Alex Puccio polemiza em texto sobre graus e mídia outdoor

A escaladora americana Alex Puccio dispensa grandes apresentações, e seu curriculum fala por si quando o assunto é sobre alto rendimento.

Puccio, que recentemente voltou a escalar em alto nível após recuperação de contusão no joelho, aproveitou para publicar uma mensagem às mídias outdoor para uma reflexão.

No seu texto, pede que seja reavaliado a maneira que o esporte está sendo visto pelas marcas, e pelas mídias outdoor, de como são vistos os graus de escalada e a superação de atletas.

Foto: Jason Kruse

Foto: Jason Kruse

Logo após a publicação de seu texto fica evidente que marcas de produtos esportivos, assim como parte da mídia que aposta na filosofia do “oba oba” (com a já batida masturbação dos graus de escalada) em detrimento dos valores do esporte, possuem visão deturpada de seu público, assim como do que significa patrocinar uma atleta.

Em seu texto Alex Puccio procura deixar claro que ela representa uma marca, e seu contrato é para isso, não para apenas realizar os graus que algum patrocinador, ou fã clube, quer ou que a mídia anseia.

A americana aproveitou, portanto, para colocar o dedo na ferida sobre valores do esporte, e da cobrança exagerada por resultados que muitas vezes não representam muito para a comunidade, e expor um problema que muitos atletas enfrentam tanto no Brasil como nos Estados Unidos.

Atletas femininas pressionadas por marcas

Na semana passada alguns jornais publicaram, com pouco destaque, que a surfista brasileira Silvana Lima, não conseguia patrocínio por conta de “não ser bonita o suficiente“.

A declaração foi concedida à rede britânica BBC, quando a cearense de 31 anos, afirmou categoricamente que é rejeitada por grandes empresas porque não é bonita o suficiente.

Como atleta Silvana foi nomeada oito vezes a melhor surfista do Brasil, além de também ter se consagrado vice-campeã mundial em 2008 e 2009, mas hoje ela possui apenas um patrocinador para bancá-la, e por isso teve de recorrer à campanhas de crowdfunding para ir a várias etapas do circuito mundial de Surf.

Foto:

Foto: http://www.bbc.com

Não é segredo para ninguém que no montanhismo e escalada, especialmente no Brasil, acontece a mesma situação, com atletas com alto rendimento, mas “esteticamente não atrativas” do ponto de vista sexual, não possuem patrocínio para ao menos continuarem a competir.

O preconceito velado que existe no mercado outdoor pode ser constatado facilmente observando que marcas internacionais quando vieram ao Brasil, optaram por patrocinar apresentadoras de TV, que se travestia de montanhistas, além de fechar os olhos a atletas de alto rendimento em esportes de montanha.

Hoje nos Brasil as escaladoras de alto desempenho, e que estão constantemente quebrando barreiras no esporte, são ignoradas pelas empresas, sejam elas grandes ou pequenas.

Um outro sintoma deste tipo de tratamento diferenciado é a “regra” pedida a produtores de filmes outdoor, mas que é falado abertamente nos bastidores, de que se alguém quiser emplacar uma série em um canal de TV a cabo que tem foco em esportes de natureza, deve ser loira, bonita e em forma, pois este é o critério de aprovação.

Apesar de parecer absurdo, este fato é evidenciado pela injustificada exibição de “garotas da semana” apenas em biquínis, escancarando a ideia de que somente beleza justifica a criação, e exibição, de uma série de esportes de natureza para a TV.

Texto de Alex Puccio

Leia abaixo a tradução na íntegra de seu texto.

Caros publicitários e mídia

Existe algo que me incomoda muito. Eu estou muito frustrada o que tem de fazer para ser nivel “top” no nosso esporte. Eu acho que sou uma escaladora, e pessoa, bem honesta e nunca estarei ok em fazer um alto grau na escalada apenas para ter reconhecimento, e publicidade, apenas para ser mais “famosa” no esporte.

As pessoas sempre terão as suas opiniões, e a coisa triste é que enquanto escaladores aumentam o grau apenas para “parecer legal” eles até podem estar tendo mau retorno de ouros escaladores profissionais, ou escaladores imersos no esporte, mas a maioria não sabe nem sequer que eles parecem fodões !

Claro que eu poderia dizer que já fiz outro V14, ou mais V13 ou até “avistei” um V12, mas não sou assim e não estaria sendo honesta comigo mesma, nem com a mídia. Nunca serei uma daquelas escaladoras que fazem isso apenas para aparecer! Aliás algumas das escaladas que foram mais duras para mim não foram V14, ou até mesmo V13. Existem alguns poucos V12 que eu escalei que foram mentalmente, e fisicamente, mais difíceis para mim por conta da quantidade de movimentos e agarras abauladinhas.

Eu gosto de procurar os boulders ” não feminino ” ou “não para pequenos” porque eu gosto de um desafio!

Eu não quero ser definida pelo meu sexo e altura, e ninguém vai me dizer o que eu posso e não posso fazer!

E eu não vou apenas ir procurar uma escalada com um grau alto anexado a ele só porque ele é meu estilo e que seria mais fácil para mim.

Se eu me inspirar por um V15, e em seguida, vou trabalhar um e se assim acontecer de ser a primeira mulher a fazer isso, então que assim seja, mas eu não estou em uma corrida para isso!

Eu faço o que eu faço porque eu amo isso!

Uma escalada tem de me inspirar para o que eu tente o meu melhor nela e me divertir malhando, caso contrário, é sem sentido. Vou manter sempre a empurrar-me, mas com honestidade !!!

— Alex Puccio

Para saber mais acesse: https://www.facebook.com

Dear publicity and Media, there’s something that really bothers me. I’m pretty frustrated with what it takes to be at…

Posted by Alex Puccio on Wednesday, March 2, 2016

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