A “quase morte” de dois escaladores experientes

No feriado da semana santa, passeando pelas trilhas do complexo das Pedras do Baú-Bauzinho, encontrei alguns amigos e conversava sobre escaladas das vias daquelas rochas quando um deles me confessou a seguinte história:

Pois é Inácio, passei o maior perrengue nesta via da qual você está comentando, eu e o meu parceiro combinamos chegar bem cedo e ele ficou de trazer os móveis e eu o restante do equipo a ser usado em conjunto.

Tudo estava como combinado, chegamos bem cedo, mas, na base da via descobrimos que ele havia esquecido um detalhe, os móveis. Pensamos em ir para outra via, mas considerando que eu estava mandando “um grau e 2 letras” acima do crux da via, eu achei que apesar de ser móvel, eu mandaria com sobra, usando apenas as proteções disponíveis.

Aí falamos um pra o outro KMON e fomos. Uma coisa é mandar sétimo grau protegido, outra coisa é mandar o sétimo solando, eu amarelei mas tive que subir mesmo assim, pois, após a última proteção fixa não havia nada que me segurasse, caso eu caísse, despencaria pelo menos 10 m aterrissando no platô onde estava o parceiro fazendo a “segurança”.

Que roubada! Ainda bem que a base não era móvel.

Uma semana depois, em outra conversa, eis que escuto uma história semelhante vinda de outro amigo:

Pois é Inácio, passei o maior perrengue na via tal do complexo Baú-Bauzinho, combinei com o meu parceiro, de chegarmos bem cedo à base, e tudo deu certo, apenas um detalhe não batia, o croqui diz que deveríamos levar os micro-friends e não o fizemos, como eu e o parceiro estamos mandando “3 graus e 2 letras” acima do crux da via, achamos que dava pra mandar somente com o que tínhamos, que eram as peças do 0,3 ao 4 e as nuts e micro-nuts.

Falamos a palavra mágica KMON um para o outro e partimos pra cima, foi um horror, uma coisa é um quinto grau protegido em móveis pequenos, outra coisa é um “quinto grau baú” solando.

Amarelamos e tivemos que desescalar, não sei do meu parceiro, mas eu confesso que cheguei à beira da tragédia.

Tudo está bem quando termina bem, foi o desfecho destes dois casos, mas às vezes a coisa termina mal e todos ficam mal.

Uma das regras básicas é seguirem as recomendações do croqui da via, principalmente quando você não a conhece, claro que existem recomendações que podem ser deixada de lado, mas isso somente quando você sabe os detalhes e conhece muito bem a via.

São erros bobos que matam os experientes!

Felizmente estou aqui narrando dois desfechos sem tragédias, mas, talvez por muito pouco, poderia estar noticiando a morte de dois grandes amigos escaladores experientes, e depois estaríamos todos fazendo conjecturas para saber o que aconteceu.

Provavelmente nunca saberíamos o tamanho da bobeira cometida que os teriam ceifado.

O que podemos concluir de ambas histórias é que a experiência nunca dispensa a prudência.

There are 4 comments

  1. Sandro

    Se isso é “quase morte”, vai me desculpar mas parece muito sensacionalismo. Claro que esses casos são exemplos de imprudência, irresponsabilidade e inconsequência. Condutas a serem condenadas. A meu ver não se trata de escaladores experientes, muito menos conscientes. Infelizmente são atitudes como essas que levam a acidentes com consequências desagradaveis, que muitas vezes colocam a vida de terceiros em risco. Bom exemplos a não serem seguidos!

    1. Luciano Fernandes

      Sandro

      Receio que não tenha prestado atenção ao título, que contém aspas, exatamente para suavizar o impacto da palavra morte.

      O autor quis alertar exatamente para as pequenas negligência que muitas pessoas vão começando a fazer exatamente por conta da experiência. O próprio autor em nenhum momento diz que é exemplo de nada, e alerta para o fato de colocar a segurança em primeiro lugar

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