Campanha de marca polemiza afirmando que roupas de algodão convencional matam

A marca norte-americana de roupas outdoor é conhecida pelo seu ativismo com relação ao meio ambiente. Em nome desta postura, no ano passado chegou a recomendar abertamente em seu site, dois candidatos nos EUA nas eleições de mid-term. Além disso, nesta mesma semana a marca decidiu que não vai mais vender coletes para serem agredidos por empresas que consideram prejudicar o planeta.

O colete de lã da Patagonia, usado sobre uma camisa de colarinho, significando riqueza e poder, geralmente marcado com um logotipo de uma empresa de tecnologia ou de capital de risco, muitas vezes cedido pelas empresas como uma vantagem na construção de equipes. A Patagonia só venderá coletes de marca para as empresas que se alinhem com a sustentabilidade e ambientalismo da empresa.

Além disso, também lançou uma campanha de marketing muito polêmica, afirmando que o algodão “não orgânico” está longe de se algo natural e, segundo a empresa, mata e polui. Para difundir a informação, distribuiu um press release (comunicado feito por um indivíduo ou organização para a imprensa visando divulgar uma notícia) para vários sites do mundo para que o seu conteúdo fosse difundido.

No comunicado está a declaração que “o algodão está longe da brancura e suavidade que está associado. Os produtos químicos e inseticidas que são usados para a produção, poluem o meio ambiente, trabalhadores do campo e aos usuários das peças de roupas feitas com o produto final”.

“Muitos dos compostos químicos utilizados podem causar enfermidades como, por exemplo, câncer”, finaliza o título do press release. Ao procurar denunciar a prática de agricultura extensiva de algodão, a Patagonia também aproveita para bater em seus concorrentes que anunciam peças de roupas de algodão convencional.

Diferenças algodão e algodão orgânico

A diferença básica entre os dois tipos de algodão é até óbvia a princípio. O algodão orgânico é produzido com base nos princípios da agricultura orgânica, que é um processo produtivo comprometido com a organicidade e sanidade da produção de alimentos vivos para garantir a saúde dos seres humanos. A produção orgânica, segundo os ambientalistas, tende a ser melhor do que a convencional, por não utilizar agrotóxicos e pesticidas, diminuindo os danos causados ao solo, ambiente e ao ser humano.

O algodão convencional, cultivado por métodos de cultura extensiva, são considerados agressivos ao ambiente, animais e aos agricultores. Esta agressividade é justificada por utilizar o maior volume de agrotóxicos no planeta. De acordo com ONG de ativismo ecológico, 250.000 agricultores adoecem a cada ano no mundo. O motivo deste volume é justificável por um motivo até simples: como se trata de um produto que não é comestível, muitos pensam que não há problemas em exagerar na dose de pesticidas.

A produção de algodão orgânico se mostrou 46% menos instigante ao aquecimento global do que a de algodão convencional. Porém alguns levantamentos de uma ONG, afirmou que este número não é em assim. Um estudo baseado nos produtores dos cinco primeiros países cultivadores de algodão orgânico do mundo (Índia, China, Turquia, Tanzânia e EUA) mostra que, em comparação ao cultivo convencional de algodão, há reduções significativas de emissão de gases, acidificação, eutrofização e demanda de energia primária. Mas o consumo de água ainda é o calcanhar de Aquiles do algodão orgânico.

O plantio e consumo do algodão orgânico têm muitas vantagens, como a obtenção de preços 30% mais altos que do algodão comum. As técnicas do cultivo também permitem que o solo recupere sua fertilidade e o equilíbrio ambiental que se perderiam com a produção do algodão comum.

Onde está a polêmica a respeito do algodão

O periódico científico Esmerald Insight, que é publicado por uma editora britânica especializada em revistas acadêmicas e livros nas áreas de gestão, negócios, educação, estudos de biblioteca, cuidados de saúde e de engenharia, publicou um estudo científico comparando os dois algodões. O resultado mostra que os tecidos de malha produzidos a partir de algodão cultivado organicamente são superiores em desempenho em comparação com tecidos produzidos a partir de algodão comum.

Entretanto, o problema torna-se crônico quando se coloca na mesa a questão da produtividade. Segundo a Cotton Incorporated, organização sem fins lucrativos financiada por produtores de algodão nos EUA, o algodão convencional têm um rendimento maior, significando que uma única planta produzirá mais fibra do que sua produção orgânica. Isso porque o algodão convencional foi geneticamente modificado para esse fim.

O algodão orgânico, por definição, vem de plantas que não foram geneticamente modificadas. Devido a essa diferença, para obter a mesma quantidade de fibra de uma cultura orgânica que em uma cultura convencional, o produtor terá que plantar mais plantas orgânicas, o que significa usar mais área de plantio. Esta mesma área, claro, tem que ser cuidada e irrigada.

Portanto, o consumo de água, contendo ou não agrotóxicos, será maior. Para se ter uma ideia, após pesquisas a Cotton Incorporated aferiu que para a produção de uma camiseta de algodão convencional consome, em média, 1.300 litros. Por outro lado, o consumo de água para uma camiseta de algodão orgânico 3.000 litros. A disparidade é semelhante para uma calça de jeans.

Por parte dos ambientalistas, existe a alegação de que o algodão orgânico requer menos água ao longo do tempo, em grande parte porque o solo com mais carbono de matéria orgânica armazena melhor a água. Mas geralmente uma planta de algodão requer a mesma quantidade de água, seja ela orgânica ou não, e os agricultores não orgânicos também usam muitos métodos para manter seu solo saudável.

Um artigo do jornal The Washington Post, levantou a questão de que estes mesmos métodos de cultivo de orgânicos também possuem seus problemas. Os agricultores orgânicos usam adubo e esterco, rotacionam as plantações e cultivam muitos tipos de plantas. Mas também usam pesticidas, mas apenas alguns (principalmente não sintéticos, com alguns sintéticos aprovados), e muitas vezes apenas quando outros métodos de controle de pragas falham.

Além disso, há a preocupação ambiental com o uso racional da água na irrigação, especialmente em países como a Índia, que sofre com a escassez de água. Mas aproximadamente metade das plantações de algodão em todo o mundo (orgânica e convencional), retiram água das chuvas, de acordo com a Cotton Incorporated. A opção mais eficiente, portanto, seria a do algodão é irrigado somente com água da chuva, mas não há como saber se a camiseta que está comprando utiliza uma porção maior ou menor da água.

Portanto a principal vantagem em relação ao convencional, de acordo com os dados apresentados pela Cotton Incorporated, é que o algodão orgânico usa menos produtos químicos. Este deve ser o principal foco da Patagonia, ao decretar que “o algodão comum mata” (principal slogan da campanha). Porém, quem sabe em um futuro próximo, a empresa também comece a também exigir de seus fornecedores que o consumo de água, assim como a utilização de grandes porções de terra, também sejam minimizados pela indústria de algodão orgânico.

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