Estudo comprova importância do silêncio para funcionamento do cérebro

Viver em uma grande cidade é um aprendizado constante sobre como conviver com o ruído. São Paulo, a maior cidade do Brasil, possui regiões acima de 75 decibéis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece como nível máximo 50 decibéis. Caso alguém alguém esteja pensando que somente por não viver na metrópole paulistana estaria livre deste tipo de distúrbio, está enganado.

Noticiado em quase todos os veículos de comunicação da atualidade, em qualquer lugar do planeta vivemos uma verdadeira praga: as caixas de som portáteis. Seja na praia, trilhas na montanha, ciclovias, locais de escalada, etc. Todos estes lugares, que outrora eram redutos conhecidos de silêncio, estão sendo invadidos por pessoas que acreditam que sua música, e seu gosto musical, deve prevalecer sobre o ambiente (ou barulho de um lugar).

Diminuir os ruídos em áreas metropolitanas é um dos desafios das grandes metrópoles e é um problema complexo. Porém nas áreas com natureza, como locais de escalada, praias, trilhas, trekking, entre outras, cabe a cada um combater este tipo de mal costume. Não somente porque é apenas uma falta de educação, mas também porque o cérebro necessita de silêncio para o bom funcionamento. Parece exagero? Nem tanto, quando a saúde das pessoas está em jogo. Em um estudo recente realizado por uma universidade, concluiu que é exatamente o silêncio que contribui para o bom funcionamento do cérebro.

O estudo partiu do conhecimento científico de que o esporte estimula o crescimento de neurônios no hipocampo, a parte do cérebro que é encarregado da memória. Mas os pesquisadores se perguntaram se o mesmo efeito poderia ser alcançado com o som. Em testes realizados em ratos, procuraram primeiramente o uso de um som contínuo e, pouco depois, com música de Mozart.

Na experiência a única coisa que fez os neurônios multiplicassem, foi o silêncio. Duas horas ao dia de silêncio (algo que muita gente parece considerar impossível) proporcionam um efeito positivo, e até maior que o esporte, na neurogênese (processo de formação de novos neurônios no cérebro). Ou seja, ir a um lugar, fazer um trekking, ou mesmo escalar, colocando músicas (não importando o gênero), atrapalha o desenvolvimento do cérebro tanto do portador, quanto das pessoas à sua volta. Um efeito sonoro semelhante ao que fumantes causam em fumantes passivos, só que com o cérebro.

O silêncio é o espaço mental no qual se ativa a rede neural, de modo que o sistema dentro do cérebro atua quando refletimos sombre nós mesmos, definindo nossa identidade. Quando estamos ocupados em uma atividade, como acompanhar uma música (indesejada ou não), esta rede neural é inibida. Por outro lado, quando fechamos os olhos e estamos em silêncio (como ocorre quando meditamos), esta rede neural é ativada. Em outras palavras, é o silêncio que nos permite ter uma sanidade mental. O silêncio também é necessário para que recuperemos a energia do cérebro, após o dano causado a ele pelo excesso de ruído.

Caso os praticantes de esportes outdoor ainda não foram convencidos de que as caixinhas de som, assim como as pessoas que são os “inimigos do silêncio”, um outro estudo comprovou que crianças que vivem em locais mais barulhentos, possuíam pressão arterial sistólica elevada em repouso elevada e cortisol urinário durante a noite. Mesmo sem perceber, os ruídos indesejados (seja barulho de trânsito ou música) causa estresse.

Um outro estudo constatou que, com abordagem observacional, quanto experimental, indicam que particularmente o ruido noturno pode causar transtornos na estrutura do sonho, aumentos de pressão arterial e frequência cardíaca, além do aumento dos níveis hormonais do estresse.

Caixinhas de som na escalada podem matar

Mas o mais preocupante, ainda mais para quem realiza atividades de risco como escalada em rocha, é um outro estudo que indica mudanças cardiovasculares, cerebrais e respiratórias por influência da música (desejada ou não). Como é visto corriqueiramente, muitos praticantes possuem o costume de ir a locais de escalada portanto caixas de som, ou mesmo deixando música no próprio smartphone, podendo causar acidentes, mas mesmo assim sendo negligentes com a sua segurança e das pessoas à sua volta.

O estudo comprovou que a velocidade do fluxo arterial cerebral médio reduziu progressivamente com a exposição à música, independente do estilo. Consequentemente, a capacidade de raciocínio e análise foram reduzidas. Portanto, mesmo que não queira, a música em ambientes naturais, como a escalada em rocha ou um trekking, pode indiretamente causar acidentes e prejudicar o rendimento de outra pessoa. Mesmo que tenha sido a própria pessoa responsável pela música.

Claro que muitos podem argumentar que “uma música em volume baixo, não causa problema nenhum”. Mas, como os estudos comprovaram, causa. Problemas estes que possuem evidências científicas, não apenas baseados em opiniões. Não há, claro, estudos comprovando a quantidade de acidentes em locais de escalada, muito menos de noites mal dormidas em camping, por conta de música indesejada. Porém este incômodo, muito mais que falta de educação, é um perigo para o funcionamento do cérebro.

Mas, como os próprios estudos comprovam, as pessoas “inimigas do silêncio” insistem em não acreditar, música em ambiente natural pode causar acidentes. Se não causou ainda, é porque está cada vez mais parte de causar. Se para o escalador a segurança está acima de tudo, saiba que o silêncio faz parte dela.

Bibliografia

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