Pequenos acidentes no trekking: Como fazer administração de feridas

Por definição um acidente é um evento inesperado e indesejável que causa danos pessoais. Pequenas feridas na pele, como cortes, escoriações, ralados, etc, são parte das atividades de montanha e acontecem todo o tempo. Faz parte do conteúdo obrigatório de todo montanhista que se diz experiente saber cuidar deste tipo de ferimento. Mesmo sendo pequenos, estas feridas tem de ser tratadas devidamente para que não infeccione e tornarem-se algo mais sério.

Parece algo muito simples, mas muitos médicos relatam que recebem um número razoável de consultas de pessoas com machucados e ralados de pequenos acidentes, cuidados inadequadamente. Especialmente pela cultura de que quando aparecer a “casquinha” do machucado, as pessoas ficam mexendo nela, comprometendo a cicatrização.

Foto: http://bodenner.net/

No caso de uma ferida, ralado ou corte superficial (não confundir com fratura) o mais importante é encarar como um mecânico de automóveis faz quando conserta um vazamento em um veículo. Primeiro o mecânico procura onde está o vazamento e prioriza estancá-lo. Estancado o vazamento, o mecânico procura isolar a fonte de vazamento em algum tipo de remendo. A partir do remendo, o profissional tenta colocar a região a mais perfeita possível para que fique praticamente igual ao original.

Tratando-se de feridas, o procedimento é muito semelhante: limpeza, proteção e monitoramento. Estes três elementos são fundamentais para uma eventual ferida em um trekking não inflame nem se torne uma infecção.


Limpeza

A primeira coisa que se deve ter de fazer diante de uma ferida é preocupar em limpar e, obviamente, não entrar em pânico. Não confunda pressa com afobação. Procure estar calmo para que a pessoa ferida também esteja calma. A partir desta serenidade, faça a limpeza da ferida, procurando eliminar tudo : terra, folhas, espinhos, tecidos da roupa, ou seja, toda a sujeira.

Neste momento não utilize álcool, pois este tipo de procedimento causa danos aos tecidos. Não use tampouco anticépticos e desinfetantes. Use somente sabão neutro no entorno do ferimento, mas evite de colocar em contato com a ferida propriamente dita. A lavagem do tecido no entorno do ferimento é para remover o máximo de bactérias e vírus, evitando o desenvolvimento de uma infecção.

Procure utilizar água corrente ou, se possível, água potável (se necessitar potabilizá-la, melhor). Caso a água possua uma certa pressão, como na torneira de sua casa, melhor. A pressão se justifica por a água com pressão conseguir remover todo e qualquer tipo de elementos dentro do ferimento.

Caso houver algum tecido morto, característico de ralados, procure remover.


Proteção

Com o ferimento limpo, chegou o momento de fazer um curativo. Este curativo deve durar pelo menos as primeiras 24 horas, enquanto a crosta (a famosa casquinha) ainda não se formou. A formação da “casquinha” indica que o ferimento está cicatrizando. Remover a casquinha, por qualquer que seja o motivo, apenas irá retardar a cicatrização e abrir as portas para uma infecção ainda maior.

O processo de proteção da região deve ser feito após a limpeza. Procure cobrir a região com uma gaze, preferencialmente não-aderente, faça um curativo. Para a fixação da gaze, utilize uma bandagem elástica ou uma atadura, para manter a parte protegida. Procure deixar o ferimento respirando, para que ele comece a formar a “casquinha”. Além desta proteção, procure deixar a região aquecida, especialmente se estiver em algum lugar com clima frio.

Para trekkings em local úmido ou chuvoso, procure deixar o curativo protegido da água. Deixá-lo umedecido ou encharcado irá dificultar a respiração do ferimento. Lembre-se: ferimento que não respira, não cria “casquinha”.


Monitoramento

Durante o restante da atividade, procure monitorar como está o ferimento. Se há sangramentos ou se o local começou a inflamar. Para atividades que duram mais de 24 horas do momento do primeiro curativo, é necessário trocar a bandagem. Portanto é necessário saber a exata hora que foi feito o curativo para que seja feito uma manutenção.

Caso neste monitoramento ficar evidente que a ferida está infecionada (vermelhidão, formação de pus, dor, inchaço na região), procure repetir o procedimento de limpeza. Caso esteja com pus, procure removê-lo. Para uma ferida infecionada, o monitoramento tem de ser mais intenso e cauteloso.

Caso a ferida, mesmo monitorada, não apresente sinais de estabilização, é necessário avaliar a necessidade de ajuda médica. Chamar o resgate do local onde esteja. Mesmo que o resgate não seja chamado, no momento que acabar a atividade, procure atendimento médico especializado.

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