha e pedindo ajuda nessa causa. O resultado, embora de forma lenta, está aparecendo.

Várias pessoas já estão dando apoio à campanha do montanhista, que admite que falta conversar com muitas pessoas envolvidas na exploração turística da Serra da Mantiqueira. Até o momento a Associação de Montanhismo e Preservação da Serra da Mantiqueira (AMPM), da qual faz parte, comprou a ideia de imediato e está trabalhando em um projeto paralelamente.

There are 6 comments

  1. Fabio Bianchi

    Só não achei correto esse procedimento de colocar em sacola plástica para depois dar descarga ou enterrar. Se assim for teremos uma série de estabelecimentos próximos ao final das trilhas reclamando de entupimento e de sacolas plásticas poluindo o solo.
    Eu sempre enterrei minhas fezes, costumo levar comigo uma pazinha de jardinagem feita de plástico duro, leve e resistente. É só tomar o cuidado de não o fazer próximo das margens dos rios.

    1. Andrea

      Tb acho o mesmo! Dessa forma é mais realista, como ir à praia e levar seu saquinho de lixo, e recolher na saída, levando a uma lixeira próxima ou mesmo p casa. Prestar a atenção p não ser perto de rios e enterrar bem é importante! E talvez levar o cal e papel h., e enterrar junto! ??

  2. Getúlio GG

    Apesar de importante a iniciativa de fomentar o uso do “tubostão” (nada contra quem prefere usar anglicanismos) certamente não é “invenção” do Leonardo Fernandes.

    Creio que a realidade triste do que se vê na Mantiqueira se repete em vários outros locais, a exemplo do que ocorre aqui no Paraná, por exemplo, em sua montanha mais icônica, o Pico Paraná.

    O futuro não muito distante de revela negro (ou seria marrom?) se não fizermos nada hoje para conter a degradação que nossos dejetos causam nos ambientes de montanha.

    Parques Nacionais e estaduais deveriam exigir o uso deste tipo de dispositivos para ao menos reduzir este impacto.

    Façamos a nossa parte e passemos a usar o “tubostão” para nossas necessidades. Fácil de fazer e de usar. Só não vão usar como desculpa que não tem para vender, porque logo lançam versões da Norte Fake, e outras marcas famosas..

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