A magia de escalar à vista: Seis razões para perseguir esta prática

Um dos termos mais comuns dentro da prática de escalada em rocha é a noção de “encadenar” uma via de escalada. O termo encadenar é largamente utilizado por todos praticantes de escalada no Brasil e países hispanoparlantes e foi cunhado ao longo do tempo por todos que praticaram e desenvolveram a escalada esportiva na Europa. No Brasil alguns outros termos são usados para definir a mesma coisa, porém o ato de “encadenar” já foi internalizado por todos os praticantes de escalada esportiva.

A cadena à vista vem do inglês “on sight”, e é usado quando um escalador (a) nunca escalou uma via, e a encadena. Preferencialmente sem nenhum tipo de dica, ou sem nunca ter visto alguém tentar. É considerado por muitos como o tipo de cadena mais puro e mais valorizado. Por possui um grau de dificuldade que exige grau apurado de técnica e força. Este estilo é o tipo de ascensão mais utilizada em campeonatos de escalada.

Escalar à vista é muito diferente de escalar um projeto. Muitos se dedicam a masturbar incessantemente uma via para que, em algum momento, tenha o privilégio que a encadenou. Esta prática, diga-se, não é certa nem errada. É apenas um costume que acaba afastando as pessoas de encadenar projetos à vista e, invariavelmente, evitar de viajar e conhecer outras áreas. Ficar em um projeto de via, significa que conhecemos todos os passos, movimentos, sequências, lugar de descansos, estilo de rocha, etc. Tudo isso, entre outras coisas, nos permitem detectar, por exemplo, onde falhamos e que tipo de força e resistência é necessária para poder encadená-la.

Em contrapartida, escalar à vista, entra-se em um mundo desconhecido, mas que também nos permite descobrir novos horizontes. Permite conhecer a nós mesmos e ter um choque de realidade com a nossa própria escalada. Muitos escaladores têm medo deste tipo de conhecimento e condenam a si mesmos a ficar escalando sempre no mesmo lugar e nas mesmas vias. Abaixo estão seis razões pelas quais vale a pena começar a escalar vias à vista.

Técnica

A escalada à vista nos permite desenvolver uma técnica muito específica: o movimento dos pés. Quando se trata de escalar qualquer via, de qualquer grau, é necessário concentrar a atenção no estilo de escalada que estamos fazendo. Neste momento, quando não sabemos nada pois estamos em um lugar novo e em uma via nova, estamos de fato saindo da zona de conforto.

À medida que não tentamos previamente uma via, não sabemos que tipo de movimentos (equilíbrio, força e resistência) será demandado de nós. Mas, desta maneira, desenvolvemos a capacidade de poder enfrentar qualquer tipo de escalada. Quase de que uma forma imediata. Com a prática, os “pés começam a dançar”, como afirmam os entendidos, nos passos mais técnicos e exigentes.

Concentração

Foto: Blake McCord – https://www.mountainproject.com/

Na escalada à vista temos de prestar atenção tanto nos desafios gerais, como nos particulares, para encadenar uma via. Desde o mais pequeno detalhe, como a respiração, até mesmo mirar de maneira global a linha que estamos escalando, são processos-chave para conseguir encadenar uma via à vista.

Com o tempo, este tipo de concentração é fundamental para experimentar novos projetos e estarmos conscientes da forma que nosso corpo e mente se enfrentam nos desafios que propomos.

Solução de problemas

Quando se escala à vista, buscando encadenar uma via na primeira tentativa, não há oportunidades para falhas. Entretanto, quando mais tentamos, mais desenvolvemos a capacidade de resolver problemas. Encontrar os descansos, observar a via por partes e de maneira geral, encontrar o ritmo adequado, entre outras coisas, estão nos detalhes que temos de dominar.

Da mesma maneira que em um jogo de xadrex, que temos de ter concentração na solução de desafios que são propostos a cada movimento do adversário, na escalada é a mesma coisa. O xadrez, por ser um jogo de estratégia e tática, não envolve o elemento sorte. A escalada também deve ser encarada da mesma maneira.

Repertorio

 

Por definição, repertório é a disposição de assuntos em ordem que facilita encontrá-los. Mas na escalada, o que vem a ser repertório? É todo conhecimento armazenado, que modifica e confirma a postura e a atitude de um (a) escalador (a). Esse conhecimento é proveniente de suas experiências, ou seja, tudo aquilo que essa pessoa viu (e ainda vê), aprendeu (e ainda aprende) e conhece dentro do seu meio e da sua cultura. O repertório está em constante construção.

Portanto, quanto mais escalar à vista, mais irá gerando um repertório de movimentos que, no esporte, se traduz como a memória corporal e muscular. Isso beneficia imensamente depois que nosso corpo sabe de forma quase automática como resolver os passos.

Sair da zona de conforto

Zona de conforto é uma série de ações, pensamentos e/ou comportamentos que uma pessoa está acostumada a ter e que não causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Todos tendem a fazer exatamente aquilo que não cause medo ou ansiedade, por motivos óbvios.

Na escalada à vista acontece o mesmo que na escalada de algum projeto: nas duas queremos superar o nosso grau máximo escalado. A diferença é que quando estamos em um projeto, com o tempo sabemos onde caímos, onde podemos descansar, quais partes são mais difíceis, etc.

Já na escalada à vista existe a possibilidade de cair ou “vacar”, nos convidando a superar nossos medos e bloqueios mentais.

Conhecer os próprios limites

Via “De Mão Beijada” – 7a | Foto: Acervo Pessoal Jordana Agapito

Para qual escalador não é importante conhecer seus próprios limites? Pois na escalada à vista, conhecemos o nível de limite físico e mental que antes era desconhecido. Com o tempo, quanto mais se pratica este tipo de escalada, mais os horizontes se abrem. tanto em grau de dificuldade escalado, quanto em estilo de treinamento e estilo de vida.

A vida também é assim. Há pessoas que não se acomodam em sua condição presente e continuam multiplicando seus vários lados indefinidamente.

Tradução autorizada: https://freeman.com.mx

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